Por ANDRÉ ZUMBI
O caos provocado pela covid-19 no Amapá promoveu muitas cenas fortes de pacientes lutando pela vida e de profissionais da saúde que tentavam dar a melhor assistência que podiam naquele momento, tentando salvar o máximo de vidas que podiam.
Uma dessas cenas que ficou na memória dos amapaenses teve como protagonista o enfermeiro Emano Martins, de 42 anos.
Nascido em Breves, no Pará, ele atuava na direção da Unidade Básica de Saúde Lélio Silva, no período mais crítico da pandemia.
Os vídeos dele viralizaram nas redes sociais. Neles, o enfermeiro aparecia em prantos, comovido com a situação dos pacientes que morriam, um após o outro.
Especializado em terapia intensiva, Emano é o novo diretor do Hospital de Emergência do Amapá. Frente à nova missão, ele concedeu entrevista ao Portal SelesNafes.com e destacou que uma das prioridades é zerar as filas de cirurgias. A tarefa não é nada fácil, mas segundo ele, com a ajuda do governador e da secretária de saúde, pode ser possível. Acompanhe a entrevista:
O que já deu pra ser feito no HE nessa primeira semana?
Nossa gestão iniciou na segunda-feira (2). Estávamos fazendo o levantamento de todas as dificuldades. De imediato, estamos fazendo reparo em banheiros, porque tem muito banheiro entupido, vaso quebrado. Estamos climatizando algumas salas, principalmente enfermarias. Colocamos as centrais, estamos pintando já as salas e deixando elas da melhor maneira para acolher melhor o usuário, que é o principal nesse momento. Isso aqui é paliativo, haja vista que teremos um novo HE. Mas é preciso fazer isso aqui pra dar mais dignidade aos usuários que estão aqui e tirá-los do corredor, que é esse nosso objetivo maior.
O senhor pretende fazer a integração dos setores por meio de sistema operacional, algo que não há atualmente?
Aqui a estrutura é toda antiga, tem mais de 50 anos. Tudo é velho. Então, a gente precisa readequar. Não tem nem central telefônica interligando um setor ao outro. Se acabou uma cirurgia no centro cirúrgico, por exemplo, e o paciente precisa ser transferido para o leito, é necessário ligar para pedir que o maqueiro venha. A gente não tem isso.
O seu último desafio em gestão pública aconteceu quando você foi diretor da unidade de saúde Lélio Silva, durante o pico da pandemia de covid. O que dá pra tirar de lição dessa experiência e o que você pretende utilizar aqui?
Sou servidor do município há 17 anos e fui diretor daquela unidade durante 7 anos. Lógico que a dificuldade daqui é bem maior se comparada ao do Lélio Silva. Mas com determinação e fé, colocando Deus acima de tudo, a gente consegue fazer melhor. Uma coisa que eu prezo demais é a humanização no atendimento. Isso eu vou cobrar de todos. A gente vai dar condições pro servidor, mas queremos que ele também nos ajude.
Como o senhor foi recebido pela equipe do hospital?
Passei em todos os setores e conversei com todos. Estou direto, conversando com servidor porque além da direção fazer seu papel, o servidor tem que fazer o papel dele também. Os funcionários daqui são bons! Eles estão muito esperançosos vendo a mudança. Estão ombreados com a direção para ajudar.
Outra coisa que percebemos aqui foi que ativaram um serviço de chamada por autofalantes. Isso é novo ou a estrutura já existia?
Foi colocado na segunda-feira. Por enquanto, ele está apenas na recepção, mas o objetivo é colocar em todo o hospital. Isso facilita a comunicação. A gente sabe que a recepção, às vezes, fica cheia. Aí chama o paciente uma vez ou duas e ele, ou o acompanhante, não escuta. Assim fica melhor o acolhimento e o atendimento ao paciente. Seja raio x, tomografia.
Isso tudo é um desafio e tanto…
Sim. Mas é algo que eu gosto. Estou feliz por estar aqui. Saio 22h, 23h daqui todo dia. Almoço aqui e acompanho tudo de perto. Quero muito ajudar as pessoas.
Já teve alguma experiência como paciente, no HE?
Sim. Passei dois dias, antes da minha mãe falecer, com ela e meu pai, aqui, nos corredores do HE. Eu sempre falo para as pessoas que a minha mãe pediu muito pra mim, antes de morrer: “meu filho, se você for gestor em algum lugar, seja do HE para ajudar aquelas pessoas”. Isso me pediu antes de morrer (contou com os olhos marejados). Estou aqui por ela e pra ajudar essas pessoas. Quanto a isso vou me dedicar muito.
Por esse curto espaço de tempo que o senhor está aqui já deu pra saber se a situação é fácil ou difícil de resolver?
Não tem muito mistério. Só dedicação, força e apoio da gestão. O Clécio (governador) e a Silvana (secretária de saúde) estarão perto da gente para ajudar. Os funcionários e até os usuários já passaram a ver uma luz no fim do túnel. Os funcionários mesmo falam: “Emano, agora vai funcionar, a gente acredita! Então é possível!
Sobre as filas para cirurgias ortopédicas. Atualmente, está em vigor uma lista com o nome dos pacientes internados que passarão pelo procedimento. Essa lista será mantida?
Primeiro que não deve ter fila pra cirurgia. O paciente chegou, já tem logo que fazer o procedimento. Se é fratura exposta, tem que fazer de imediato. A maioria dos casos é isso: cirurgia de imediato. Se for eletiva, tem que marcar. Mas o certo é não ter fila. Mas infelizmente, devido a nossa falta de material e correlatos, infelizmente atrasa as cirurgias. Temos pacientes que estão desde novembro esperando esse procedimento. A gente vai avaliar tudo, mas o certo é não ter fila. Mas pra fluir bem precisa de um preparo como: medicamento, materiais que o médico precisa para fazer os procedimentos. Tendo isso, tudo flui bem. Fila de paciente aguardando um ou dois meses, isso vai acabar.