Por ARTEMIS ZAMIS
É crescente o número de casos de violência racial em praticamente todo o país, com histórias cada vez mais estarrecedoras e sempre cada vez mais violentas, que ao assistir me pergunto: como pudemos chegar nesse ponto? Onde falhamos como sociedade? Em que ponto deixamos de praticar a irmandade e a visão de que somos todos iguais independente de cor, idade, religião, posição política, raça? Falar sobre racismo não é fácil e requer conhecimento de causa e ter sentido na pele os danos que essa discriminação causa na alma.
Não sou a pessoa certa pra falar de racismo porque tive o “privilégio” de nascer branco. Sim, chegamos nesse patamar de ter que propagar que nascer branco é um privilégio. Como branco, eu não vou levar um tapa na cara em uma abordagem policial nem levar chicotadas.
Na última semana, no Rio de Janeiro, a ex-jogadora de vôlei Sandra Mathias de Sá, do alto de sua brancura, ousou chicotear um trabalhador com a coleira de seu cachorro. Ao depor, disse que bateu para se defender, sendo que não é o que se vê nas imagens amplamente divulgadas. Saiu pela porta da frente da Delegacia de Polícia.
Em Belém-PA, a deputada Lívia Duarte (PSOL) está sendo ameaçada de morte e chacina na família, por seu trabalho na Assembleia Legislativa do Pará. São ataques velados, feitos sempre por e-mails e são aterrorizantes. Tudo por puro ódio, preconceito e discriminação pela cor da sua pele.
Os casos que sabemos são ínfimos diante de todos aqueles que acontecem diariamente nas escolas, no trabalho, nos círculos sociais, no bairro, igrejas e todos os segmentos da sociedade que não são noticiados nem notificados, e acabam ficando marcados apenas na alma e no coração de quem sofreu tamanhos ataques.
Não é mais raro nos depararmos diariamente com notícias de um branco proferindo as mais terríveis ofensas a alguém apenas pela cor da sua pele.
A escravidão no Brasil durou longos 353 anos desde que o primeiro navio de negros escravizados chegou em Salvador (BA), em 1535. Foram séculos de crueldades, sofrimentos inimagináveis e dores que só quem passou sabe. Dores que foram marcadas no corpo na alma e coração. De lá para cá, quase nada mudou dada a construção da identidade nacional amparada por teorias “racialistas” e a ausência total do estado logo após a abolição.
O nazifascismo não acabou em 1945. Continua na alma de muitos e dele prolifera o racismo, o preconceito a violência generalizada contra os negros até os dias de hoje.
O Brasil não é mais escravidão e precisamos combater diariamente essa chaga em qualquer meio que tenhamos acesso. Precisamos trazer de volta a nossa humanidade, nosso amor ao próximo, seja ele de qualquer etnia, cor, credo. É premente que atuemos junto às autoridades para denunciar qualquer tipo de racismo e assim possamos construir uma sociedade mais igualitária e justa. Nossa luta é para que todos tenham os mesmos direitos, as mesmas oportunidades.
A cor da pele não define caráter de quem quer que seja. Somos quem somos por nós mesmos ou por nossa criação e por fruto do meio em que vivemos ou viemos. Nunca é pela cor da pele é sempre pela alma e pela vida que devemos nos irmanar e seguir a vida sem dores, sem preconceitos e sem qualquer discriminação.
* Artemis Zamis é empresário, militante social e escreve todas as semanas para o Portal SN.