Por RODRIGO ÍNDIO
Patrícia da Silva, de 24 anos, é de Mazagão. Ela diz ter feito uma escolha errada ao se envolver com tráfico de drogas. Cumpre pena na penitenciária feminina, na zona norte de Macapá, desde o 6° mês de gestação. Há 2 meses, teve a pequena Ana Maiana.
Depois de compartilhar uma cama igual das outras internas com a recém-nascida, ela conheceu, nesta quinta-feira (23), os novos ambientes no presídio, onde poderá cuidar da criança nas próximas semanas.
Patrícia se emocionou por acreditar que a filha não deve pagar pelos seus erros.
“Ela é minha quarta filha. Entrei no tráfico porque não tinha dinheiro pra cuidar das crianças. Hoje vejo o rosto da minha filha aconchegada aqui no novo espaço e me vem ainda mais a reflexão de que não quero a vida passada e sim viver pra dar o melhor pra elas de forma digna”, comentou.
Rayane Serrão, de 25 anos, está gravida há 7 meses. É o 3° filho. Ficou encantada ao ver o espaço.
“Ficou lindo e me tranquiliza por meu filho poder ficar aqui, onde tem coisas que não tenho lá fora. Eu só pensava em drogas. Uma filha minha, uma família cria. E outra, que é especial, está com minha mãe. Errei, sim. Mas, quero agora poder cuidar dessa criança que tá chegando e esse é o pontapé inicial”, afirmou a interna.
Foram entregues três espaços: o berçário, a sala de aleitamento e a brinquedoteca. A revitalização das salas já existentes, que durou cinco meses, não teve custo algum ao Estado e a obra foi feita pelas internas e internos do regime semiaberto do Instituto de Administração Penitenciária (Iapen) do Amapá. Os materiais são todos provenientes de doação.
O alojamento materno-infantil recebeu berços, camas, poltronas, prateleiras, porta-objetos, bichinhos de pelúcia, além de brinquedos educativos e decoração personalizada.
A iniciativa faz parte do Projeto Maternar Lactantes Presas, que protege o desenvolvimento infantil com base no Marco Legal da Primeira Infância e consiste em atender bebês, puérperas e grávidas, além de oferecer treinamento os profissionais responsáveis.
De acordo com a coordenadora da penitenciária feminina, Dayane Oliveira, o projeto também visa oferecer um ambiente diferenciando do sistema prisional.
“Vai trazer sensibilidade, vai trazer força de vontade e motivação para mudar, além de proporcionar para a criança um espaço adequado para o desenvolvimento para os primeiros meses de vida em que a memória afetiva. Vai ser fundamental para a criança realmente desenvolver e não adotar o ambiente carcerário”, pontuou a coordenadora.
O Amapá é o terceiro estado brasileiro a receber esse projeto, que tem como parceiros uma empresa nacional que fabrica itens infantis e o outra que produz de tintas.
Tudo começou com a ideia da diretora do Centro Prisional Feminino de Espírito Santo, Gracielle Sonegheti. Ela elaborou o projeto Maternar Lactantes Presas, buscou parcerias, colocou em prática e já ganhou reconhecimento em duas premiações nacionais.
Gracielle resolveu humanizar essa jornada dentro de um presídio, levando em conta que a maternidade é um momento emoções e descobertas, e que as mães precisam de dignidade para oferecer aos seus bebês ambiente saudável e boas lembranças da primeira infância, mesmo dentro de uma penitenciária.
“A ideia é levar o projeto pelo país todo e tornar o Brasil referência para o mundo em cuidado em primeira instancia em sistema prisional”, esperançou-se.
As crianças ficam com as mães até os 6 meses de vida, depois são entregues a um familiar. A penitenciária do Amapá conta hoje com uma lactante e duas grávidas.