Por ANDRÉ SILVA
Um professor de geografia e uma professora de matemática foram duramente agredidos, com palavras, por um aluno de 14 anos, do 9º ano da tradicional Escola Estadual Irmã Santina Rioli, localizada no Bairro do Trem, em Macapá.
O adolescente fez um vídeo que foi publicado em uma página da sua turma no Instagram, onde xinga e discrimina os educadores. A mulher é apelidada.
“Eu não suporto mais essa escola! Eu não aguento mais! Cadeirante, foda-se! E depois ainda tem a ‘pitchula’, mano! Não dá!”.
As palavras estão no vídeo publicado nas redes sociais. Anda não se sabe quem postou o vídeo, mas viralizou em grupos de conversa e da escola.
O professor ao qual o aluno se refere no vídeo, é Rodrigo Monteiro, que leciona geografia para as turmas do 9º ano e é paratleta da modalidade de vôlei sentado. Ele é cadeirante.
O professor Rodrigo afirmou que não foi a primeira vez que sofreu preconceito na vida e nem na escola por causa de sua condição física. Mas, afirmou, agora chegou ao seu limite.
O educador contou ao Portal SelesNafes.com que só descobriu o vídeo na semana passada, depois que chegou em casa após um evento. Ele foi checar as mensagens no celular, que havia esquecido em casa.
“Eu vi as postagens, mensagens de WhatsApp – porque havia ficado um tempo sem ele (celular) – e nisso vi alguém curtindo meus stories. Fui olhar quem era essa pessoa. Vi que era uma turma, a 912, da manhã, que tem um perfil. Aí, fui olhar as postagens. E lá, nos vídeos em destaques, no quinto vídeo tinha o vídeo de um aluno do nono ano, que inicia falando mal da escola e me filmando. Eu lá atrás na lousa”, narrou o professor.
Rodrigo sentiu muita decepção, principalmente por se tratar de uma das turmas que ele tem bastante carinho.
“Isso pra mim foi um choque. Eu, como cadeirante, vivo isso diariamente. É Uber que não te aceita, é tu chegar em um local e ter alguém estacionado na vaga de cadeirante. Eu fiz um comentário, e busquei como salvar o vídeo. Comuniquei à comunidade escolar. Falei com a outra professora que sofreu a agressão também, e no domingo passado [dia 16 de abril] fomos à delegacia de menor e registramos B.O. de calúnia e difamação”.
A outra professora ofendida no vídeo que o aluno identifica como “Pitchula” é a educadora Tatiana Nascimento, de 46 anos. Ela leciona matemática há 7 anos na escola. Há 14 anos ela trabalha na profissão e disse que é a primeira vez que foi descriminada por um aluno.
“No primeiro momento fiquei impactada. Porque é uma turma que eu tinha uma boa relação. Toda vez que eu chegava, eles vinham, me abraçavam. Eu conversava com os alunos. Uma coisa é o aluno comentar com o colega, outra coisa é ele expor a sua imagem. Falar sobre você numa rede social. De todos os anos que eu já trabalho, é a primeira vez que passo por uma situação assim”, lamentou.
Após saber dos fatos, a direção da escola reuniu professores, o aluno e seus pais. Houve um acordo entre as partes. O aluno se comprometeu a fazer uma retratação pública na escola, pedindo desculpas pela ação desastrosa.
Mas, segundo os professores, ele voltou fazer novas publicações, desta vez em áudio, onde volta a achincalhar ambos, sobretudo Rodrigo. A reportagem teve acesso ao áudio. Nele, o menor volta a xingar o professor e dessa vez com um tom mais agressivo. Além disso, ele demonstra não ter medo de punição por parte da escola. Escute:
“Mano é o seguinte; se me levarem para a coordenação e me chamarem, vai ser muito de boa. Vai ser a coisa mais leve que vai me acontecer. Só tô com medo do cara meter um processo em mim. Mas pelo menos tem uma coisa boa: eu não cometi nenhum ato contra ele, mas contra a Tatiana sim. Chamei a Tatiana de Pichula. Sinceramente, eu vou chamar o cara de que? De saltador de paraquedas? O cara é cadeirante mano! Vai tomar no teu cú! Vou pedir desculpas para a Tatiana. E vou falar isso na cara dele. Não tenho medo desse caralho! Cadeirante desse. Velocista gala seca”, diz no áudio o estudante.
A diretora em exercício da escola, Suelem Cordeiro, informou que toda a turma foi reunida nesta quinta-feira (20), junto com os pais, para tratar do assunto. Ela disse que vai informar ao Conselho Tutelar tudo sobre o ato do aluno e que vai aguardar um posicionamento da instituição quanto a que tipo de tratamento irá dispensar.
“Quanto à escola, temos ações educativas. Nós já temos agendado para as próximas semanas uma palestra com o Núcleo de Acompanhamento de Saúde da Seed, que vem trabalhar com Bullying e cyber Bullying. A coordenação pedagógica já tinha se reunido para promover ações na escola para que fatos como esses não aconteçam. Desde que soubemos do caso, nós estamos fazendo acompanhamento para dar o maior apoio possível. Só que a gente tem que ter muito cuidado com as nossas ações. Tem que ser tudo muito cuidadoso, tendo muito cuidado com a imagem do aluno”, justificou a diretora.
NOTA DO EDITOR: O Portal SN foi procurado pelo advogado da família solicitando que esta reportagem não seja publicada sob alegação de proteção do menor, e insinuando um possível processo contra este veículo de comunicação. No entanto, a reportagem não mostra o rosto do estudante e muito menos seu nome, em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). No entanto, o vídeo original foi compartilhado pelo próprio estudante com outros colegas e já tinha viralizado.
O Portal SN entende que este caso de preconceito e violência psicológica contra professores é pedagógico e merece reflexão.