Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA
Entre as democráticas bandeiradas que se formam na orla, da Fortaleza ao Araxá, dentre as diversas colorações partidárias e matizes ideológicas, tem se destacado o amarelo – mas não de um partido e sim de um ônibus.
Estaria tudo bem e não chamaria atenção, caso o veículo não fosse um ônibus escolar, semelhante aqueles que foram enviados aos municípios brasileiros pelo saudoso programa “Caminhos da Escola”, do governo federal.
Estes veículos têm uso exclusivo e são todos encaminhados aos municípios para que possam atender estudantes brasileiros, especialmente os do ensino fundamental.
Na segunda-feira pós-bandeiradas, dia 5, bombaram nas redes sociais dos amapaenses fotos e vídeos do tal ônibus, com réplicas e tréplicas acaloradas da militância virtual sempre disposta a fuzilar o argumento do rival.
Como jornalista, iniciei uma pesquisa e o primeiro que fiz foi perguntar à campanha do vice-governador e candidato ao Governo do Amapá, Jaime Nunes (PSD) – que tinha muitas bandeiras no ônibus –, se as fotos eram reais e, em caso positivo, em que circunstâncias aquilo ocorreu. Como diversas bandeiras do candidato nas mãos de agitadores foram parar lá?
Houve insistência de minha parte durante o dia e a resposta não veio. De mais objetivo, o que recebi foi “estamos aguardando o posicionamento do jurídico”.
Depois, também, vi o vídeo onde aparece uma bandeira parecida com a da campanha do ex-prefeito de Macapá e candidato Clécio Luis (Solidariedade) tremulando em um ônibus escolar. Pelo vídeo, não é possível saber se é o mesmo veículo.
A assessoria de Clécio informou que teve conhecimento das imagens apenas pelas redes sociais e que, cerca de quatro horas antes, já haviam denunciado ao Ministério Público Eleitoral as bandeiras do candidato adversário no ônibus escolar, o que os leva à desconfiança de que, talvez, possa ter ocorrido uma tentativa de igualar as campanhas, como se ambas se utilizassem do mesmo expediente.
Por fim, a assessoria do ex-prefeito declarou que não há qualquer contrato de aluguel com empresas que utilizam ônibus escolares e que repudiam essa prática.
Com a pulga atrás da orelha, segui. Busquei a Prefeitura Municipal de Macapá (PMM), que tão logo esclareceu que o veículo não é da Secretaria de Educação (Semed), nem de outro órgão da capital.
Um amigo ensinou-me: se está muito difícil ter informações, algo tem. Então, fui atrás da propriedade do veículo.
A foto que ilustra a capa desta matéria não tem muita qualidade quando ampliada, daí comecei a fazer consultas junto a uma boa fonte, mais letrada em sistemas, e tentamos diversas possibilidades: NET4C57; NET4C37; NEI4C57; NEI4C37; NLT4C57; NLT4C7, dentre outras.
Ocorre que todas as consultas resultaram em carros de pequeno porte, de passeio, como Gol, Fiesta, etc., e todos com proprietários particulares.
É claro que a placa pode ter inúmeras variações e que a qualidade da foto não nos permitiu chegar à sua propriedade exata. Pode ser também – sejamos benevolentes – que se trate de um veículo que foi leiloado, recuperado e que agora foi alugado, terceirizado. Há possibilidades várias.
A única coisa que não tem jeito de ocorrer, é se apagar o fato de que um ônibus escolar, identificado como tal, foi utilizado para interesses particulares, à luz do dia, sem maiores constrangimentos.
Por último, chequei com o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) se alguma denúncia formal lhes foi feita, o que não ocorreu.
Se não posso fazer afirmações, perguntar não ofende: de quem é o ônibus escolar?