Por ANDRÉ SILVA
Da inexistência de tratamento para o pé torto congênito no sistema público de saúde do Amapá, surgiu uma iniciativa que tem salvado a qualidade de vida de dezenas de crianças que nascem com a deformidade no Amapá.
A ONG “Pezinhos Dourados” aplica uma técnica revolucionária, praticada por um ortopedista amapaense treinado com uma profissional que é referência no Brasil e no mundo.
Tudo começou quando Michele Oliveira buscou ajuda médica local e descobriu que não há tratamento pela rede pública para o problema que o filho dela trouxe ao nascer.
Ela, então, recorreu à rede particular. Lá, encontrou médicos motivados e implantar um tratamento inovador e eficaz no estado. A ideia foi amadurecendo, até que ela chamou mais mães que passavam pela mesma situação. Elas e médicos se uniram e criaram uma organização que ampara essas crianças.
“Conheci uma enfermeira que me disse que tinha o tratamento lá no Hospital de Emergência, mas era pouquíssimas crianças que poderiam ser atendidas e que ele [o tratamento] era muito doloroso. Falamos com o doutor Mauro Seco, que abraçou a ideia e nos falou da doutora Mônica, que é especialista em tratamento do pé torto congênito no Brasil e no mundo. Ela sugeriu que nós encaminhássemos médicos daqui para fazer o treinamento com ela de um método mais humanizado e eficaz, conhecido como ponseti”, explicou.
Ela explicou que chegou a fazer contato com três médicos para irem a São Paulo, para fazerem o treinamento com a doutora Mônica Paschoal Nogueira, mas apenas um médico topou o desafio, o ortopedista Roberto Dourado.
Ele explicou que o método consiste em manipulações e imobilizações seriadas do tendão de aquiles por meio de gesso. O nervo também recebe um corte para facilitar a correção dos pés. Após a correção é usada uma órtese para manter o resultado obtido e evitar que a deformidade retorne.
“Essa é uma fase muito importante, a redução da manutenção, que é a fase da órtese. A gente entra com uma botinha de couro com uma barra no meio que mantém a última posição do gesso. A criança fica usando essa botinha durante três meses. Só tira para fazer a higienização. Essa órtese é muito importante”, explicou o ortopedista.
Segundo ele, após quatro anos de aplicação deste método, o pé da criança fica perfeito. Dourado contou que esta é a melhor intervenção da atualidade para o problema. Antigamente, antes do ponseti, conta o médico, o método utilizado causava muita dor, cicatrizes e, por vezes, não alcançava o resultado desejado.
“O ponseti gera pés flexíveis, indolores e com uma boa estética”, garantiu.
O ortopedista ressaltou a doutora Mônica Paschoal Nogueira aprendeu a técnica nos Estados Unidos, onde foi criada pelo médico Ignacio Ponseti, na década de 1950.
Agora, Dourado tenta que o atendimento, hoje feito de forma improvisada em uma sala HE de Macapá, seja referenciado pelo SUS.
Ele e uma assistente, que faz os gessos, realizam tudo de forma gratuita. O custo é praticamente todo deles. Mas a intensão implantar o atendimento no Hospital Universitário, para torná-lo mais acessível à população e disponibilizá-lo em um ambiente mais apropriado.
“A gente começou a fazer o tratamento no nosso consultório particular, mas muitas pessoas não tinham condições para pagar. Como eu sou lotado no HE, eu encaminhei as pessoas para fazer lá. A associação é importante porque ela começou a organizar a agenda, estimular a mãe a fazer o tratamento. As mães diziam: ‘Deus quis que nascesse assim vai morrer assim’. Muita ignorância, infelizmente. A associação ajuda muito nesse sentido”, explicou Dourado.
A agente de saúde, Joaquina de Menezes, de 46 anos, da Comunidade de São Pedro do Caranã, no km-40 da BR-156, tem um filho de 5 anos que nasceu com a deformidade. Ela busca solução para a criança desde o nascimento. Começou o tratamento com uma médica local, mas a profissional foi embora do estado durante a pandemia de covid-19. Mas, por meio da ONG “Pezinhos Dourados”, Joaquina chegou até o Dr. Dourado.
“Graças a Deus, o doutor faz um excelente trabalho. Agradeço muito a ele, à Michele e à Márcia (quem faz o gesso), pelo apoio que vêm dando pra gente. Tenho fé que o meu filho, um dia, vai estar muito bem e correndo”.
Uma das dificuldades já está sendo vencida, que é o cuidado médico mediante a utilização do método. A outra é a compra das órteses – as botas que os pacientes precisam usar. Ela custa em média R$ 800 e nem todos têm condições de comprar.
Para ajudar a ONG a comprar essas botas e agendar atendimentos, o contato é (96) 98121-5127, falar com a Michele, presidente da instituição.