Por RODRIGO ÍNDIO
O sorriso estampado no rosto de dona Lucila Pantoja Brito, de 80 anos, é a essência de quem vai morar num apartamento depois de uma vida inteira morando em área alagada. Lucila foi um dos nomes selecionados no sorteio que escolheu os 500 primeiros moradores do Habitacional Miracema, na zona norte de Macapá.
Morando há 33 anos na área alagada do Bairro Pacoval, Lucila criou 8 filhos. Agora, ela ocupará o apartamento 103 do bloco 17 do residencial. Para ela, o momento representa muito.
“Ô, glória! Graças a Deus vou sair do lago e morar na terra. Já caí muito da ponte e tenho várias lesões. Era meu sonho ter meu canto e não ter o risco de a água invadir quando chove. Deus seja louvado”, disse, emocionada.
O sorteio foi realizado pela Caixa Econômica no Palácio do Setentrião, na manhã desta sexta-feira (10). Nesta primeira etapa, foram priorizados portadores de mobilidade reduzida e idosos. Após finalização dessa etapa, os sorteados farão vistorias nas suas respectivas unidades, com o acompanhamento da Secretaria de Estado de Infraestrutura (Seinf).
O Miracema tem 2 mil unidades, divididas em etapas, conforme andamento do cronograma da Caixa Econômica que está financiando as habitações a baixo custo. O residencial foi construído pelo governo do Estado com recursos estaduais, do banco e principalmente de emendas. A ideia é entregar todas as moradias antes do fim do ano.
“Estamos atendendo pessoas que têm necessidade, demanda dirigida. Antes, as pessoas eram selecionadas de forma adversa, hoje são de determinados pontos da cidade onde estão morando em situação insalubre. Estamos sendo capazes em plena pandemia de concluir 2 mil moradias. Hoje são 500, depois serão feitos os próximos sorteios”, acrescentou.
Além das 500 Unidades, a 1ª etapa contará com a entrega de uma escola com capacidade de 360 alunos por turno e uma creche para atender 300 crianças. O sistema de esgoto terá estação elevatória para a separação dos dejetos sólidos e depois o processo de tratamento.
O projeto está orçado em aproximadamente R$ 202 milhões, boa parte dos recursos foi articulada pelos senadores Davi Alcolumbre (DEM) e Lucas Barreto (PSD), com contrapartida do Estado, orçada em cerca de R$ 40 milhões.
“Ao final dessa obra nós vamos ter pelo menos 10 mil pessoas vivendo no conjunto Miracema e isso é fundamental: dar dignidade a essas pessoas no ponto de vista da habitação gerando emprego e renda. Trabalhamos pra isso”, pontuou Davi.
Decisões judiciais
A Justiça Federal também interviu em vários obstáculos para que a obra pudesse continuar mantendo assim seus recursos.
“Chegar num momento desse parece fácil, mas demandou anos de trabalho. Foram pelo menos 10 anos de audiências, de discussões judiciais. Vão surgindo inúmeros obstáculos ao longo de todo esse percurso, recentemente tivemos que resolver as dificuldades dos dossiês que fazem a avaliação oficial, tivemos que interceder, agora as pessoas vão estar morando melhor”, relatou o juiz João Bosco, da 2ª Vara Federal do Amapá, que acompanhou o sorteio.