Por ANDRÉ ZUMBI
Para a cozinheira Leidiane da Silva Ribeiro, de 41 anos, a última segunda-feira (6), quando fazia o trajeto de casa até o trabalho, seria como outro dia qualquer, se não fosse, também, a data da pior experiência de sua vida.
Ela trabalha em uma escola pública em Macapá. Mora no Bairro Marabaixo, zona oeste da capital, e todos os dias tem a mesma rotina: sai de casa, deixa a filha na creche e, em seguida, vai até o ponto de ônibus apanhar o coletivo para chegar ao trabalho. E foi esse ônibus o palco do trauma.
O cenário era o mesmo de sempre: coletivo cheio, com muita gente em pé se encostando umas nas outras. Mas, lembrou, naquele dia, a condução não estava tão lotada como de costume. Mesmo assim, percebeu algo desnecessário acontecendo: um homem estranhamente colado a ela.
Afastou-se, mas o suspeito deu um jeito de se aproximar novamente, foi quando ela notou algo diferente.
“Eu percebi que ele teve uma ereção. Nessa hora, fiquei com o corpo paralisado. Fiquei em estado de choque. Parecia que eu tinha saído do meu corpo. Não sabia o que fazer. Isso durou alguns segundos. Parece que deu um estalo e eu retornei”, relatou a cozinheira.
Diante da cena grotesca, a única reação que ela teve foi de se afastar novamente e ir para perto de uma conhecida. Ao observar o abusador – ainda em choque – percebeu que ele se aproximou de outra mulher.
“Foi quando eu comecei a falar para as pessoas que ele estava esfregando a parte íntima dele em mim e agora estava fazendo mesmo com aquela senhora. Comecei a gritar. Foi quando avistei uma viatura da BPRE, e passei a gritar mais ainda. Disse para o motorista parar o ônibus para fazer uma denúncia do que estava acontecendo, mas o motorista só parou mais afrente porque outras pessoas que estavam no ônibus passaram a gritar também”, lembrou.
De frente com os policiais, a cozinheira passou a relatar o que havia acontecido enquanto o motorista, sem que ela percebesse, saiu do local, impossibilitando qualquer ação dos agentes.
Segundo Leidiane, eles chegaram a se comunicar com outras viaturas para tentar identificar o acusador e o coletivo, mas ela não permaneceu no local para ver o resultado da ação.
Já no trabalho, relatou aos colegas o que havia acontecido. Tentou continuar no trabalho, mas não teve condições psicológicas.
“Peguei uma carona com uma amiga, fui até a UBS do Marabaixo. Pedi um atendimento de emergência com uma psicóloga, fui atendida e meus familiares foram me buscar lá. Eles me levaram para o Ciosp, onde registrei um Boletim de Ocorrência”.
Reincidência
A cozinheira relatou que não foi a primeira vez que o mesmo homem havia feito aquilo com ela. Na primeira ocasião, relatou, ficou em pânico e não teve coragem de reagir, mas decidiu que desta vez seria diferente.
Passou as características do maníaco aos policiais. Eles a orientaram que, se o visse novamente, fizesse uma foto dele e procurasse uma delegacia.
Ato contra abuso sexual
Agora Leidiane e a irmã, Rosane da Silva Ribeiro, de 43 anos, estão organizando um ato, marcado para esta quarta-feira (8), Dia Internacional da Mulher, às 11 horas, em frente à Companhia de Trânsito de Macapá, que tem como foco o combate à violência contra a mulher, sobretudo em assédios em coletivos.
Segundo Rosane, depois que passou a organizar o ato, outras mulheres que viveram a mesma experiência de Leidiane passaram a entrar em contato.
“Acionamos vocês, mostrando nosso rosto, para dizer que basta! Já temos relato de pessoas e percebemos que não se trata de um ato isolado. Isso é recorrente e, provavelmente, é a mesma pessoa”, presume.