‘Bandido que já vem de berço jamais será ressocializado’, diz ex-comandante da PM

Coronel Paulo Matias deixou o comando da Polícia Militar na última quarta-feira (18), após liderar a tropa por pouco mais de três anos.
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Por ANDRÉ SILVA

Policial militar por 30 anos, amapaense nascido em Macapá, no Bairro do Trem, o coronel Paulo Matias deixou o comando da Polícia Militar na última quarta-feira (18), após liderar a tropa por pouco mais de três anos.

Em entrevista ao Portal SN, contou que foi por muitos anos professor de catequese na igreja católica – ofício que anseia muito em ter de volta – mas, foi na PM do Amapá que deixou sua marca e legado.

Entre os momentos mais difíceis como comandante, ele destacou o combate à pandemia de covid-19 e lembrou que foi nesse período que perdeu muitos amigos e soldados, tanto da reserva quanto da ativa, para o vírus. Veja a entrevista:

Quais os principais avanços da PM no seu comando?

Ao longo desses três anos, frente à Polícia Mitar, não foi fácil. Foram três anos muito difíceis. Peguei o comando com uma dívida de R$ 5,3 milhões. Então, nós não tínhamos credibilidade no mercado local e nacional, então, tivemos que fazer uma reestruturação do nosso orçamento, da nossa parte administrativa e planejamento estratégico, e, assim foi feito. E com a graça do nosso Deus e com apoio do governo do estado, nós conseguimos equilibrar as nossas economias colocando as diárias, ajuda de custo, todas em dias. Entregamos prédios novos com mobílias, entregamos viaturas… Como eu falei no meu discurso, o anseio da tropa eram viaturas tipo picape 4 por 4, principalmente para o interior do estado, mas também existia uma necessidade, principalmente para as áreas de periferia na capital. Isso foi dada a atenção. No nosso planejamento estratégico, vimos também que o anseio da nossa tropa era de formação, treinamento, cursos e isso foi priorizado intensivamente dentro do meu comando. Então, acredito que dei o meu melhor para a nossa instituição e para a sociedade amapaense.

“Peguei o comando com uma dívida de R$ 5,3 milhões”. Fotos: Ascom/GEA

Qual o momento mais difícil que lembra ter enfrentado como comandante?

Foi os dois anos de pandemia. Você imagina que milhares de pessoas no mundo todo estavam sendo exterminadas por conta de um vírus. E, aqui, no estado do Amapá, não estava sendo diferente. Hospitais lotados, ambulâncias sem condições de atender toda demanda, policias da reserva e da ativa vindo a óbito por conta da pandemia e você tendo que estar na rua encarando um inimigo invisível. Aquele inimigo que não poderia ser detido com um armamento convencional, mas nós tínhamos que estar lá. Isso foi, sem dúvida, a maior dificuldade do meu comando.

Pandemia foi o momento mais difícil

O policial do Amapá é motivado?

Sem dúvida nenhuma. Hoje eu deixo a PM para a coronel Heliane, muito motivada. Mais muito mesmo. Por conta dos avanços que estão ocorrendo e que ainda irão ocorrer até o final do ano.

Como o senhor lida com segmentos que acusam a PM do Amapá de ser uma das que mais matam no Brasil?

Isso não deixa de ser o lado da oposição. Eu digo que eu inverteria essa falácia. Eu digo que é a polícia que mais defende. Por que? Porque as pessoas que estão morrendo são mal feitores. São pessoas que estão assaltando pessoas de bem da sociedade. São pessoas que estão do lado do crime ligadas a facções. Então, a Polícia Militar não vai tirar a vida de um inocente, de um pai de família, de um trabalhador. Na realidade, a PM se defende dos ataques que estão ocorrendo contra ela e defende a sociedade que vem sendo atacada diuturnamente ao longo desses três anos do meu comando. Isso não é uma realidade apenas da Polícia Militar do Amapá, é uma realidade nacional. É uma situação que, dentro de um estudo mais aprofundado, se observa a falta de gestão da área da educação, é uma falência da família, dos órgãos que deveriam estar apoiando a sociedade. Então, quando há a falência desses órgãos, não resta uma outra alternativa a não ser, o uso da força através da PM. A polícia, muitas vezes, é um mal necessário.

