Por CRISTIANO COSTA, psicólogo
A disposição de uma pessoa lesada para punir aquele que a lesou é um lugar comum na experiência cotidiana e isso é chamado de vingança. É a tentativa de uma pessoa, com algum custo ou risco para si mesmo, de impor sofrimento sobre aqueles que a fizeram sofrer. Essa dinâmica de retaliação desempenha um papel importante na regulação do comportamento humano. O termo “vingança” tem o sentido próprio de punição ou de castigo. Vingar, significa também promover a reparação. “Olho por olho, dente por dente”, afirma um antigo código de justiça que retribui uma ação criminosa com a mesma ação, porém, agora sancionada pelo código, esse é o princípio da “pena de talião”.
A pena de talião corresponde a uma “pena antiga pela qual se vingava o delito infligindo ao delinquente o mesmo dano ou mal que ele praticara”. Um dos mais antigos códigos da história da humanidade, o Código de Hamurabi, já preconizava o uso desse princípio para sanar as contendas entre os cidadãos da sociedade babilônica.
Bouzon (1976) destaca que as leis desse código formuladas para punir as lesões corporais se valiam do princípio do talião, um olho custa um olho para o agressor, assim como um osso fraturado lhe custa um osso fraturado e um dente quebrado lhe custa um dente quebrado; espécie de reciprocidade que visa a estabelecer o equilíbrio enquanto realização da justiça, o que se pode depreender dessa regra especular é que justiça é igual a equilíbrio, ou seja, a igual condição de ambas as partes.
Um crime introduz o desequilíbrio entre elas, de modo que a pena de talião permite apenas que se retribua com a mesma ação, a fim de que o equilíbrio seja restaurado.
Nas ocasiões em que alguém causa danos para outro indivíduo, a sociedade costuma apresentar normas complexas que regem a forma, como, quando, onde, por quem e em quem a vingança ocorrerá, apesar das peculiaridades relacionadas com cada cultura. Se prestarmos atenção na universalidade e na persistência de alguns elementos no núcleo do fenômeno da vingança, parecemos estar naturalmente inclinados para seguir a lei de talião – olho por olho, dente por dente. Mas, até aqui, pare e pense: será que nessa de “olho por olho” não corremos o risco de acabarmos todos cegos?
A verdade é que o sentimento de vingança é apenas uma questão de não sabermos lidar com nossas dores, nossas feridas. A busca por vingança é destrutiva para ambos os lados. A vingança em si não vai curar nossas feridas. Em muitos casos, ela as impede de cicatrizarem e as agravam cada vez mais.
Quem busca e consegue sua vingança tem o sentimento de alívio momentâneo, mas não vai parar de sentir a dor do seu EU machucado. O desejo de vingança acaba sendo um peso para quem o carrega. A pergunta que pode nortear seu desejo de vingança é: se eu me vingar, serei igual ou melhor do que o outro que me feriu?
Cristiano Costa é psicólogo; gestor de recursos humanos e perito jurídico, especialista em psicologia do trabalho; psicologia jurídica e inteligência forense; docência do ensino superior, formação de equipes; facilitador de treinamento e desenvolvimento de pessoas; micro expressões faciais e detecção de mentiras; psicopedagogia institucional. Instagram @psicristianocosta