Por ANDRÉ SILVA
Há hobbys controversos, mas poucos despertam tanto debate como o da criação de pássaros, segmento que depende essencialmente de um tipo de artesão cada vez mais raro no Amapá: o gaioleiro.
José Ivanildo Ribeiro da Silva, de 50 anos, é paraense e nasceu no município de Castanhal. Ele chegou a Macapá com a esposa e as duas filhas, no início dos anos 2000. Ainda era muito menino quando, com o pai e o tio, aprendeu a fazer gaiolas.
O pai, ele conta, tinha uma oficina. Lá, trabalhou até casar e decidiu trilhar o caminho do seu genitor. Abriu sua própria oficina. As coisas não foram bem na cidade natal e o artesão decidiu largar tudo para trás e vir para Macapá recomeçar.
Chegando na capital tucuju, o gaioleiro deixou um pouco a profissão de lado e aventurou-se no comércio. Investiu em uma frutaria e passou a atuar como fornecedor de pequenos estabelecimentos. O negócio resistiu seis anos apenas. Devido a problemas pessoais, teve que fechar as portas.
Dias depois, um amigo o chamou para trabalhar em seu comércio, no Bairro Perpétuo Socorro. Mas a parceria não deu certo.
“Aí como eu tinha todo o material guardado, porque eu tinha trazido de lá [do Pará] – eu disse: ‘vou voltar a fazer gaiola’. Esse meu amigo chegou a me chamar de novo, eu fui de novo e de novo não deu certo. Desde aí voltei a fazer minhas gaiolas e não parei mais”.
O artesão sabe que a profissão é tema de debate entre ambientalistas e protetores de animais, pelo fato de aprisionar passarinhos. Ele diz que é contra quem captura o animal indiscriminadamente, e afirma que todo criador deveria ser legalizado, assim como ele.
“Essas críticas são bem vindas, mas deixam a gente muito triste. Sou criador legalizado e gosto de criar. Eu não crio para vender, crio porque gosto. Eu penso assim: se o cara pega pra vender, eu acho errado. Muitas vezes, eu saio para o interior e vejo muitas pessoas pegando [passarinho]. Eu fico indignado porque criar é uma coisa e sair pegando para vender é outra. Tem lugar que não se acha mais o curió, porque o pessoal pega tudo, cara. Se houvesse uma fiscalização melhor isso não aconteceria”, protestou.
As bancadas onde são fabricadas as gaiolas foram todas projetadas e construídas por ele. Cada peça leva, em média, 1 dia para ficar pronta e o principal motivo é que ela é toda fabricada a mão.
O processo de construção acontece por etapas. Primeiro o artesão produz as peças, como talas, forro da gaiola e a as madeiras onde as talas são encaixadas. Nesse processo ele recebe a ajuda da esposa.
Entre os clientes dele estão casas de produtos agropecuários e criadores legalizados. Para adquirir uma gaiola, o cliente pode ligar para o telefone (96) 98128-2930.