Por SELES NAFES
A sensação era de retomada à normalidade após dois anos severos da pandemia. Seria a oportunidade de compartilhar esse sentimento de união e de comunhão com irmãos de fé de várias denominações cristãs, evangélicas ou católicas. No entanto, a Marcha para Jesus em Macapá virou um palanque político partidário, fato que afastou muitos cristãos do evento que chegou a ser interrompido por um acidente que poderia ter terminado em tragédia (atropelamento de uma locutora pelo trio elétrico).
A politização da Marcha para Jesus começou com a entrada do evento para a programação oficial do Macapá Verão, numa manobra para ganhar apoio oficial e inserir personalidades da política na corrida pelo governo do Estado, Senado, Assembleia e Câmara.
O pastor Guaracy Jr (candidato ao Senado pelo PTB), coronel Palmira, Cirilo Fernandes (Podemos), vice-governador Jaime Nunes (candidato a governador pelo PSD), e o prefeito Furlan (Cidadania) dominaram o evento logo na concentração, na Praça da Bandeira, Centro.
Ao lado do vice-governador e empresário Jaime Nunes, Furlan leu uma espécie de “oração” onde pediu a Deus que as “forças do mal” que “atrasam o crescimento” da capital sejam neutralizadas.
Foi o maior exemplo de tentativa de aparelhamento político da fé coletiva e deboche a um evento que nasceu legítimo, em 1987. Durante o discurso, muitos decidiram abandonar o evento e voltar para casa com uma sensação ruim no peito. Na caminhada não foi diferente. Guaracy colou no vice-governador e fez uma live no Instagram, onde os dois se apresentavam como pré-candidatos.
“Nosso futuro governador”, anunciou Guaracy. “O Amapá é do Senhor Jesus, governador!”, disse eufórico.
Apoiadores gritavam: “Guaracy, Guaracy, Guaracy….”. “Pessoas abençoadas. Estamos juntos nessa caminhada com o Senhor Jesus”, respondeu.
Essa estratégia política não foi inventada agora. É nesta época do ano que mais vamos ouvir falar em Deus, na boca dos políticos, especialmente nos discursos e propaganda eleitoral.
Candidatos falarão como se tivessem sido escolhidos por Deus, e usarão isso para tentar transmitir credibilidade, honestidade e a imagem de alguém abençoado e de confiança.
A Marcha para Jesus é apenas um exemplo e aparelhamento da fé. No Círio de Nazaré, Festa de São Tiago e em outros eventos do calendário religioso, será muito fácil topar com políticos rezando, segurando imagens de santos e também presentes em eventos evangélicos, onde a doutrina é clara em não adorar imagens. Para os políticos, não há esse problema.
Eles não precisam acreditar em nenhuma doutrina, apenas na oportunidade.