Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA
Após a inauguração da nova Via Expressa Anníbal Barcellos, ocorrida na última segunda-feira (26), engarrafamentos e outros gargalos têm sido registrados nos horários de pico, maiores e mais agudos do que já aconteciam “normalmente” na continuidade da Rodovia do Pacoval e proximidades do Bairro Pantanal, zona leste de Macapá.
O Portal SelesNafes.Com fez uma série de três reportagens sobre o assunto mobilidade urbana, que retratará o agravamento do trânsito na capital, a crise do sistema de transporte coletivo e o impacto das intervenções que a Prefeitura Municipal de Macapá (PMM) já realizou e anunciou que irá realizar, como a obra na nova ponte Sérgio Arruda.
Nessa primeira matéria, o arquiteto e urbanista Harife Viégas, organizador da página AP Urbe, faz reflexões acerca das questões urbanísticas e também sociais da cidade e do Estado do Amapá. Harife elencou alguns pontos.
À toque de caixa
O primeiro aspecto que o urbanista destacou foi a inexistência total de qualquer debate acerca das obras que estão sendo feitas, como o da via expressa Anníbal Barcellos.
“Nós deveríamos ter obras estruturantes, definidas, centrais, coisa que não temos hoje. Hoje, as obras são tiradas da cartola, sem estudos adequados, às vezes sem projetos, sem escutar ninguém, ninguém é escutado, então a gente está numa situação assim que as gestões estão fazendo o que querem no quesito mobilidade”, declarou Harife.
Trânsito cada vez pior
O arquiteto explicou que em sua área de formação há diversa literatura que demonstra que quanto mais faixas de rolagem, maior ainda fica o tráfego e, portanto, há a piora do trânsito.
“É científico isso: todos os estudos mostram que quanto mais faixas de rolagem, mais se estimula o uso do carro, mais se abre espaço pro carro, mas não se resolve o problema do trânsito, porque mais carros são adicionados, inseridos no fluxo e é um ciclo vicioso: mais faixas de rolagem, mais carros, mais faixas de rolagem e assim por diante”, explicou o arquiteto.
Plano de mobilidade urbana
As cidades devem ter planos de mobilidade urbana, que contemplem medidas de curto, médio e longo prazo, além de ser diverso e atentar para todos os atores – as pessoas que se deslocam na cidade de diversas maneiras – e não apenas os carros.
“Macapá não tem, atualmente, um plano de mobilidade urbana, uma mobilidade que não inclua somente o automóvel, uma mobilidade que precisa pensar o transporte coletivo que está em colapso na cidade e ninguém fala disso. É preciso incluir ciclovias, ciclofaixas, pedestres, é preciso pensar arborização nesses corredores de ciclovias, etc. Nós não temos um plano de mobilidade para quem se desloca à pé, pra quem anda de bicicleta, pra quem usa transporte coletivo e nem mesmo para quem anda de carro, porque se a gente tivesse um plano de mobilidade, teríamos as tais obras estruturantes bem pensadas, debatidas e planejadas”, afirmou o arquiteto.
Ele esclareceu que não se trata de ser contra qualquer obra que seja, mas sim da falta de planejamento, de consulta às comunidades afetadas e à especialistas, por exemplo, da academia.
Em sua postagem na página AP Urbe, ele relatou o resultado que presenciou no primeiro dia útil após a inauguração.
“A nova via expressa, assim como outras obras viárias recentes, não passou por consulta pública ou de órgãos acadêmicos, e fez uma ligação importante, porém adicionando, ainda, mais veículos em uma via que já não aguentava o fluxo pré-existente, como é o caso da Rodovia do Pacoval, que normalmente tem apresentado constantes congestionamentos”, explicou Harife.
A ponte sobre o Canal do Jandiá, a Rodovia do Pacoval, a Avenida Caubi Sérgio Melo (foto de capa) e as demais avenidas do Pacoval por onde o fluxo segue, estão exauridas nos horários de pico.
PMM
O Portal SelesNafes.com perguntou à prefeitura se houve algum tipo de consulta pública, escuta, à população do entorno; O que a PMM pensa em fazer com o gargalo causado na ponte do Jandiá e na Rodovia do Pacoval, especialmente nos horários de pico; E se há algum planejamento para a retomada da construção de um plano de mobilidade urbana.
No entanto, não houve respostas.