Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA
Rejane Soares, conhecida ativista das causas da negritude amapaense, está em pleno processo de dar a volta por cima. Após um Acidente Vascular Cerebral (AVC) sofrido em setembro de 2020, e em meio ao medo e a angústia de ficar com sequelas, aos 43 anos, ela fez o que vida lhe obrigou tantas vezes: reinventou-se.
A estilista, designer e costureira, irá lançar pela sua marca, a Zwanga, uma nova coleção totalmente autoral, com um tema que lhe é bastante íntimo. A coleção “Aya” – símbolo africano do povo Acã relacionado à perseverança e à luta contra a opressão – será apresentada às 19h deste domingo (25), no Sebrae, Bairro do Laguinho, área central de Macapá.
Aya tem ao todo 50 peças, sendo 10 consideradas pela estilista como “conceituais”. Trata-se de um trabalho cheio de cores vivas e de cortes ousados, com a cara e o jeito do público alvo que Rejane pensou para a coleção.
Toda produção tem toques artísticos, artesanais, feitos com carinho e em pleno processo de recuperação de Rejane.
Dentre as novidades, ela contou que serão 40 mulheres negras as modelos escolhidas, “moda feita de gente real para gente real”, sem as amarras e imposições dos chamados padrões estéticos, explica.
A estilista falou sobre isso e muito mais ao Portal SelesNafes.com, a quem muito gentilmente enviou algumas imagens – alguns spoilers – do que será apresentado na passarela no lançamento deste final de semana.
Acompanhe a entrevista.
Como surgiu essa coleção no teu processo de recuperação do AVC?
Iniciei meu trabalho em novembro, depois do AVC, que foi em setembro. Eu não podia fazer muita coisa, porque o meu lado direito ficou todo paralisado. Mas, aí, comecei a rabiscar os modelos, as ideias, a desenhar o que eu queria na nova coleção. Essa é a primeira coleção que vou lançar em um evento exclusivo da Zwanga, pois sempre participei de eventos coletivos. Durante essa recuperação, que ainda estou no processo, decidi fazer algo com minha identidade do início ao fim.
E o teu psicológico nisso tudo?
Uma das coisas que senti após o AVC era como se eu estivesse toda despedaçada, medo de não voltar a mexer o corpo por completo, medo de não andar, de ficar na cadeira de rodas, e um dia disse para mim mesma: “vai juntar teus pedaços e fazer uma obra de arte e vai dar a volta por cima”. É nessa essência que vão os 10 looks levemente conceituais, feitos de retalhos nas cores da resistência que dão o nome para a coleção “Aya, vestindo mulheres com nossas histórias”.
E o desfile e a comercialização?
Vamos comercializar no nosso espaço que vai inaugurar no Macapá Shopping, em um espaço em parceria com o shopping dentro de uma loja que já existe. Vamos ter um cantinho lá por volta do dia 28 de julho. O tecido, a mão de obra, energia, tudo isso influencia no preço final da peça artesanal, mas os preços estão muito acessíveis.
E o sentimento, agora que está chegando perto do dia do lançamento?
Já imaginou uma coisa? A gente pega mulher que nunca pisou na passarela, mulher que tem mais de 40, mulher que tem mais de 50, temos uma equipe que trabalha com psicólogos, depois a gente vai pra aula de passarela, vai pra maquiagem até chegar no último dia. Tem mulher que nunca usou salto alto, que nunca usou maquiagem e quando passa por esse processo faz uma mudança na vida.
Saí do movimento negro organizado e não tenho sentido falta, até porque dentro da Zwanga é possível se fazer um trabalho social lindo de resgate da identidade e da autoestima. São 40 mulheres pretas, cada uma se recuperando de algo, indo para a passarela cheias de força após momentos delicados como o meu, e vamos sair juntas mostrando para outras que dar a volta por cima é real, não importa a mulher que você seja. Imagina uma marca que leva a mulher gorda, preta, baixa, peito mole, bunda com celulite, perna fina, grossa, linda e quebra o padrão da moda e impõe o real? Tem movimento melhor?