Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA
O aparecimento de peixes mortos em grande quantidade, em dois igarapés ligados ao Rio Amapari, na região oeste do Amapá, está sendo investigado por autoridades do município de Pedra Branca do Amapari, município a 189 km de Macapá. Para o secretário municipal de Meio Ambiente, Raphael Santana Araújo, a mortandade de peixes pode estar relacionada a um possível vazamento de cianeto.
No fim de semana, ribeirinhos das comunidades Xivete e Silvestre, a 20 minutos de voadeira da sede da cidade, surpreenderam-se com uma quantidade muito grande de peixes mortos na superfície do rio.
“Como o igarapé deságua no Rio Amapari, aí as famílias do rio também acabam sendo atingidas e também nosso abastecimento de água, porque a capta água do Rio Amapari. Sobre o motivo da mortandade, a gente acha que é o cianeto, mas a gente não sabe qual é a origem. A gente está investigando agora junto com a equipe de governo, Lacen, Sema, vários órgãos do governo, defesa civil também para ajudar”, declarou secretário.
O cianeto é um composto químico que é utilizado em diversas atividades econômicas, como na indústria, agronegócio e também na mineração. A Mina Tucano, que extrai ouro na região, está sendo apontada pelos ribeirinhos como a responsável por possíveis vazamentos que teriam levado ao problema.
A Secretaria de Saúde de Pedra Branca orientou que a população não consuma peixes e água da rede pública de abastecimento, que capta água do Amapari. A prefeitura está realizando a distribuição de água potável e mineral para a população.
“Que por uma questão de proteção e prevenção, vocês desliguem o registro da água que abastece a casa de vocês e procurem consumir água do poço até se resolver essa questão. Fala-se em um produto chamado cianeto, e se for, se confirmar, é um produto extremamente agressivo ao meio ambiente e ao ser humano”, orientou Claudia Pimentel, secretária de saúde de Pedra Branca.
Crise
João Barbosa Santana, um dos moradores da comunidade mais afetada até o momento, contou para a sua neta, Loyanna Santana, via áudio, sobre a situação que estão enfrentando. Loyanna encaminhou a mensagem ao Portal SN.
“Loyanna, e agora, bom dia! O que que está acontecendo com nós: a carne está cara, o peixe contaminado, o nosso rio está poluído que eu não posso nem lavar a mão dentro da água dele porque os peixes que tinham dentro do igarapé do Silvestre onde era o terreno do teu pai, não tem nem um peixe vivo. Até os poraquês, cobra, que estavam na água, morreu tudo. Estão dizendo que deve ter sido cianeto que derramou da mineradora pro Silvestre. Essa noite vieram trazer água aqui pra mim e me recomendaram nem pisar na água do rio. E agora, minha filha, como é que eu vou viver? Eu vou ter que comer minhas galinhas tudinho, carneiro, até chegar pra nós isso aí, porque eu não vou pra água, não”, declarou o morador antigo da região.
Loyanna está aflita com a situação da comunidade onde nasceu e foi criada. Ela contou que boa parte dos moradores da região vive ou vivia da pesca, e que estão todos muito preocupados com a situação.
O Governo do Estado do Amapá enviou equipes da Defesa Civil, Secretaria de Meio Ambiente (Sema), Superintendência de Vigilância em Saúde (SVS) e da Seretaria de Inclusão e Mobilização Social (Sims) para acompanhar a situação. Pela SVS, técnicos do laboratório central já realizaram coleta de amostras da água e dos peixes mortos, para se chegar à conclusão do que levou à mortandade.
Mina Tucano
O Portal SelesNafes.Com entrou em contato com a empresa Mina Tucano, questionando se ocorreu algum tipo de vazamento, se a empresa utiliza cianeto e com qual finalidade; e quais medidas a empresa está adotando. No entanto, a Mina Tucano enviou uma nota curta sem responder, especificamente, às questões levantadas. Reproduzimos a nota na íntegra.
“Em 28 de novembro, a Mina Tucano tomou conhecimento sobre uma possível situação de mortandade de peixes no Igarapé Xivete. Desde então, a empresa procura apurar o ocorrido e contribuir com as autoridades e as comunidades para avaliações”.