Por ANDRÉ SILVA
A Justiça Federal iniciou a reintegração de posse de uma área dentro do Bairro Parque Aeroportuário, na zona norte de Macapá. A ação, segundo moradores, é ilegal já que o pedido para reaver a área está suspenso por liminar do Supremo Tribunal Federal (STF).
As máquinas começaram a derrubar os barracos de madeira na manhã de sexta-feira (20) e continuaram até sábado (21). Apenas casas vazias foram derrubadas. As que ainda ficaram de pé é porque estavam com pessoas dentro. O prazo final para serem desocupadas é 30 de junho.
Raimundo Paulo Brito, de 49 anos, é autônomo. Mora de aluguel em um apartamento no Bairro Pantanal. Disse que fez um investimento de aproximadamente R$ 1.500 para levantar o barraco. Ele falou que ainda não morava no local pela falta de estrutura como energia elétrica e água encanada. Agora vai resistir.
“Eu não vou desistir, não. Vou continuar aqui. Vou comprar novamente uma madeirinha de segunda e vou fazer o meu barraquinho aqui e venho para de baixo. Queria chamar a atenção dos órgãos competentes para que venham olhar por nós aqui. Tem muito pai de família precisando de um lugar. Esse Lugar aqui era usado para desova e para outros tipos de crimes. Hoje está sendo ocupado por famílias”, disse triste, olhando para o monturo que virou a casa.
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Raimundo: “Eu não vou desistir, não”
A doméstica Marilucia Barros Ferreira, de 28 anos, disse que decidiu ir morar na casinha de apenas quatro metros quadrados com os dois filhos e um sobrinho porque o dinheiro que ganha não dá para comprar comida e pagar aluguel. Ela estava no trabalho quando recebeu a notícia de que a sua casa seria derrubada.
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Marilucia Barros Ferreira: “Pra debaixo da ponte é que eu não vou ficar com meus filhos”
“A minha vizinha me ligou e avisou. Eu larguei meu trabalho e vim correndo pra cá. Olha, eu estou pesquisando um lugar para pagar aluguel bem baratinho. Pra debaixo da ponte é que eu não vou ficar com meus filhos”, assegurou a doméstica.
A área que começou a ser reintegrada fica às margens da Rodovia Norte Sul. Segundo o presidente da associação de moradores do Parque Aero Portuário, Natanael dos Anjos, as equipes ficaram de entrar nesta segunda-feira (23) para derrubar mais barracos, mas a reportagem constatou que não havia movimentação de máquinas no local.
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Barracos começaram a ser derrubados. Fotos: André Silva
“Cara, foi ordem do juiz federal. Ele passou por cima de tudo. Ele, junto com o Estado e Município. Aqui eles não vão entrar”, disse Natanael referindo-se ao descumprimento das ordem do Supremo por parte do juiz federal João Bosco.
O STF concedeu liminar em favor dos moradores da área no ano passado. Ela suspendeu a ordem de reintegração de posse da Justiça Federal do Amapá emitida em meio ao pico de covid-19 no Estado.
A reportagem entrou em contato com a Justiça Federal para obter informação sobre a ação de sexta e sábado, mas não teve resposta.
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Representantes das famílias que ocupam o local
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Bairro fica situado …
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… entre a pista da Rodovia Norte Sul e o Bairro Infraero II
A Secretaria de Transportes do Amapá (Setrap), um dos entes envolvidos no imbróglio, disse que situação é responsabilidade da Prefeitura de Macapá.
Já a prefeitura ficou de fazer um levantamento das informações e até o fechamento desta matéria não se posicionou.
O Parque Aeroportuário foi criado em 2021 pela PMM. Além dele, mais 33 novos bairros nasceram no mesmo ano e muitos tiveram os lotes regularizadas.