Por GEORGE TORK, advogado do ex-deputado Edinho Duarte
É fato consumado que em qualquer jogo dependente da subjetividade interpretativa de um julgador, sempre haverá espaços para dúvidas quanto a possibilidade de favorecimento de um dos competidores.
Essa dúvida, inclusive, está enraizada nas emoções sentidas por quem acompanha as partidas, pois aquele que perde ou está próximo de perder, sempre estará propenso a transferir a culpa pelos seus erros a um terceiro, pois é natureza humana não reconhecer ou sequer admitir a autoria de atitude que tenha levado a consequência desastrosa.
Este fato não incomoda no decorrer, tampouco ao final do jogo. Entretanto, o problema ocorre quando um dos competidores, ainda que lastreado por natural favoritismo, pois time da casa, de maior torcida, ainda assim, encontra na artimanha o caminho para a vitória.
No jogo que está sendo jogado, também é verdade que o time A goleou, apenas não foi no primeiro tempo, e sim no primeiro jogo, em estádio diferente, com juiz diferente, torcida a favor, parecendo jogar em casa, o seu campeonato, com as regras por si editadas, não se importando com qualquer norma que pudesse atrapalhar sua vitória, eis que, como diz o malfadado ditado: “Meu jogo, minhas regras.”.
Aparentemente, só não contava o time A, temporariamente vencedor, com a partida de volta, em que o time B, como perceptível, ganhou reforço, tanto moralmente quanto de novos jogadores, que empolgaram a todos fazendo valer o bom futebol, utilizando ainda, diga-se, das regras que foram ignoradas pelo time A no primeiro jogo em casa, para trazer a partida para dentro do campo, com lealdade, como deve ser, passando a jogar o time B muito melhor que seu adversário, reequilibrando a partida e conseguindo manter, ao menos por hora, a competitividade afastada pelo time A no primeiro jogo da competição.
Obviamente em um cenário de empate, prevalecerá aquele que momentaneamente joga melhor, respeitando as regras, fazendo valer o regulamento vigente, como já citado, com lealdade, respeito e sobretudo sendo melhor onde realmente importa, dentro de campo.
As reclamações do time A acerca de ilusório favorecimento do árbitro ao time B, exemplo do que já fora frisado, não passam de desculpa para encobrir seu próprio mal jogo, sobretudo pelo fato de que o juiz entendeu que é melhor que seja resolvido no campo, em detrimento às intervenções externas, como outrora.
Tampouco é legítima a tentativa do time A de convencer sua torcida, hoje não tão grande, a tentar, como última cartada, um apoio improvável, pois a exemplo do que sempre acontece, o bom futebol convence, encanta, apaixona, corrige o curso dos sentimentos e sempre leva o melhor time à merecida vitória.
Hoje a torcida, de modo geral, não escala jogador, não avalia lances, não favorece time algum, não fazendo papel de técnico ou de VAR, muito por não precisar, pois o bom jogo demonstrado pelo time B convenceu de que era ilusório o apoio a um time que, ao invés de ganhar no campo, procurou atalhos que o levaram inicialmente e temporariamente a uma vitória, entretanto, que não se mantém quando o assunto é futebol de verdade.
Enfim, por abstrato, não há time a favor da corrupção, ambos procuram de forma equilibrada discuti-la, mas obviamente, favorecido será aquele que levar em consideração as regras existentes e impostas pelo estado democrático de direito, pois vencer um jogo no famoso tapetão não define quem, de fato, é o melhor competidor.
George Tork é especialista em Direito Tributário e especializando em Penal