Por SELES NAFES
A multidão de cerca de 500 pessoas se espremia debaixo de uma tenda, no município de Porto Grande. Os fieis estavam ansiosos pela entrada do cantor gospel Luã Freitas, uma das atrações da programação do Sermão da Montanha. Contudo, a plateia foi surpreendida por outra aparição no palco, a do vice-governador e pré-candidato ao governo, o empresário Jaime Nunes (PSD).
Jaime posou para fotos ao lado de Guaracy e do artista com a multidão de fiéis atrás, numa cena que relembrou os antigos showmícios, proibidos pela legislação eleitoral desde 2006, porque desequilibram a disputa eleitoral e beneficiam os candidatos mais ricos.
Com exceção dos dois primeiros anos de pandemia, o Sermão da Montanha vem sendo realizado todos os anos pelo pastor Guaracy Júnior, que também é empresário e presidente das igrejas do Evangelho Quadrangular. O sacerdote também tem uma terceira atividade, a política.
E é justamente nos anos eleitorais que são feitos os maiores investimentos no Sermão da Montanha, notadamente pela quantidade de municípios a serem percorridos. Este ano são 6: Itaubal, Porto Grande, Tartarugalzinho, Amapá, Oiapoque e Macapá, que será no próximo dia 15 com presenças “ilustres” do Evangelho Quadrangular, como o pastor Silas Malafaia. Em 2016, uma das convidadas foi a pastora e deputada federal cassada, Flor De Lis, que cumpre prisão pelo assassinato do esposo, também pastor.
O Sermão da Montanha é narrado nos livros de Mateus e Lucas. Nesse encontro, Cristo discursa para uma grande multidão acerca das bem-aventuranças, um conjunto de regras de conduta que o povo deveria praticar no dia a dia.
Mas o sermão, assim como a Marcha para Jesus, há muito tempo perdeu a essência original e foi aparelhado pela política. No caso da Marcha, a abertura também foi feita por políticos.
O evento foi transformado no novo showmício com ingredientes a mais: a fé das pessoas e uma boa pitada de abuso de poder econômico.