Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA
Psicopatas estão entre nós. A afirmação é forte, mas é o que garante o professor do curso de jornalismo da Unifap, Ivan Carlo, premiado roteirista de histórias em quadrinhos e um dos autores do livro “Psicopatas, na vida real e ficção”.
Sob o pseudônimo de Gian Danton, ele juntou-se ao também jornalista e pesquisador de cultura pop Jefferson Nunes para escrever sobre o tema.
Os dois acabam de incluir a obra em um site de financiamento coletivo e planejam seu lançamento para março de 2022. O link pode ser acessado clicando aqui.
O Portal SelesNafes.com conversou com o autor sobre a concepção da obra. Gian Danton não recusou-se a dar alguns spoillers. Confira a entrevista.
Por que você escolheu escrever um livro sobre psicopatas?
O livro surgiu de uma experiência pessoal. No ano de 2003, eu fui vítima de um psicopata. Não era um psicopata assassino. Geralmente, quando você fala em psicopata, as pessoas pensam nos assassinos. Mas era um golpista. No mesmo período, eu assinava a revista Época e saiu uma matéria sobre psicopatas, e, eu lendo as características, item a item, de repente, eu percebi que tinha convivido com um psicopata durante dois anos, na minha casa, então, isso foi um impacto muito grande pra mim. Outra coisa que foi um impacto muito grande foi porque que eu tentei avisar outras pessoas, os amigos em comum, o que tinha acontecido e tal… e todo mundo foi, impressionante, todo mundo que eu tentava avisar, ninguém me dava ouvidos, porque a capacidade de convencimento do psicopata é uma coisa absurda. Você pode estar falando a verdade, com todos os dados, todas as informações, provas, e ele estar falando a coisa mais absurda do mundo e a pessoa só acredita no que ele está falando. Inclusive, alguns que eram amigos em comum deixaram de ser amigos por conta disso, porque eu estava difamando a pessoa.
Posteriormente, todas as pessoas que eu tentei avisar, em algum momento vieram comigo, me procuraram e disseram que tinham sido vítimas dele. Isso foi algo que também chamou muito a atenção. A capacidade de convencimento. Aí começou surgir a ideia de fazer um livro sobre o assunto.
Recentemente, fui convidado para palestrar em um congresso chamado “Mentes Criminosas”, para palestrar sobre psicopatas, aí, surgiu a ideia de trazer o livro de volta.
Os psicopatas estão mesmo “entre nós”?
Exatamente, os psicopatas estão entre nós. Existem várias pesquisas, com números diferentes, mas a maioria dos autores concorda que 1% da população é psicopata. Não significa que 1% da população é assassina, tem que diferenciar, o psicopata não é necessariamente um assassino, mas eles estão entre nós. Eu costumo dizer, inclusive, que se você tem 100 amigos, 100 conhecidos, um deles é psicopata, a chance de um deles, pelo menos, ser psicopata, é muito grande, e, provavelmente, é a pessoa que você menos desconfia.
O psicopata tem uma característica que é a chamada máscara social, máscara de sanidade. O primeiro livro que falou realmente de psicopatas como a gente conhece hoje, porque já existia a palavra, mas ela tinha outro sentido, o primeiro livro é publicado na década de 40 [1940] e é “Máscara da sanidade”. Eu acho perfeito esse título. Ele resume muito bem o que é o psicopata, ele parece uma pessoa não só normal, parece uma pessoa encantadora. É uma pessoa extremamente simpática, uma pessoa que tem um charme superficial, uma capacidade de convencimento, mas por trás disso, se esconde um monstro.
Qual “spoiler” pode ser dado? Por exemplo, na música, filmes ou realidade?
Olha, são muitos exemplos. O livro é dividido em três partes. Na primeira, eu explico o que é psicopata, como identificar, o psicopata no local de trabalho, no ambiente de trabalho, que é coisa muito importante. Às vezes, você pode estar ali e teu melhor do teu trabalho pode ser psicopata e ele pode estar te usando, porque o psicopata não tem relação afetiva, não tem pai, não tem mãe, não tem amigo, não tem tio, não tem nada. Ele só usa as pessoas. Este primeiro capítulo é falando de forma geral sobre psicopata, o que é psicopatia, como a questão fisiológica mesmo, de como surge o termo psicopatia, o perfil do psicopata. O segundo capítulo é focado nos famosões, geralmente os assassinos em série. Aí vai ter um braço também com a cultura pop, porque grandes parte desses aí têm filmes baseados neles, o Ed Gein, por exemplo, que deu origem ao [filme] Silêncio dos Inocentes, que deu origem ao [fime] Psicose, e o terceiro capítulo é sobre a cultura pop, mas, de certa forma, o segundo e o terceiro se comunicam muito.
O quanto há de realidade e o quanto há de ficção no livro? Em qual gênero você o classificaria?
É, a classificação do livro fica um pouquinho complicada. Eu classificaria como jornalismo de divulgação científica, porque, inclusive, foi a minha área de pesquisa no mestrado, de como pegar aquelas informações muito técnicas e repassar para uma linguagem que todo mundo entendesse. Então, um pouco da ideia do livro é essa: de pegar conhecimentos que são muito específicos da psicologia e repassá-los numa forma textual que seja simples de ser entendida.
Os quadrinhos, que são uma clara influência do autor, como estão localizados na obra?
Os quadrinhos estão no terceiro capítulo, uma geralzona que vai desde “O Monstro do Pântano”, “Sandman”, que acredito que foram os primeiros a falarem de psicopatas nos quadrinhos. Na década de 70 [1970] era muito comum ter psicótico sendo mostrado como psicopata, porque o psicótico é o “doido”, que de repente vai e mata alguém. O psicopata, não. Ele não é doido, ele é uma pessoa que tem um desvio de personalidade, e o Monstro do Pântano é um dos primeiros a mostrar assim. Mas, a gente fala muito, de quadrinhos, séries, filmes.
Qual a previsão de lançamento e como funciona o financiamento coletivo?
Olha, a previsão de lançamento é em março do ano que vem. O Catarse é um site de financiamento coletivo. Como é que funciona: eu quero fazer uma determinada obra, aí, eu coloco no site, as pessoas que estão interessadas naquela obra – ‘ah, eu gostaria que isso existisse, que esse filme fosse realizado, que esse livro fosse publicado’ –, elas vão lá e financiam. Como se fosse uma espécie de pré-venda. Você me ajuda a publicar e, em compensação, você consegue o livro em um valor bem mais baixo do que será vendido no mercado.