Por ANDRÉ SILVA
Três réplicas de urnas funerárias das duas civilizações originárias do Amapá, Maracás e Cunanis, estão expostas em frente à Casa do Artesão e da Praça de Alimentação, no Complexo Turístico Beira-Rio, Centro de Macapá, inaugurado no fim de abril.
A artesã escolhida para produzir as esculturas (de concreto, tijolo e ferro) foi Ezequiele Lima. Apesar de já confeccionar esse tipo de peça há muito tempo, esta foi a primeira vez em tamanhos maiores.
Ezequieli é artesã desde criança. Começou fazendo panelinhas e bonecas de barro. Com 12 anos, já comercializava sua arte em Macapá.
“Foi assim que comecei a criar amor e a produzir artesanato para vender”.
Desde 2004, depois de um curso onde recebeu informações sobre as civilizações Maracá e Cunani, passou a produzir as peças a partir das imagens a que teve acesso durante o processo. As fotos em um livro mostravam as réplicas das urnas, os grafismos usados, o simbolismo e os significados de cada um deles.
“Me apaixonei pelos detalhes, pelas pinturas e os grafismos. Sempre achei muito interessante”, ressaltou a artesã.
As urnas produzidas no Complexo Beira Rio foram uma feminina e outra masculina, da civilização Maracá, e uma Cunani, essa sem distinção de gênero. Para a produção, ela contou com ajuda de mais três pessoas da família.
A artesã explicou que cada grafismo quer dizer alguma coisa, mas a maioria faz alusão à grandeza da natureza. Na frente da urna Cunani, por exemplo, os traços representam o formato do Rio Cunani. Na parte de trás, alguns pontos semelhantes a vírgulas representavam as estrelas.
“Cada um tem sua identidade. O grafismo significa tradição, outro mostra o seguimento da vida. No Maracá por exemplo, tem grafismo que simboliza respeito, mostra que cada um tem sua missão, destino e prosperidade. A urna Maracá já é um significado de proteção. Essas urnas ficavam de frente das tribos para simbolizar que os antepassados estavam intercedendo e protegendo aquela tribo”, explicou a artesão.
O Amapá possui uma vasta herança cultural que vem sendo descoberta desde meados do século XIX por naturalistas como Henri Coudreau, Ferreira Penna, Lima Guedes e Emílio Goeldi.
Os vestígios da civilização Maracá foram encontrados no município de Mazagão. Já o de Cunani, em Calçoene, a 370 km de Macapá. As peças originais encontradas nesse sítios, que deveriam estar no Amapá, encontram-se no museu Emílio Goeldi, em Belém (PA) e no Museu Nacional do Rio de Janeiro.
“Temos orgulho de termos a cultura Cunani Maracá expostas aqui na frente da nossa Casa, ainda mais feita por uma artesã que é excelente em tudo que faz. Quando nossos clientes e turistas chegarem vão se deparar com essa cultura linda do nosso estado”, considerou a coordenadora estadual de artesanato Keumice Guedes.
A Casa que tem mais de 600 artesão cadastrados expondo seus produtos fica aberta de segunda a segunda, de 8h às 20h.