Por OLHO DE BOTO
Policiais civis do Amapá fizeram na manhã deste sábado (5) uma reconstituição dos fatos que antecederam o homicídio do tenente da PM Kleber dos Santos Santana, durante uma suposta briga de trânsito ocorrida no dia 25 de fevereiro, no Centro de Macapá. O autor do homicídio, o capitão da PM Joaquim Pereira da Silva, participou da simulação.
A reconstituição foi feita a pedido do delegado que investiga o caso, Luiz Carlos Gomes Júnior, da Delegacia de Homicídios. Os carros do acusado e da vítima, que morreu na hora com um tiro na cabeça, foram utilizados no procedimento. O capitão Joaquim Pereira também participou.
A reprodução simulada foi feita no exato local do crime, esquina da Avenida Cora de Carvalho com a Rua Odilardo Silva. O objetivo, segundo advogados que acompanharam o procedimento, foi esclarecer dúvidas sobre a dinâmica dos acontecimentos, e não acrescentar detalhes aos laudos periciais.
“O carro branco (do tenente Kleber) emparelhou (com a picape do capitão Joaquim), ele apontou uma arma para o capitão que tirou o pé do acelerador. Logo depois, o capitão pegou a arma dele e atirou em direção ao carro que estava mais a frente. Dois tiros pegaram no vidro lateral e dois no traseiro, sendo que um deles a gente acredita que acertou o tenente. A arma (do tenente), inclusive, estava caída nos pés dele e isso está na perícia. Se alguém te aponta uma arma no trânsito, e você é preparado, você vai reagir”, argumentou o advogado de defesa, Charlles Bordalo, que sustenta a tese de legítima defesa.
“Ele atirou para acessar a ameaça. Quando cessou, ele desceu, se abrigou atrás do carro e mandou chamar a polícia. É isso que as filmagens mostram”, acrescentou.
Execução
Já o advogado da família do tenente afirma que houve uma discussão de trânsito corriqueira, e o capitão teria perseguido a vítima até a esquina, onde sacou a arma e abriu fogo contra o tenente.
“Só há legitima defesa quando não há outra solução para o conflito. A legítima defesa é uma situação imediata e não foi este o caso dos fatos. Houve uma discussão no trânsito, a vítima estava conduzindo seu veículo e logo atrás vinha o acusado com sua arma de fogo e disparou”, garantiu o advogado Marcelo Freitas.
“Legítima defesa seria se a vítima tivesse feito o disparo ou ameaçado, o que não aconteceu. Foi uma execução, uma forma de vingança onde o acusado perseguiu a vítima e disparou por trás. O filho dele salvou-se por puro ato milagroso”, comentou o advogado Marcelino Freitas.
O delegado Luiz Carlos explicou que a reprodução foi necessária para esclarecer últimas dúvidas sobre o que teria ocorrido antes dos disparos, e que os laudos periciais serão entregues dentro do prazo.
“Conseguimos reunir os dois veículos envolvidos na ocorrência e chamamos as testemunhas posicionando elas onde disseram que estavam no momento (do crime) para saber se houve mesmo o emparelhamento dos veículos e se a vítima apontou a arma para o agressor”, disse o delegado, que prometeu concluir o inquérito ainda neste mês.
O crime ocorreu por volta das 7h10min do dia 25, no momento em que o tenente levava o filho menor para a escola. O menino presenciou a morte do pai e foi socorrido, sem ferimentos, por uma testemunha que viu a criança no interior do veículo.
O capitão fugiu do local do homicídio e se apresentou no dia seguinte, fora do período de flagrante. Após prestar depoimento, ele foi liberado para aguardar as investigações em liberdade.