Por RODRIGO ÍNDIO
Quem já passou pelo cruzamento da Rua Leopoldo Machado com a Avenida Ernestino Borges, no Bairro Jesus de Nazaré, certamente já deve tê-la visto em frente de sua conhecida casa rosa.
Figura de baixa estatura, trajando sempre uma calça jeans e, na maioria das vezes, um sobretudo vermelho, ela sempre está varrendo, capinando, pintando ou respondendo – mau-humoradamente – às pessoas.
Ficou famosa entre os jovens estudantes de instituições de ensino das proximidades que se ‘arriscam’ a passar pela calçada sempre limpinha [ela não gosta que joguem lixo] e, também, por motoristas que a ‘zoam’ por seu gênio forte – o que é visto por muitos como brincadeira de mau gosto. O pior é que a maioria não sabe nem quem é essa mulher e sua história de vida.
O portal SelesNafes.com tem a resposta. Maria Cleia Seabra dos Santos, de 75 anos, é macapaense. A informação é de seu primo, José Rosário, de 73 anos, que diz visitá-la todos os dias.
Numa conversa exclusiva – outros veículos de imprensa já tentaram e não conseguiram –, ela se demonstrou indignada após relatar ter sido provocada e virado chacota de foliões do bloco ‘A Banda’, no último domingo (31). É que a reação dela ao ver a sua calçada sendo ocupada e suja foi filmada e postada e, posteriormente, viralizou na internet.
“O povo não me dá paz. Eu estou na minha, aqui, e o povo buzina. Os moleques aí do Podium e da faculdade sujam minha calçada e batem na minha porta de propósito e depois eles saem correndo e rindo. A minha cabeça fica pra explodir. Isso só falta me deixar doida. Não sou doida, tenho surtos emocionais porque há anos moro sozinha, depois de perder minha família. Só esse meu primo vem me ver e esse povo ainda vem me atentar”, indignou-se a dona Maria.
Ela é filha do ex-telégrafo Raimundo Santos e da dona de casa Carmem Silvia, ambos falecidos há mais de 40 anos. Também perdeu um irmão especial de quem cuidava. Com isso, mudou o comportamento. Um outro irmão, está acamado e não mora com ela. Maria não teve filhos e sobrevive com uma pensão deixada pelo pai.
“Conheço a Maria há mais ou menos 50 anos. Os moleques perturbam muito ela, jogam lixo aqui e vêm fazer bagunça. Ela fica chateada e chama muito nome [palavrão]. Venho pra tentar acalmar ela, que é lúcida, só se estressa com o que sofre e só quer viver em paz. Na Banda, vieram dançar na calçada dela de propósito. Poxa, até preservativo tem aqui na frente, isso que ela não gosta, como tava pintando, começou a jogar tinta, água pra dispersar [os foliões]. Mas ela é boa de coração”, garantiu o primo.
Maria está sempre com seus objetos pessoais dos afazeres domésticos. Isso faz parte de sua rotina.
Ela confidenciou que odeia o barulho do semáforo inteligente no canto de sua casa e que já teve seu telhado apedrejado diversas vezes por estudantes.
Porém, depois de aproximadamente 2 horas de conversa nesta terça-feira (2) ela se mostrou de fato ser uma pessoa sorridente e não queria nem deixar a reportagem ir embora.
Mesmo mais tranquila, não permitiu a gravação de vídeos e nem adentrar em sua residência. Só pediu “respeito e paz”.
“Deviam ter um respeito por ela. Deixar ela em paz, principalmente essa meninada de colégio. Se for possível que a prefeitura ou bombeiros venham podar os galhos das mangueiras aqui que estão quase caindo em cima da casa dela”, solicitou José Rosário.
Ele disse que nunca ficou comprovado que ela tenha problemas psicológicos e afirmou que “nada justifica” que ela vire meme na web.