De engraxate a major da PM

Manuel Nazareno Vilhena veio da comunidade de Furo da Cidade, área rural de Afuá (PA), para Macapá quando tinha 7 anos de idade.
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Por RODRIGO ÍNDIO

Com a infância pobre veio a necessidade de trabalhar cedo para ajudar a mãe lavadeira no sustento de casa. Assim surgiu a vontade incansável de vencer na vida e de forma digna. E Manoel Nazareno Vilhena, hoje com de 64 anos, conseguiu.

Ele veio da comunidade de Furo da Cidade, área rural de Afuá (PA), para Macapá quando tinha 7 anos de idade. Na capital do Amapá, foi morador da área Central e da Favela. Em 1968, aos 10 anos, ganhou uma caixa de engraxate cedida pela Legião Brasileira de Assistência (LBA) a ele e mais 8 garotos.

Com isso, começou a engraxar sapatos na Praça Veiga Cabral, nos arredores do Mercado Central e nas casas das pessoas. O ex-vereador Alceu Paulo Ramos, o médico Dr. Iacy Alcântara e o empresário Alberto Alcolumbre (que dá nome ao aeroporto da capital) foram alguns de seus clientes fiéis.

“Muitas vezes, eu passava o dia sem ter o que comer, mas tinham alguns patrões que davam comida. Quando não tinha jeito, ia pra Lagoa dos Índios. Lá, eu fazia bico numa olaria, pescava e levava para casa”, lembra Manoel.

“Era uma vida sofrida, mas era de onde a gente tirava o sustento, foi de onde a gente começou a crescer com os bons ensinamentos como homem, como pessoa. Isso fica na memória, não pode ser esquecido”, acrescentou Manoel.

Ele exerceu o ofício de engraxate até 1974. Fotos: Rodrigo Índio/SN

Ao visitar os locais por onde passou a infância engraxando sapatos…

.. ´rofissionis que hoje exercem seu antigo ofício…

.. as lembranças toam conta do major

Em 18 janeiro de 1982, aos 22 anos, ele entrou para a Polícia Militar do Amapá. Atuou em Macapá, Santana, Tartarugalzinho e Pracuúba – onde se inspirou em sua infância e ajudava crianças carentes, porém, com um projeto de reforço escolar. Em maio de 2012, foi para a reserva militar, como major.

Ele guarda na memória o dia em que mais faturou. Foi na final da Copa de 1970, quando uma multidão ouvia a partida nos dois alto-falantes do Bar Gato Azul, na Praça Veiga Cabral. Naquele dia, sua a família comeu bem.

Nesta terça-feira (21), fazem 52 anos da data que para ele foi um marco. Exerceu o ofício de engraxate até 1974. Depois trabalhou como padeiro por diversos estabelecimentos da capital e ajudante de pedreiro, mas sempre conciliando com estudo. Seus irmãos maiores também passaram trabalhar para ajudar no sustento da casa.

Na Praça Veiga Cabral, ele passou anos tirando o sustento…

.. lustrando sapatos

Aos 64 anos, o major quer passar sua experiência de vida para netos e bisnetos

“Minha mãe que insistiu, me aconselhou e me incentivou a ser militar. Criei meus filhos, estão todos trabalhando, formados. Tenho netos já na universidade e quero passar isso para os bisnetos, também, com essa experiência de vida. Não é fácil, mas sempre será possível, basta querer, ter honestidade e confiar em Deus”, ensinou.

Hoje o major Manoel Nazareno Vilhena roda pela Macapá contemporânea e vê como mudaram todos os lugares onde ele acumulou histórias para contar. O que ficaram são as memórias.

Seles Nafes
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