Por ANDRÉ SILVA
Não é mais tão comum filhos herdarem a profissão dos pais. No Brasil Novo, Bairro da zona norte de Macapá, um ex-vigilante que aprendeu a fabricar bombas d’água e e conseguiu a adesão entusiasmada dos filhos.
Sandro Pinheiro tem 39 anos, é amapaense. Há quatro anos trabalha com fabricação de bomba submersa, popular “bomba-sapo”. Ele disse que a profissão chegou por acaso.
Tudo começou depois que ele foi demitido da empresa de vigilância. Com o dinheiro da indenização, comprou um carro com carroceria e decidiu trabalhar com frete. Foi nesse período que a filha mais velha passou a acompanhá-lo durante uma mudança e outra, mas logo o negócio começou a declinar e faliu.
Ele, então, conheceu uma pessoa que lhe ensinou a trabalhar com montagem e manutenção desses equipamentos. Logo aprendeu o ofício e se apaixonou pela profissão. A filha que sempre lhe acompanhava não demorou a se interessar, também aprendeu.
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Mesmo na flor da idade, Thamily não pensa em namorar…
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.. só em trabalhar para ajudar a família e estudar para ser médica
“Ela sempre foi muito unida comigo. Tudo que eu faço, ela quer fazer. Aos 11 anos (durante o período que não estava na aula) ela já queria ir fazer frete comigo. Como aqui atrás é a oficina, na lógica eu já fui logo ensinando pra ela e para o irmão dela. Já para ir mostrando a vida pra eles. Porque hoje em dia os jovens estão por aí, à mercê, e eles tendo uma ocupação lícita, bacana, já ia matar dois coelhos: iam me ajudar e iam se ajudando”, explicou Sandro.
A oficina onde trabalham fica atrás da casa da família. A montagem das bombas funciona por etapas. A parte do motor fica por conta da Thamily Vitória, de 16 anos. Ela está no 3º ano do ensino médio e planeja ser médica. Mas, por enquanto, quer se especializar na montagem de outros tipos de bombas.
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O jovem Josué, que sonha em ser promotor de Justiça, aprendeu rápido
Atualmente, o dinheiro que ganha na produção dos equipamentos, usa nas necessidades básicas e reinveste no negócio junto com o pai. Afirmou que leva, em média, uma hora e meia para montar quinze motores.
Thamily afirma que não pensa em namorar por achar que isso seria uma distração. Prefere trabalhar com o pai.
“É ótimo, por ser com meu pai. A gente brinca, o clima é legal. Tem aqueles momentos de correria, mas a gente consegue vencer”, afirmou a adolescente trabalhadora.
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Josué aconselha os jovens: “trabalhando que a gente consegue o que quer”
Josué Victor tem 15 anos e está no 9º ano do ensino fundamental. Para ele, o oficio foi uma grande oportunidade para ele e toda a família. O adolescente é responsável por montar o equipamento. Disse que aprendeu rápido e tem tido retornos excelentes, tanto no campo profissional como financeiro.
Josué sonha em se formar em Direito e ser promotor de justiça, mas enquanto não atinge esse objetivo, garante que continuará com o negócio para assegurar a renda da família e uma ocupação.
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Irmãos se dedicam aos estudos e a ajudar o pai na oficina . Fotos: André Silva/SN
“Tenho que trabalhar e ganhar meu dinheiro para comprar as coisas que eu preciso. Trabalhar com meu pai foi vontade minha e é muito bacana trabalhar com ele. É uma experiência única e ótima, que pretendo levar para o resto da minha vida”, afirmou o garoto.
Ele dá um conselho para os adolescentes e jovens de hoje.
“Nós somos o futuro. Acho que é preciso termos uma noção de trabalho, porque é só trabalhando que a gente consegue o que quer”, aconselhou.