“As pessoas que estão morrendo são mal feitores”

Há quanto tempo o senhor está na PM?

Desde 1⁰ de junho de 1992 e encerro aqui minha carreira em 1⁰ de junho de 2022. Entrei como soldado da PM. Passei quatro anos trabalhando na área operacional, mas especificamente na radiopatrulha, e após fazer o concurso para oficial e voltar como aspirante, sempre militar na área operacional. Estou saindo agora do comando da polícia, que é uma área mais administrativa, mas por conta da necessidade. Para defender a sociedade contra o vírus, tive que ir à frente, para as zonas de risco fazer as fiscalizações auxiliando nossa tropa para que tudo pudesse sair dentro do maior controle possível. Me sinto orgulhoso. Foi um comando difícil? Foi! Tivemos o naufrágio Ana Carolina, tivemos dois anos de pandemia. Apagão. Mas nada disso foi motivo de desânimo, pelo contrário, toda vez que vinha um desafio mais, a gente estava preparado para superar.

Matias se despediu após 30 anos de serviços prestados

Passou por quais batalhões?

Passei pelo 1º Batalhão por duas vezes; passei pelo Iapen, pelo Detran, Secretaria de Segurança Pública, pelo Bope – que é  a minha casa – por duas vezes. A primeira permaneci por 11 anos é na segunda por mais dois anos, quando deixei para assumir o comando da PM.

O que o senhor pretende fazer a partir de agora?

Agora é dar atenção maior a família, ao lazer bem como, tratar da saúde.

Pensa em entrar para a política?

Não. Isso nunca foi um pensamento meu. A sociedade sempre aclamou para que eu entrasse no mundo da política, mas eu não estudei pra isso. Não sou preparado para isso. Estudei para ser policial militar, estudei para defender a sociedade amapaense.

“Sem Deus, não existe um homem feliz”

Fez amizades na corporação?

Sim, inúmeras. Isso eu fiz referência no meu discurso, justamente porque eu deixo daqui há 12 dias, centenas de amigos não só da polícia, mas da sociedade civil que quando me encontram por aí, parece que são amigos de muitas épocas. Então, a gente fica até, muitas vezes, encabulado com esse reconhecimento.

Acredita que criminosos podem mudar de comportamento?

Olha, teoricamente é o que prevê a legislação penal, que é de ir para uma penitenciária e aquela pessoa ser ressocializada. Mas, eu digo que nos dias atuais no nosso país, isso não deixa de ser simplesmente falácia. Acredito que de cem pessoas que entram no sistema penitenciário, se um sair de lá bem, nós estamos em uma vantagem muito grande. Como eu trabalhei lá, tenho propriedade para falar isso: aquele que sai ressocializado com pensamento diferente, é um cidadão de bem que, por uma circunstância alheia à vontade dele, ou pelo fato dele ter se excedido, bebido, e aconteceu ali um fato de desentendimento, ele, ali, puxou uma faca e matou alguém, ele vai pra dentro de uma penitenciária, quer pagar sua pena e quer sair dali uma outra pessoa, esse sim. Mas o bandido que já vem muitas vezes de berço, esse jamais será ressocializado. Garanto isso à sociedade.

Paulo Matias foi policial militar por 30 anos, é amapaense nascido em Macapá, no Bairro do Trem

O senhor foi professor de catequese? E Deus, sempre esteve presente no seu trabalho?

Sim, sou catequista. Por conta das minhas atribuições tive que deixar, mas muito provavelmente eu volto a receber um convite e fico em alguma igreja aí fazendo a minha contribuição religiosa. Deus sempre esteve à minha frente e isso eu fiz questão de deixar bem claro no meu discurso, do início ao fim. Sem Deus, não existe um homem feliz. Não existe um homem que possa progredir. Deus está acima de tudo.

Seles Nafes
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