Por RODRIGO ÍNDIO
O mistério sobre a morte da pequena Tamires da Silva, de 2 anos, que deu entrada em estado grave e faleceu na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Zona Sul de Macapá, no dia 4 de agosto, teve uma reviravolta.
O caso foi investigado pela Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Contra a Criança e o Adolescente (Dercca). Para a polícia, tudo está desvendado.
Ao contrário do que muitos especulavam nas redes sociais, a mãe e a tia da criança não tiveram nada a ver com o falecimento. Já o pai e um médico foram indiciados por homicídio culposo.
De acordo com o delegado Ronaldo Entringe, da Dercca, a investigação apontou que antes da menina dar entrada na unidade, a mãe levou-a ao Pronto de Atendimento Infantil (PAI), no Centro da cidade. Como lá demorou a ser atendida, ela seguiu com a filha para a Unidade Básica de Saúde (UBS) do Bairro Congós, que fica bem próximo da UPA Zona Sul.
“Lá [na UBS Congós] o médico receitou apenas uma medicação via oral, quando deveria ter determinado a internação e ministrado medicamento via intravenosa para o resultado ser mais eficaz e rápido na recuperação da criança. Essa criança foi pra casa, a mãe comprou medicamento, mas quando chegou à noite, estava extremamente debilitada e a mãe, preocupada, levou até a UPA e, lá, a equipe de saúde tentou reanimar a criança, mas não conseguiu e ela veio a óbito”, detalhou o delegado.
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Criança morreu na UPA da Zona Sul. Foto: Arquivo/SN
O inquérito apontou, ainda, que menina estava há dias sob a responsabilidade do pai, Adilson do Socorro Tavares Saraiva, que tinha a guarda compartilhada com a mãe. Quando a genitora foi buscar a criança, percebeu os hematomas na boca e no pescoço da filha, por isso, foi atrás de ajuda médica, segundo a polícia.
“Em depoimento, o pai confirmou que a criança estava com ele há dez dias [mesmo período que ela passou a apresentar os sintomas]. Ele afirmou que a causa da morte teria sido a queda de uma escada lá da casa dele. Iniciamos a investigação e o médico da UPA zona sul que viu as lesões chegou à conclusão que a criança tinha síndrome da pele escaldada [complicação de uma infecção cutânea por estafilococos, na qual a pele forma uma bolha e descasca, como se tivesse sido queimada. Além da pele que se solta, a pessoa sente febre, calafrios e fraqueza]”, acrescentou Entringe.
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Lesões foram observadas…
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… no corpo da vítima, mas…
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… o delegado Ronaldo descartou a possibilidade de agressão da criança
O laudo de exame de corpo de delito necroscópico apontou hemorragia no coração como causa morte da criança.
“Por conta disso determinei o indiciamento do pai por homicídio culposo, quando deveria ter as precauções logo que a criança começou a ficar doente e em relação ao médico [da UBS Congós] também que poderia ter determinado a internação e não fez isso, que teria salvo a criança. Houve dois indiciamentos, o inquérito foi concluído e vamos remeter à Justiça para que o Mistério Público faça seu papel”, finalizou Ronaldo Entringe.
Ele descartou a possibilidade de agressão da criança, como foi especulado. O médico Thiago Leite Saraiva [da UBS Congós] indiciado por negligência, permaneceu em silêncio durante seu depoimento.