Da festa à zorra: a falta de educação e de amor por Macapá

Moradores de Macapá quebram o deck dos pedalinhos da Praça Floriano Peixoto numa luta desesperada por peixes. Texto traz reflexão sobre festa do trabalhador e o símbolo da falta de educação e de organização
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Por SELES NAFES

O clima estava colaborando. Varas, linhas e anzóis preparados. Há dois anos que a Praça Floriano Peixoto, no Bairro do Trem (região tradicional de Macapá), não ficava tão radiante e colorida numa manhã de Dia do Trabalhador (domingo, 1º). A normalidade, a alegria e o amor por Macapá estavam de volta com força total, mas não por muito tempo.

As famílias atenderam ao convite da prefeitura, mas, horas depois, a falta de organização do evento (e de educação e respeito), transformariam o cenário de festa numa grotesca paisagem. Lembrou a luta pela sobrevivência no Burundi, o país com o maior ‘índice de infelicidade’ do mundo.

Antes que os juízes das redes sociais me apedrejem, é claro que a maioria das famílias não se envolveu nas cenas de desespero por peixe e deixaram o local tão logo a zorra começou. No meio da turba, havia muitos garotos, mas também muitos marmanjos.

São os mesmos que correm desesperados atrás de ‘papagaios’ e pipas cortadas em meio ao trânsito; aqueles mesmos que jogam latinhas de cerveja na rua; que transformam o corte do bolo de aniversário da cidade numa patética ‘batalha de sobrevivência’; aqueles que xingam no trânsito; não respeitam o vizinho; não respeitam as famílias ordeiras e nem a memória da cidade que tenta se levantar depois de dois anos de crise causada pela pandemia; aqueles que não tem o verdadeiro amor pela cidade de Macapá.

Lago foi invadido e houve depredação

A intenção da prefeitura em resgatar a festa do trabalhador com a pescaria na praça foi louvável, mas faltou organização, especialmente no quesito segurança. A Guarda Municipal não deu conta quando os primeiros se lançaram ao lago, e em poucos minutos tudo fugiu do controle. Foi mais conveniente fazer vista grossa.

Alguém na organização do evento ficou animado com as cenas e a aparelhagem de som contratada pela prefeitura continuou tocando alto como se o lugar tivesse virado um imenso balneário no meio da cidade. No desespero por peixe, o deck de madeira (onde ficam guardados os pedalinhos) foi destruído.

A fita amarela que isolava os pedalinhos foi usada para amarrar pela boca os peixes que eram capturados. Em meio à depredação do patrimônio público, muitos sorriam para os celulares de pessoas que filmavam perplexas.

A histórica Praça Floriano Peixoto e seus pedalinhos, de orgulhoso cartão postal da capital do Amapá virou poesia avessa. O lago de peixes mortos, lama espirrada por todos os lados e outros estragos, materializaram o sentimento de falta de zelo com o nosso próprio patrimônio e memória.

Fica a lição para o ano que vem, para todos nós.

Seles Nafes
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