Por CLÉCIO LUÍS, ex-prefeito de Macapá
Escrever sobre o Aniversário de Macapá é revisitar minha própria história. Não porque fui prefeito da Capital do Meio do Mundo, mas porque foi aqui que cresci, criei raiz e escolhi viver com minha família.
Na nossa cidade, estudei Geografia pela Universidade Federal do Amapá, fui comerciante, produtor cultural, Policial Civil e professor da Rede Pública de Ensino. Um aprendizado que levarei para o resto da vida.
Sou entranhado da cultura local. Sou apaixonado pela Música Popular Amapaense, os sabores marcantes da nossa culinária, as rodas de Marabaixo, o nosso jeito de falar, o pôr do sol do Curiaú e a imensidão deste rio que nos abraça de segunda a segunda. Sou grato em morar na esquina do rio mais belo, com a linha do equador, como diz a poesia de Fernando Canto, musicada por Zé Miguel.
Nos últimos anos, vivemos um período trágico com a pandemia. As notas do teclado do professor Edilson, a bateria de Fábio Mont’Alverne, nosso querido “Rato”, a voz do sambista e radialista Ivo Canutti, o sopro do trompetista Siney Sabóia e a sonorização do Natalino nos eventos culturais ficaram na nossa memória e enriquecem o nosso vasto patrimônio imaterial. E assim como eles, mais de mil macapaenses perderam a vida para o coronavírus. A todos, o meu máximo respeito. E aos familiares que ficaram, meu afetuoso abraço de solidariedade.
Você deve estar se perguntando porque estou falando de queridos amigos que se foram em um texto que tem por objetivo homenagear a cidade. A resposta é simples: a cidade é feita por pessoas. Cada um carrega um pouquinho dela em seu DNA. A cidade é uma espécie de organismo vivo onde tudo se encaixa e nos faz ser quem a gente é. Ela também carrega irremediavelmente um pouco de todos nós.
Para minha felicidade, a vida e os macapaenses me deram a oportunidade de retribuir um pouco de todo o bem que Macapá me faz. Fui prefeito por dois mandatos. Oito anos de gestão. Com uma equipe empenhada, conseguimos realizar projetos importantes como o maior programa habitacional da história de Macapá. Os residenciais Açucena, São José e Mestre Oscar deram dignidade a 3.500 famílias que viviam em situação de vulnerabilidade.
Foi por amor a Macapá que construímos a Feira Maluca, a Feira da 13, restauramos o Mercado Central e revitalizamos mais de 80% das escolas da Rede Pública Municipal, além da construção de creches, como a emblemática Tia Chiquinha. Revitalizamos espaços de convivência como as praças Veiga Cabral e Floriano, e reabrimos, depois de 20 anos, o Bioparque, que nos coloca em contato direto com a natureza bem no meio da cidade.
Esse trabalho fez nossa cidade ser reconhecida em todo país. Fomos a 3ª capital onde mais se cumpriu metas de campanha, em um levantamento feito pelo G1. Realizamos mais de 85% das metas anunciadas. Nunca se fez tanto pela saúde. Ao todo, foram 69 equipamentos de saúde construídos ou revitalizados. Implementamos um grande volume de obras de pavimentação priorizando os bairros mais distantes, mas sem esquecer do centro, e ampliamos as oportunidades de esporte e lazer com a entrega do Complexo do Jandiá. E tudo isso em meio a uma recessão econômica e uma crise política, com instabilidade gerada por um impeachment.
O fato é que assumimos a prefeitura endividada, com R$ 527 milhões de orçamento e uma folha de pagamento que consumia 70% desse montante, além de 430 milhões em dívidas. A conta não fechava. Mesmo assim, conseguimos realizar projetos importantes e ainda entregar a prefeitura com R$ 1,2 bilhão de orçamento. Sem dívidas, sem salários atrasados, muito recurso em caixa e com todos os contratos para bem gerir a cidade em dia.
Contamos com uma janela de oportunidade extraordinária, aberta com a eleição do senador Davi Alcolumbre à presidência do Senado, que ajudou a viabilizar muitos recursos para obras e projetos que seguem beneficiando Macapá. E mesmo depois de passar a faixa para o atual prefeito, me sinto feliz em ver que o trabalho feito continua gerando bons frutos.
Obras que já estavam 100% concluídas e que ainda não tinham sido entregues foram inauguradas no decorrer desta gestão. Cito algumas: Quadra de Tênis na praça Nossa Senhora da Conceição, e a obra de Mobilidade do Marco Zero.
Além dessas, outras obras, como a Policlínica Dr. Papaléo Paes, que estava 98% concluída e pronta pra funcionar, o Shopping Popular com mais de 90% das obras concluídas, a Praça Pet, uma novidade para os nossos animais, a Unidade de Acolhimento, a Praça Isaac Zagury e o Binário das avenidas Cora de Carvalho e Padre Júlio, todas elas obras em estágio avançado, com mais de 70% concluídas.
Posso citar também o estádio Glicério Marques, que deixamos com as obras avançadas, os 25 km de ciclovias em plena execução, os primeiros projetos dentro do conceito de “cidades inteligentes”, a gestão da iluminação pública, que não era responsabilidade do município e fizemos questão de assumir a fim de melhorar o serviço, que na época estava com 70% dos pontos de luz apagados.
Com o olhar voltado para o futuro, construímos, em parceria com muita gente, a plataforma “Macapá 300 anos”, para planejar o crescimento organizado da nossa “casa” . Colocamos a cidade apta a receber mais recursos por está totalmente adimplente e deixamos mais de 100 obras encaminhadas, orçadas em aproximadamente R$ 300 milhões de reais, para serem executadas ainda nesta gestão. Além disso, encaminhamos a adesão ao programa de concessão do saneamento básico, que garantiu recentemente mais R$ 400 milhões diretamente no tesouro do município. Macapá precisava desse salto de investimento para sair do atraso que ficou durante anos.
A nossa obrigação, como gestor público, é fazer sempre mais por nossa cidade e pelo povo que vive nela. E fizemos tudo por amor. Por amor a Macapá.
Parabéns pelos seus 264 anos.