O drama de um pai e filho autistas

Pai precisou retirar o filho da creche no meio da aula ao ser informado que o menino não tinha mais a vaga
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Por RODRIGO ÍNDIO

Fábio dos Santos Gonçalves, de 38 anos, é servidor público, autista, pai de dois autistas e presidente da ONG Constelação Azul, que luta pela defesa e garantia dos direitos da pessoa com transtorno do espectro autista (TEA). Depois de tantas batalhas pelos direitos coletivos dos autistas, agora é ele quem sente na pele a discriminação.

Fábio tentou matricular o filho de 6 anos na creche municipal Tio Markel, no Bairro Novo Horizonte, através de chamada pública. Contudo, o pequeno Fábio dos Santos Gonçalves Filho está sem escola depois de uma confusão de informações e falta de profissionais especializados.

Conforme o relato doloroso do pai, no início do ano letivo ele escolheu o turno da manhã para o filho estudar. Ele tinha ganhado na justiça o direito a terapias para os dois filhos.

“São aquelas específicas [fonoaudiologia, método prompt, psicólogo ABA, psicopedagogo método ABA, terapeuta ocupacional com integração sensorial, todas as terapias de maneira específicas, e outras], mas só tinha vaga pelo horário da manhã. Como o meu filho é nível 3 (severo) é preferível que eu fosse optar em estudar e terapia, que meu filho possa fazer terapias porque sem a terapia não consegue estudar”, contou.

Como as aulas no 1° semestre eram intercaladas porque, segundo o pai, não havia sido comprado todo o mobiliário da creche para que uma sala pudesse comportar todos os alunos, a família priorizou as terapias. Fábio lembra que tentou ajustar os horários do filho.

“Fui na escola três ou quatro vezes solicitar transferência do Fábio para o turno da tarde, por conta das manhãs cheias com terapias. Conversei com a diretora, com o pessoal da escola. Todas as vezes ficavam de ver, que ainda não tinha possibilidade porque alguém teria que vir e fazer uma permuta, mas assim que tivesse me indicariam e trocariam”, detalha.

“Com isso, o coordenador pedagógico da escola mandou mensagem se o Fábio não ia estudar. Expliquei a situação para ele. Ele disse que iria transferir [para manhã] o Fábio porque tinha alguém interessado para ir para o turno da manhã. Nisso, o Fábio foi transferido no final de maio para início de junho, com a garantia de auxílio de um profissional para acompanhar a criança”, acrescentou o pai.

Tudo parecia perfeito. Entretanto, durante as aulas, a professora da criança disse que não tinha esse profissional e teria que ser solicitado. Cuidar do menino autista e do restante da classe era “pesado” somente para ela. Foi então que o garoto iniciou um tratamento com canabidiol [que atua no sistema nervoso central] em junho para aguardar o momento de voltar a estudar.

Fábio conversou muitos vezes com a direção da creche

“Falei que quando chegasse o professor auxiliar que eles avisassem. No final de junho, o coordenador me chamou dizendo que o Fábio tinha dado como abandono porque não estava indo. Falei: como o Fábio vai vir se você garantiu pra mim que teria alguém [profissional especializado] e não tem ninguém para ficar com o Fábio? Com isso começaram as contradições. A professora dizia que não tinha e o coordenador dizia que tinha”, lembra o pai.

A família, que morava no km 15, alugou uma casa próximo da creche, após o mesmo coordenador garantir novamente que a criança voltaria a estudar em agosto. Empolgado, o pai comprou mochila, material, lancheira e levou a criança para a creche. Foi quando ele e o filho tiveram mais uma surpresa desagradável.

“No dia 2 [desse mês] deixei ele na sala, a professora o recebeu e fui lá com o coordenador e informei que o Fábio estava de volta. Ele informou assim: não pai, o Fábio foi dado como abandono, a gente decidiu aqui. A escola não teve condições de receber meu filho”, lembra indignado.

Ele tem dois filhos autistas

Com isso, o pai se viu obrigado a retirar a criança no meio da aula. A reação imediata foi denunciar nas redes sociais o que ele considera um desrespeito. Ele busca uma solução para o problema.

“Busco que ele seja reintegrado imediatamente e os gestores (diretora e coordenador pedagógico) sejam responsabilizados e que a prefeitura mande um professor auxiliar para ficar com ele”, finalizou.

A Prefeitura de Macapá ficou de se posicionar sobre o caso, mas respondeu aos questionamentos.

Seles Nafes
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