A verdade sobre o ‘medo histérico’ do petróleo no Amapá

Navio passando ao fundo no rio Amazonas, em Macapá. Ao dizer não à Petrobras, o Ibama condena 900 mil amapaenses a continuar contemplando a riqueza dos outros
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Editorial

Não é de hoje que empresas petrolíferas esbarram no conservacionismo estatal e ideológico sobre a Amazônia, condenando 17 milhões de habitantes a “contemplar a riqueza sentada na pobreza”, parafraseando o senador Lucas Barreto, do PSD do Amapá. Em nome do projeto mundial de ter a Amazônia como um gigantesco museu à céu aberto e do mito besteirol de “pulmão do mundo”, o Ibama diz (mais uma vez) “não” à exploração do Petróleo num dos momentos mais importantes para a economia do país e do mundo: a transição das fontes de energia. A essa receita, soma-se também a própria ignorância do gabinete político, e uma boa pitada de contorcionismo retórico. 

Considerada a última fronteira brasileira do petróleo, a Margem Equatorial, entre o Amapá e o Rio Grande do Norte, está na mesma placa geológica onde Suriname e Guiana Francesa ganham rios de dinheiro, produzindo mais combustível do que todo o Brasil, apesar de serem territórios muito menores.

Escorado na ausência de um estudo que nem é obrigatório no processo de licenciamento, o Ibama negou a autorização seguindo uma série que já atingiu empreendimentos anteriores. Em 2018, a última “vítima” foi a francesa Total, que foi explorar na Guiana numa área próxima de onde a Petrobras também quer fazer o mesmo. Antes da Total, tivemos a BP afugentada.

A desculpa do Ibama, na época, era de que a Total não tinha demonstrado que estava preparada em caso de acidentes, e que um possível vazamento de óleo poderia chegar rapidamente em águas de outros países.

A Total passou a bola para a Petrobras, que acreditava num momento político favorável. Contudo, no meio do caminho havia uma pedra: a acreana ministra do Meio Ambiente Marina Silva e a ala ambientalista/extremista do governo Lula.

O próprio líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues, que hoje anunciou a desfiliação da Rede Sustentabilidade, foi apanhado de surpresa, assim como Davi Alcolumbre, um dos principais aliados do governo Lula. 

Randolfe e Marina Silva: saída do partido

Petrobras explora no Amazonas há 40 anos. Foto: Petrobras/Divulgação

A verdade

O que a Petrobras queria era apenas permissão para perfurar um poço de sondagem numa área a 550 km da foz do Rio Amazonas. Reforçando: longe da foz e perto do Suriname e da Guiana. O Ibama e a grande imprensa (histericamente ambientalista) se encarregaram de difundir, propositalmente, que o empreendimento fica na foz do rio Amazonas, deixando o resto do mundo preocupado.

Se a existência de petróleo fosse confirmada, a estatal pediria a licença de operação para produção. Mas, ao dizer não, o Ibama deixa claro que não quer nem ouvir falar de petróleo e uma nova matriz econômica no Norte do Brasil. Leia-se: “Dane-se a economia da Amazônia”.

Vamos nos contentar em sermos coletores de castanha, açaí, produtores de farinha e de peixe (boa parte vai para o sul do Brasil, sem deixar nada no Amapá). Vamos nos contentar com a economia do contracheque.

No Norte, apenas o Amazonas, com a Zona Franca de Manaus, consegue ser industrializado e ter uma economia diferenciada. Aliás, no estado do Amazonas, a Petrobras também explora petróleo e gás sem nenhum histórico de acidentes ambientais há quase 40 anos.

Na Guiana, região é vista como nova potencial mundial

Ao dizer não, o Ibama e o governo Lula tiram do Amapá o direito de pelo menos saber se existe mesmo por aqui uma reserva capaz de produzir 1,1 milhão por dia como aposta a Petrobras. É quase a mesma quantidade que sai dos campos de Tupi (SP) e Búzios (RJ), os maiores produtores do Brasil.

Ao dizer não ao petróleo no Amapá, não receberemos nenhuma compensação econômica, como aconteceu com a criação do Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, com a Renca (Reserva do Cobre e Ouro) e tantas outras unidades de conservação que impedem qualquer atividade mineral e industrial em terras tucujus.

Ao receber o NÃO, o Amapá continua olhando para o horizonte, vendo os navios passarem.  

Seles Nafes
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