Por ANDRÉ SILVA
A Polícia Civil investiga suposto golpe da pirâmide financeira que pode ter vitimado mais de 1.500 pessoas só no Amapá. A empresa de registro em um país asiático não tem inscrição no Ministério da Economia do Brasil. Pirâmides financeiras são consideradas crimes no país.
De acordo com a delegada Aurea Uchoa (foto de capa), da Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DRCCIBER), a empresa sediada em Singapura – cidade arquipélago localizado na Ásia – utilizava um modo de operação semelhante ao de uma pirâmide financeira.
Para funcionar, o método exige que existam pessoas convidem outras pessoas para entrar no negócio. Essas são chamadas de captadores. Para entrar, a pessoa convidada precisa fazer um investimento mínimo para supostamente começar a lucrar.
No caso da empresa Consolidate My Shopping os membros teriam que realizar missões diárias para ganhar mais dinheiro, além disso, eles ganhavam na indicação de outros membros também. Acontece que em golpes como esses, explicou a delegada, as pessoas que entraram por último correm o risco de não receber o valor investido e nem o lucro.
“Assim, quando você está na base da pirâmide você ainda consegue receber o que lhe é prometido, só que o futuro de toda pirâmide é desmoronar, porque vai chegar uma hora que não vai entrar mais pessoas e o dinheiro que essas pessoas pagam pra entrar é o que as pessoas lá de baixo recebem. Só que a partir do momento que não entra mais gente, ela desmorona”, explicou a delegada.
Outro fator importante a ser observado em empresas que oferecem esse tipo de vantagem, é verificar se ela está inscrita na Comissão de Valores Mobiliários, que é uma autarquia vinculada ao Ministério da Economia do Brasil. O que não era o caso da Consolidate.
Cerca de cem pessoas já registraram boletim de ocorrência, mas a delegada acredita que esse número pode ser bem maior.
“Está estimado entre 1500 a 2000 vítimas só aqui no Amapá. Mas não foi só no estado, existe vitima no Brasil inteiro. Então até pra fim de investigação – seja nossa, seja de outro estado da federação –, a gente precisa dimensionar isso. Porque a maior problemática dessas pirâmides financeiras é a vítima tentar reaver o valor. Porque é muito difícil. Você precisa chegar nos responsáveis pra ver se essas pessoas tem valor, tem bens, porque geralmente elas dispersam, jogam para paraísos fiscais e fica complicado reaver”, pontuou.
Compras fakes
De acordo com um influencer digital amapaense que foi vítima, e que não quis se identificar na reportagem, o serviço que o investidor tinha que realizar era basicamente fingir que estava comprando algum produto em plataformas de e-comerce como Amazon, Alibaba e outras. Para isso, a Consolidate oferecia um aplicativo que era por onde essas compras eram realizadas.
No caso da Consolidate, a plataforma oferece três planos: O Vip1, 2, 3 e havia também a possibilidade de se tornar sócio júnior. Para essa categoria, o investidos teria que indicar mais 30 pessoas. Os investimentos variavam entre US$ 30 e US$ 199. A cada compra fake realizada o investidor recebia um valor de retorno.
O influencer investiu US$ 300, à época equivalente a R$ 1,6 mil. Todos os dias ele cumpria as tarefas na plataforma, mas quando decidiu fazer a retirada do lucro, veio o susto.
“Eu esperei chegarem 600 dólares. A ideia era tirar os [U$] 300 que investi e deixar só o lucro, porque se a plataforma caísse já não perderia meu dinheiro, só que antes que isso acontecesse ‘eu me torei’. A plataforma está no ar, só que pra sacar o dinheiro eles estão cobrando uma taxa de 20% em dólar. Então, pra tirar meu dinheiro eu preciso depositar mais dinheiro. Foi aí que a ficha caiu que era golpe”, explicou, com muita tristeza, o influencer.
A reportagem tentou entrar em contato com a empresa por meio de um representante local, mas não teve retorno das ligações.
Agora a Polícia Civil do Amapá solicita que quem foi vítima do golpe, registre um boletim de ocorrência na delegacia virtual, o que pode ser feito pelo endereço eletrônico https://delegaciavirtual.sinesp.gov.br/portal/. Para registrar o BO, o usuário precisa ser cadastrado na plataforma www.gov.br.