Jovem que só tinha manga para almoçar se torna advogado e ajuda carentes

Morador de palafita em área de ressaca de Macapá, Eliel da Silva Maciel é dono de uma história inspiradora.
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Por RODRIGO ÍNDIO

Superar as barreiras do preconceito, conquistando seus direitos, persistindo em seus sonhos e mostrando ao mundo seu potencial, independentemente, das ‘limitações sociais’. Assim, é a trajetória do advogado Eliel da Silva Maciel, de 29 anos, dono de uma história inspiradora.

Ele é um dos três filhos de uma agricultora e um mototaxista. É de origem humilde, de uma área de palafitas próximo à Ponte do Coqueiro, no Bairro Buritizal, zona sul de Macapá, onde mora até hoje. O local já foi muito conhecido por ser um reduto do tráfico de drogas.

Nas lembranças que marcaram sua vida, guarda na memória que quando tinha 10 anos, presenciava diversas situações em sua comunidade, não só de crimes, mas de pessoas carentes que precisavam de orientação jurídica, mas não tinham condições de arcar. Foi ali que surgiu o sonho da advocacia.

Entretanto, o caminho a percorrer seria longo. Às vezes, a família não tinha sequer o que comer. Seu pai, hoje ex-pedreiro, sempre fazia o máximo de esforço para não faltar alimento na mesa. Mas, com a chegada das chuvas, os ‘bicos’ nas construções simplesmente paravam. O jeito era pegar um saco de sarrapilha e colher mangas pela rua. Este era o alimento diário da família.

Ele não deseja sair de sua casa …

… na área de ressaca, onde…

… montou seu escritório de advocacia. Fotos: Rodrigo Índio

“A gente comia manga com farinha no jantar, manga no almoço, manga no café, até meu pai providenciar algo melhor pra gente comer. Todas às vezes no inverno isso acontecia. Também quando ele comprava frango, cortava e guardava as peles, quando acabava a carne do frango, a gente extraia o óleo da pele, fazia farofa e comia. Saciava a fome. Passávamos dificuldades, mas estávamos unidos”, recorda.

Eliel seguiu estudando em escola pública. Passou boa parte da vida sofrendo preconceito por ter lábio leporino [uma fenda no lábio superior que se pode prolongar até ao nariz]. Mas ele não se deixou abalar, pois tinha um objetivo e sempre foi dedicado em aprender.

Após concluir o ensino médio, entrou na faculdade de Direito, em 2013, através do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), e, claro, contou com a ajuda dos pais. Como sempre, o caminho não foi fácil. Tinham dias que ia e voltava andando no percurso entre o Novo Buritizal e a Lagoa dos Índios para cursar. Após 5 anos, concluiu.

Eliel sofreu preconceito por ter lábio leporino

Em 2019, o bacharel fez a prova do Exame de Ordem Unificado (Prova da OAB). Passou de primeira. Agora, o advogado Eliel Silva oferece serviços nas áreas criminal, civil, direito agrário, previdenciário e crédito rural. Atende pessoas de sua comunidade gratuitamente.

“A ausência do poder público dentro da área de ressaca foi o que também me fez buscar conhecer o Direito, ou seja, tem gente que, às vezes, está precisando de um remédio que o poder público não fornece e eu, conhecendo o direito, às vezes, faço a ‘advocacia pro bono’, que a pessoa não paga nada. Muitas vezes as pessoas vêm na minha casa que é na ponte. Os próprios vizinhos, às vezes, me procuram para receber orientação e apoio. Faço com maior prazer”, detalhou.

Eliel nunca para de estudar na casa onde foi criado e não pretende deixar

Aconchegante escritório para atender a comunidade da área de pontes

O advogado pretende oferecer uma vida melhor para seus pais e seu filho de 3 anos com o fruto de seu trabalho. Contudo, não deseja sair de sua casa na área de ressaca. Tem orgulho de suas origens e de viver ali. É lá que montou seu aconchegante escritório. Eliel quer inspirar pessoas com sua trajetória.

“A ponte é minha rua, e área de ressaca é meu quintal. A criminalidade onde eu moro não me impediu de seguir meu sonho. Se a pessoa tiver força de vontade de vencer, ela vence, com o apoio de Deus. Quero motivar as pessoas que moram na área de ressaca, que estão nas mesmas condições que eu estava, e, também sonham, não se deixem abater, estudem e trabalhem, é o melhor caminho”, orientou.

Eliel Maciel: “A ponte é minha rua, e área de ressaca é meu quintal”

Eliel Maciel também é concurseiro. Passou para policial penal do Instituto de Administração Penitenciária do Amapá (Iapen) e aguarda a convocação.

Quem tiver interesse em contratar os serviços de advocacia dele ou conhecer mais um pouco de seu trabalho, pode entrar em contato com o número (96) 9 9196-0430 [Ligação/WhatsApp] ou ir até seu escritório na Travessa Fortunato Peres, n° 867 – Novo Buritizal.

Seles Nafes
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