Por JONHWENE SILVA
O livro Igarapé do Lago: História e Memória, que registra de maneira cronológica e historiográfica, os acontecimentos que antecedem ao processo de formação da comunidade quilombola distrital do município de Santana, a 17 km de Macapá, foi lançado no último final de semana e já está disponível para aquisição.
A obra levou cerca de 30 anos para ser concluída. Os dados começaram a ser juntados desde quando o autor, o hoje professor e escritor José Maria Pereira Dias, tinha 19 anos.
Ele morou no local até os 10 anos, mas o visitava com frequência para ver parentes. Para o escrito, existiam muitas contradições nos livros de história sobre o vilarejo. Então, decidiu ir mais a fundo em pesquisas.
Um exemplo, está no processo de origem do quilombo, que teria ocorrido com a vinda da família Varela – donos de várias posses (terras) –, quando na verdade, estudos aprofundados indicam que o surgimento se deu com a chegada de negros bantos fugidos de Mazagão. E lá fundaram o Quilombo de Santa Bárbara.
O livro, que possui 110 páginas divididas em cinco capítulos, teve como base pesquisas orais e documentais do museu paraense Emílio Goeldi, Arquivo Público do Pará, Instituto de Terras do Pará, Jornal Pizonia e a Biblioteca Elcy Lacerda, em Macapá. Além disso, o autor ouviu cerca de 35 anciões da comunidade para confrontar informações.
“Meu pai me contava muitas histórias e, baseado nesses relatos, vi que existiam muitas contradições. Foi então que aos 19 anos comecei a escrever o livro que teve muitas fontes documentais e também relatos de anciões antigos da comunidade. Horas de conversas com esses pioneiros que serviram de base para esse livro”, enfatizou.
Curiosidade
Um dos fatos interessantes da pesquisa indica que o Igarapé do Lago foi a 6ª Circunscrição Judiciária do Amapá, quando ainda pertencia ao Grão Pará, em 1922, tendo como os primeiros oficiais (espécie de administradores do local), Raimundo Nonato Picanço, que era nascido no local, e João Batista de Azevedo Picanço, indicado pelo governo do Grão Pará.
Outro fato curioso, apontado através das pesquisas do autor, mostra que foram feitos estudos minerais na época, apontando que o Igarapé do Lago possuía a maior reserva de bauxita do Amapá, isto em meados de 1948, fato este nunca divulgado.
Religiosidade
O livro relata que a festa de Nossa Senhora de Piedade – tradicional evento do Igarapé do Lago – foi uma das primeiras manifestações e programações incluídas no calendário da então Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur), no ano de 1986.
Os estudos mostram que a localidade possui três festas religiosas que demonstram a fé cristã do povo local. A primeira é a do Divino Espirito Santo, padroeira da comunidade, quando ocorriam missas, rezas e corridas a cavalo.
A segunda é a de Nossa Senhora da Piedade, onde os negros bantos manifestam com mais fervor a negritude com o batuque tipicamente banto, ritos do dialeto africano e o batuque, que possuem características únicas do povo local.
E a terceira manifestação religiosa é a festa da Nossa Senhora da Conceição, onde o marabaixo surge de maneira mais fervorosa.
“As manifestações religiosas e suas festas mostram de maneira forte a negritude e cultura dos primeiros povos que moraram na comunidade. Todas as características, culturais, religiosos, econômicas e sociais, são contados no livro. Deixo minha contribuição como morador do Igarapé do Lago, esse berço de história e fé, do nosso Amapá”.
Com leitura leve, o Igarapé do Lago: História e Memória possui registros cronológicos do desenvolvimento econômico, social e religioso da comunidade. Torna-se a partir de agora, uma importante fonte de pesquisa para estudantes, pesquisadores e historiadores.
A obra também será lançada em Macapá, no dia 15 de julho. O livro pode ser adquirido NESTE LINK.