Açaí do Bailique se destaca na produção da Amazônia

Produtores compreenderam a melhor maneira de manejar os açaizais
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Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA

O açaí do arquipélago do Bailique, comunidade localizada a 12 horas de barco da sede de Macapá, na foz do Rio Amazonas, é o primeiro do mundo a ganhar um certificado de “cadeia de custódia”. Esse certificado (concedido pela Forest Stewardship Council) é o que garante que o comprador, em qualquer lugar do planeta, tenha a certeza que a produção do açaí do Bailique envolve boas práticas ambientais e sociais.

Há pelo menos duas décadas, o açaí, alimento tradicional e diário da mesa do amapaense e dos ribeirinhos, está fazendo um enorme sucesso em todo o Brasil e no mundo. Os Estados Unidos, Japão, China e União Europeia estão entre os principais compradores. No entanto, todo este sucesso também carrega consigo contradições e desafios.

Por exemplo, em muitas áreas da Amazônia, especialmente dos maiores produtores (Pará e Amazonas), já tem ocorrido a monocultura do açaí, o que faz o fruto perder a qualidade, sabor, dentre outros impactos ambientais e suas consequências sociais.

Do Bailique, através da Cooperativa dos Produtores Agroextrativistas do Bailique e Beira Amazonas (Amazonbai) vem o melhor exemplo de boas práticas: o açaí nativo é manejado, com respeito ao ecossistema, e certificado.

Os cooperados explicam que é necessário manter o açaí junto com todas as outras árvores, perto dos animais, com a troca, a riqueza e a polinização característicos das nossas áreas de várzea, de matas alagadas de beira de rios. Eles explicam que são 20 anos de muito trabalho de conscientização para chegar onde estão.

“Somos considerados um dos melhores açaí da Amazônia porque, além de todo esse trabalho de qualidade que a gente tenta garantir, também temos o trabalho das comunidades que iniciam lá nos açaizais. É um produto de área que não tem desmatamento, que tem conservação da floresta em pé e tem um diferencial que garante tudo isso que são as certificações”, declarou Amiraldo Enuns de Lima Picanço, de 35 anos, presidente da Amazonbai.

Cooperativa foi a primeira a receber certificado FSC para cadeia de custódia.. Fotos: Amazonbai

Má fama

Amiraldo conta que o açaí do Bailique já teve grande má fama em Macapá, sendo considerado um dos piores. Não porque o fruto colhido fosse de má qualidade, mas porque, como é altamente perecível, o fruto chegava na sede da capital, após um péssimo armazenamento e o transporte com água e calor pelos barcos no Amazonas, já muito desgastados.

Agora a Amazonbai tem uma embarcação com frigorífico e compra dos produtores, para depois trazer o fruto para beneficiamento na agroindústria. Tudo isto tem sido conquistado com o esforço da comunidade, com parcerias com instituições como o Imaflora e Embrapa.

Produto do Bailique tem alto valor agregado pela boas práticas de produção.

Em tempos de conferências sobre o clima e todo o debate acerca do desmatamento da Amazônia, a cooperativa está bastante conectada com os anseios dos mercados modernos, cada vez mais fechados ao plantation monocultor, visto cada vez mais como atrasado, obsoleto e anacrônico, especialmente em relação aos mercados internacionais.

“Por isso a Amazonbai investe no manejo de mínimo impaco em nos açaizais de seus cooperados. Para os produtores, esse é o modelo que vai garantir um açaí de qualidade para os consumidores, proporcionar bem-estar para os moradores do territórios e conservar o ecossistema.

“Nós acreditamos que esse é um modelo de desenvolvimento para a nossa região, principalmente para a cadeia produtiva do açaí, porque nós temos histórico aqui e nos estados do Pará e Amazonas de áreas nativas que estão sendo transformadas em monocultura de açaí. Isso é um risco para o desenvolvimento e conservação da nossa Amazônia, pois descaracteriza o ambiente”, finalizou Amiraldo.

Seles Nafes
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