No Amapá, esquema pode ter fraudado mais de 500 CNHs

Seis pessoas foram presas, uma em Santa Catarina e cinco no Amapá.
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Por ANDRÉ SILVA

A Polícia Civil do Amapá desarticulou, na manhã desta segunda-feira (26), uma quadrilha que falsificava carteiras de habilitação e as enviava para vários estados do Brasil pelos Correios. O esquema era conduzido por um criminoso que vivia em Balneário Camboriú (SC). Ele foi preso em um apartamento de luxo avaliado em R$ 2 milhões.

Outras cinco pessoas também foram presas, entre elas, uma ex-servidora do Departamento Estadual de Trânsito do Amapá (Detran), dois despachantes e uma servidora dos Correios.

Segundo a polícia, que não revelou nenhum dos nomes dos envolvidos, a ação de hoje é um desdobramento da Operação Carta Fria, ocorrida em dezembro de 2020.

Presos foram levados para prestar depoimento…

.. para exames de corpo de delito e, em seguida, para penitenciária. Fotos: Ascom/PC

O esquema

De acordo com a polícia, os presos formavam uma quadrilha responsável por um refinado esquema de fraude. Considerado o líder do bando, o homem preso no Sul já respondeu por crimes semelhantes na cidade de São Paulo, em 2013.

Segundo a polícia, chefe da organização conheceu um despachante por telefone, enquanto ambos estavam presos, ele em São Paulo e o despachante no Amapá.

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No Amapá, ele também teria cooptado a servidora do Detran – exonerada em dezembro de 2020 – e uma servidora dos Correios. Em seguida, outro despachante que também vive no estado entrou para o esquema.

O delegado Estefano Santos, que preside o inquérito policial sobre o caso, explicou que pessoas reprovadas nos exames do Detran – e foragidos da Justiça – entravam em contato com o líder, que cobrava entre R$ 3mil a R$ 30 mil por uma habilitação.

Para as pessoas que não podiam pagar o valor total, o criminoso chegava a montar consórcios o que possibilitava que a fraude fosse paga de forma parcelada.

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“Ele chegava a fazer o denominado Consórcio de CNHs. Emitia um talão com diversos boletos e as pessoas pagavam de forma parcelada seu documento”, explicou o delegado.

Depois que o líder negociava o valor e a forma de pagamento, os despachantes entravam em contato com a então servidora do Detran, que tinha acesso ao sistema Renach, responsável pela emissão das carteiras. Ela tinha a função de chefia dentro do órgão, o que facilitava o esquema sem levantar suspeitas.

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Ela, então, inseria essas pessoas no sistema como se elas fossem estrangeiras – o que aumentava o valor do documento fraudado. Segundo o diretor do Detran, Inácio Maciel, para a pessoa emitir uma CNH dessa categoria é necessário passar por um rito criterioso.

“Tem que ter uma tradução juramentada, a pessoa tem que apresentar passaporte, tem que apresentar documento do exterior, ou seja, tem todo um rito e ela burlava todo esse procedimento. Um procedimento como messe leva de três a quatro dias de forma célere, mas teve procedimento que lá chegou a fazer em três horas durante a madrugada”, detalhou o diretor.

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Com o documento em mãos, a servidora do Detran o entregava ao despachante, que os enviava para a servidora dos Correios no Amapá. Assim, a CNH era enviada para vários lugares do país, como em Goiás, Mato Grosso, São Paulo e Rio de Janeiro. Por isto, a funcionária dos Correios tinha um papel primordial na organização criminosa.

“Ela recebia parte dos valores. Conseguimos comprovar que eram frequentes os depósitos em sua conta, tanto por parte desse cooptado quanto por parte dos despachantes clandestinos. Além de fazer o envio dos documentos, ela gerenciava parte das finanças da organização”, explicou o delegado.

Inácio Maciel, diretor do Detran. Foto: André Silva

Só em 2020, foram emitidos 75 documentos fraudados. Mas o esquema pode ser maior, pois a investigação descobriu que de 2015 a 2020, foram emitidas 445 carteiras para estrangeiros.

Inácio Maciel adiantou que as pessoas que obtiveram as carteiras de forma fraudulenta terão os documentos cancelados, e, juntamente com os integrantes da quadrilha, podem responder pelos crimes de falsidade ideológica, corrupção ativa e passiva.

Seles Nafes
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