Por ANDRÉ SILVA
O Amapá teve uma desaceleração no crescimento populacional durante a última década. É o que aponta uma prévia do Censo 2022 – que deveria ocorrido em 2020, mas foi adiando por conta da pandemia de covid-19.
Desde a última contagem, no Censo de 2010, quando o IBGE contabilizou 669 mil habitantes, a projeção era que 10 anos depois, em 2020, a população amapaense girasse em torno de 877.613 pessoas – número que, inclusive, foi utilizado para cálculos de FPE e vacinação durante a pandemia.
No entanto, em dezembro, os dados coletados já ‘tendenciavam’ para uma estimava de 774.268 mil habitantes, 103,3 mil pessoas a menos. A um mês do encerramento da pesquisa, marcado para 28 de maio, o órgão estatístico afirmou que essa projeção divulgada em dezembro deve mesmo se consolidar.
O superintendente do IBGE no Amapá, Haroldo Canto, explicou ao Portal SN.com os fatores para a desaceleração. Ele também esclareceu que o fenômeno não é visto apenas no Amapá, mas outras unidades da Federação. O principal fator destacado por ele é a baixa taxa de natalidade experimentada pelo estado amapaense na última década.
“Tem família que não quer muito filhos. A cada década que passa, a gente percebe que vem caindo a taxa de natalidade, o número de pessoas por família. Então, nós estamos vivendo em outra época. As mulheres, principalmente, estão pensando mais nelas. Ela quer ter o trabalho dela e não quer perder muito o tempo dela tendo filhos. Então isso contribui. Fora os métodos de controle de gravidez, isso tudo contribui para que a população não cresça. E isso é no mundo todo, no Amapá não é diferente”, argumentou o superintendente.
Ele justificou, ainda, que se houvesse acontecido uma prévia do censo demográfico no meio da década, por volta de 2015, as projeções teriam se aproximado mais da realidade.
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Superintendente do IBGE no Amapá, Haroldo Canto. Foto: André Silva
“Todos os anos terminados em zero seriam os anos para o IBGE fazer o censo demográfico. Em 1990 ninguém fez, porque naquela época não liberaram recurso, fizemos em 1991 – já perdemos toda uma série histórica. Era para ter feito em 2020 e não fizemos, por causa da pandemia. Em 2021 o orçamento do censo no congresso foi esfacelado. A questão foi judicializada, o STF bateu o martelo e disse que tinha que fazer o censo. Só que o recurso liberado não foi o previamente esperado. O orçamento do censo era de R$ 3,5 milhões, começamos a fazer com R$ 2,9 milhões. Isso fez com que a gente remunerasse mal o recenseador – o que causou desinteresse por parte deles, que acharam o valor baixo, fazendo desistir do trabalho”, justificou.
Outros fatores significativos foram a pandemia de covid-19 e o êxodo de amapaenses indo para outros centros do país atrás de oportunidades de trabalho.
No município de Laranjal do Jari, apontado como um dos mais preocupantes, a estimativa era que o número de moradores atingisse a casa dos 40 mil habitantes, mas as contagens prévias já apontaram a população jarilense não passará de 30 mil. A causa para isso – além da baixa taxa de natalidade já citada e a pandemia – é a crise econômica vivida na região, provocada com os problemas na Jari Celulose, empresa que empregava muitas pessoas no município.
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Pesquisa termina no dia 28 de maio. Foto: IBGE
“Nosso pessoal está lá fazendo uma reunião para falar do resultado do censo com eles e o pessoal de lá está concordando com o IBGE, que as pessoas estão saindo de lá. Eles estão preocupados e se não tiver uma solução para a empresa lá, poderá diminuir mais ainda população do município lá. Eu até pedi pro pessoal passar lá fazendo vídeo mostrando a quantidade de domicílios fechados. Esse pessoal está indo para outros estados”, afirmou Canto.
Ele disse que o processo migratório visto em outras décadas, quando pessoas vinham ao Amapá em busca de oportunidades, era gerado a partir de novos investimentos e concursos que foram feitos na época. Não é mais assim.
“Hoje não é mais como na década de 1990. Quando foi criado o estado, surgiram novas oportunidade de emprego, instalação da universidade federal e uma séria de investimentos que houve, aqui, chamando atenção. Muita gente veio pra cá atrás de emprego. Isso depois estabilizou. A migração acontece quando há um fato novo na região, isso não está acontecendo no Amapá”, explicou.
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Segundo superintendente do Amapá, recenseadores foram mal remunerados. Foto: IBGE
Haroldo reconheceu que as previsões do Instituto foram superestimadas. Disse que o número de habitantes será maior que em 2010, mas não alcança o previsto para a década.
Cálculo da estimativa
A estimativa é feita com base nos dados do censo anterior mais os números de registros civis de nascimento enviados pelos cartórios a cada três meses para o IBGE. A taxa de crescimento comparando, a diferença entre os censos de 2000 e de 2010, também entra no cálculo.
“Neste caso o IBGE usou dados de 2010 e o posterior a ele, para fazer a estimativa”, completou Canto.