Luz para Todos atendeu casas de veraneio, diz PF

Os dois contratos de obras do Luz para Todos em investigação visaram levar energia para 6.456 domicílios de 12 municípios do Amapá.
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Da REDAÇÃO

Agentes da Polícia Federal cumpriram, na manhã desta quarta-feira (3), 11 mandados de busca e apreensão, sendo 8 em Macapá, 2 em Salvador (BA) e 1 em Brasília (DF), em investigação que apura indícios de fraudes em contratos de R$ 80 mi do Programa Luz para Todos no Amapá.

A ação policial, chamada de Operação Luz para Poucos, investiga crimes de direcionamento de licitações, superfaturamento, associação criminosa, falsidade ideológica e peculato. O Programa Luz para Todos, do Governo Federal, leva energia elétrica com tarifa social a famílias de baixa renda.

As ordens de busca e apreensão foram cumpridas em endereços ligados a fiscais do contrato, coordenadores do programa, empregados da Eletronorte e sócios-responsáveis pelas empresas envolvidas.

A investigação começou a partir de uma auditoria da Controladoria Geral da União (CGU) do Amapá, que apontou indícios de fraude em dois contratos celebrados em 2018 e 2019, que juntos soam quase R$ 80 milhões, para contratação de empresas em apoio à fiscalização de execução de obras de montagem de redes de distribuição rurais, que visaram levar energia para 6.456 domicílios de 12 municípios do Amapá.

Dentre as irregularidades, a investigação identificou antecipação irregular de pagamentos por material posto em obra: até julho de 2021, de 19.652 postes disponibilizados, apenas 10.680 foram equipados e instalados, restando 9.012 postes sem aplicação na obra, o que representou um montante de R$ 4,8 mi de pagamento antecipado de forma irregular.

Gastos em desacordo com as premissas e prioridades do programa foram ainda identificados pelo menos 127 casas de veraneio atendidas pela rede do Luz para Todos na localidade denominada Ariri, a 40 km de Macapá. Esses domicílios têm proprietários que não se enquadram no perfil social do programa.

De acordo com levantamento realizado em verificação no local e análise do projeto, foi possível estimar que foram gastos pelo menos R$ 960 mil, em desacordo com a finalidade do programa nessas casas de veraneio.

Obras são para levar eletricidade até famílias de baixa renda

Rede trifásica sem finalidade

Outro ponto com fortes indícios de irregularidades, segundo a PF, ocorreu no km-50, onde foram instalados 9 km de rede primária trifásica, na qual apenas uma das fases foi aproveitada, ficando as demais sem função. A operacionalização dessa instalação teria gerado um gasto de R$ 264 mil, sem qualquer finalidade, apontou a polícia.

Na localidade conhecida como Ramal do Prefeito foi constatada a instalação de 40 medidores sem conexão com a rede elétrica, portanto não energizados. Mesmo assim, na relação de obras, a referida localidade consta com todos os serviços concluídos.

Como consequência, os próprios moradores tiveram que fazer as ligações para terem energia elétrica em suas casas, o que ocorreu de forma precária e oferecendo riscos à integridade física das pessoas. O valor referente aos medidores instalados sem a necessária energização foi de R$ 36 mil.

Arqueólogos

O edital exigia profissionais de arqueologia, cujos custos fizeram parte da proposta da empresa, mesmo sem evidências de execução de atividades dessa natureza durante todo o empreendimento. Apurou-se a ocorrência de indícios de superfaturamento no valor de R$ 573 mil por pagamento sem a devida contraprestação dos serviços.

A investigação ainda apontou uma rede de distribuição rural não prevista nos projetos disponibilizados pela Eletronorte, com uma relação de 14 consumidores distintos, ou seja, a referida rede não fazia parte do objeto da licitação, nem consta em termos aditivos.

Na área há uma predominância de propriedades particulares de utilização eventual, constatado após visitas as residências e a maioria estarem fechadas, além de que, pelo menos 10 dos 14 consumidores, constantes da relação apresentada pela Eletronorte, terem endereços em zonas urbanas de Macapá e Santana. Destes, pelo menos 5 são servidores públicos, que não deveriam ser beneficiados pelo programa.

A investigação apontou que a execução dessa rede de distribuição, não prevista no projeto, beneficiou o irmão de um empregado da Eletronorte, que era responsável pelo acompanhamento do Programa Luz para Todos.

Seles Nafes
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