Por ANDRÉ ZUMBI
As Organizações Não Governamentais que ajudam pacientes com câncer no Amapá, resolveram unir forças e criaram a primeira Federação Estadual no Combate ao Câncer no Estado. A reunião com as principais instituições aconteceu na última quinta-feira (26), em Macapá.
A necessidade de buscar tratamento para essas pessoas fora do estado fez brotar o desejo em pessoas que se sensibilizaram com os pacientes, além daqueles que tiveram entes queridos levados pela doença, como foi o caso de Agenilson Silva, fundador da ONG Carlos Daniel. A instituição leva o nome do filho dele, que foi vítima da doença e morreu em 2015.
Agenilson disse que o convite para a criação da Federação partiu do padre Paulo Roberto, fundador do Instituto Joel Magalhães (Ijoma).
“A federação vem pra fortalecer a luta dessas instituições. Porque nós vamos unir todos que trabalham em prol dos direitos do paciente com câncer, em uma só luta e uma só representação. A federação terá força para cobrar que se cumpra o direito dos 30 dias (para início do tratamento após o diagnostico), que hoje é desrespeitado”, considerou o representante da ONG Carlos Daniel.
Outra instituição que fará parte da Federação será a Casa de Apoio Nosso Lar. O local foi criado em 2017 com intuito de amparar pacientes em transito que, vindos do interior do estado, muitas vezes não tem onde ficar para fazer o tratamento em Macapá.
A fundadora da casa, Ruane Soares, explicou que a Federação não surge para apontar os erros e descasos do Estado, mas para buscar soluções para os pacientes.
“Todo mundo já sabe onde estão as falhas, o que precisamos são as soluções. A federação vem pra somar, lutar e garantir o direito dos pacientes. Cada instituição que compõem a federação tem um objetivo diferente, então vamos somar forças. Estamos dispostos a lutar”, considerou Soares.
O idealizador do projeto, padre Paulo Roberto, fundador do Ijoma, explicou que a ideia de criar a federação é antiga, mas ainda não havia convencimento das outras ONG’s quanto a viabilidade da entidade. Explicou que o objetivo é fortalecer as ONG’s que lutam por pacientes oncológicos no Amapá e considerou o memento, histórico.
“O povo amadureceu e percebeu que sozinho ninguém ia a lugar nenhum. A federação vai empoderar as ONGs, não substituí-las. É para que todos falem a mesma linguagem. A Federação é um ato revolucionário. Um novo momento da sociedade civil organizada. Agora tenho certeza que o poder público vai ter que escutar as ONGs. Nosso grito ecoara principalmente em Brasília”, destacou o padre.
Inicialmente cinco instituições farão parte da Federação: Carlos Daniel, Ijoma, Garotinhas Solidárias, Associação de prevenção do câncer de Santana e Casa de Apoio Nosso Lar. O padre explicou que o convite foi estendido a todas as ONG’s do estado que tem trabalho voltado a pacientes oncológicos.
Câncer no Amapá
No Amapá, 997 pessoas morreram de câncer entre 2019 e 2020. A informação é do Instituto do Câncer (Inca) e foram extraídos da base de dados do Ministério da Saúde.
O número representa menos de 1% da população do estado. Mesmo com um índice baixo, em comparação a população do Amapá, que hoje chega a 800 mil habitantes segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatista (IBGE), a gestão pública não tem dado conta de atender a demanda.
Prova disso são as constantes reclamações de pacientes oncológicos que são tratados na única unidade de atendimento do Estado (Unacon), que com frequência fica sem medicação para quimioterapia e agulhas para aplicação da medicação. Sem falar que o método é o único a ser oferecido pelo Estado para o tratamento da doença e apenas para o público adulto, ficando de fora crianças e adolescentes.