Por RODRIGO ÍNDIO
Quem utiliza garante que é humilhante depender de ônibus em Macapá. E para piorar a situação, uma briga pelo sistema do transporte coletivo entre a Companhia de Trânsito e Transportes de Macapá (CTMac) e o Sindicato das Empresas de Ônibus do Amapá (Setap) vem afetando diretamente a rotina da população.
Essa disputa, que já tirou de circulação a empresa de ônibus Sião Thur, responsável por atender metade das linhas da capital, vem ocasionando grande demora nos pontos de parada da capital há mais de uma semana.
Geralmente, passageiros ficam mais de uma hora e meia à espera do transporte e há casos mais graves. Muitas vezes, os usuários são obrigados a pagar motos e carros clandestinos para não perderem seus compromissos. O problema é que muitos só têm o dinheiro certo da passagem do ônibus.
É o caso de Zoraima Batista, de 50 anos, moradora do Bairro Infraero 2, na zona norte da cidade. Desempregada, ela conta como é depender do transporte público.
“É horrível. É muito humilhante. A gente tenta sair por necessidade para resolver algo ou pagar uma conta, mas depender de ônibus é constrangedor. Eu vivo isso, falo por mim. Hoje por exemplo, o povo espera mais de 2 horas, eu já passei 6 horas na parada no domingo quando queria ir para igreja”, relata.
“No momento não tenho condição de comprar um transporte ou pagar um alternativo. Aí vamos no ônibus, mesmo e com vidros se batendo um no outro causando barulheira enorme e cadeiras quebradas. Já não era bom com a Sião Thur, com a saída dela piorou porque ninguém avisa nada”, acrescentou.
Uma adolescente de 16 anos, que não será identificada e mora no Marabaixo 3, falou que nunca tinha passado por uma demora tão grande.
“Tio, eu saí de casa 5h55min, como faço sempre. Deu 7h30, que é minha hora de entrar aqui na escola [CCA], tinham passado dois ônibus lotados e não pararam. Eu cheguei aqui umas oito e pouco e ainda queriam me barrar. Vim de lotação”, falou.
A professora Maria Goreth Cardoso, 59 anos, também estava na parada. Sem saber de todo o imbróglio, ela já aguardava há mais de 1 hora pelo ônibus para o Marabaixo 4.
“Normalmente ando de bicicleta, mas hoje como amanheceu nublado decidi vir de Uber e voltar de ônibus. Mas estou arrependida. É constrangedor, por isso pedalo. Estou aqui como a maioria, cansada, com fome, com sede e sequer sei a hora que vou sair daqui. Eu não tive a informação de que os ônibus pararam de fazer linha. É lamentável”, comentou.
Durante a reportagem, foi possível presenciar motoristas clandestinos e mototaxistas oferecendo viagens para os usuários. No início da manhã, muitos vídeos de paradas lotadas circularam na Internet.