Por ANDRÉ ZUMBI
Quilombola que vendeu cosméticos para custear a faculdade de pedagogia tenta ser a primeira “diretora de casa” da escola da comunidade onde mora. Segundo ela, os moradores têm prioridade para assumir o cargo já que estão mais envolvidos nas questões do quilombo.
Emily Raine Pimentel, de 28 anos, nasceu em Castanhal (PA), é mãe de três filhas e moradora do Alto do Pirativa, comunidade ribeirinha e quilombola do município de Santana, cidade a 17 quilômetros de Macapá.
Aos 23 anos, já mãe, mas ainda sem ter formação de nível médio, faz o Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja) e conseguiu passar. Foi além e entrou para uma faculdade em busca da graduação.
Ela vendia cosméticos e recebia uma ajuda de custo do Programa Amapá Jovem, dinheiro que usava para custear a faculdade do Curso de Pedagogia e o transporte até Santana, onde ficava o polo da instituição.

Emily Pimentel enfrentava…

… algumas horas de espera e viagem de catraia ….

… diariamente para chegar ao polo da faculdade. Fotos: Arquivo Pessoal
Para chegar ao local levava aproximadamente 1h30 de catraia (pequena canoa com motor rabeta). Como o trajeto até a instituição é feito de embarcação, ela dependia da maré para se deslocar, tanto para a faculdade como de volta para casa. Por isso, houve momentos em que precisou esperar mais de 4 horas para voltar para casa.
A quilombola enfatiza que tudo que aprendeu no programa Amapá jovem, repassava para a comunidade e que conseguiu instalar alguns polos em comunidade próximas, como monitora. Atualmente, ela é pós-graduada em ensino a distância e gestão escolar.

Tudo que aprendeu no programa Amapá jovem, repassava para a comunidade
“Não foi fácil, mas eu consegui. Foi muita dificuldade porque era na chuva, no sol, esperar a maré encher e secar pra lá. Porque tem um período de seca lá que a gente tem que esperar a maré para poder entrar no igarapé que fica dentro da comunidade”, explicou.
Agora formada, ela luta contra o sistema para tentar assumir o cargo de diretora da Escola de ensino médio que fica na comunidade. A pedagoga denuncia que a pessoa que assumiu o cargo não mora na comunidade, o que não é permitido pela resolução que trata da instalação de escolas em comunidade de quilombo no Amapá.

Ela vive com as filhas …

… na comunidade de Alto do Pirativa

Emily Pimentel: “Não foi fácil, mas eu consegui”
“Eu moro lá, sou casada com um morador de lá há 11 anos, pago associação, sou quilombola e estou sozinha nessa luta. Perante a resolução 025-16, a preferência da gestão é para quem é quilombola e eu sou a única formada e capacitada para assumir esse cargo”, reivindica.
A reportagem tentou contato com a secretaria de educação do município de Santana para saber sobre o processo de escolha da nova direção da escola, mas ainda não obteve resposta.