Por SELES NAFES, do Bailique
Viver em qualquer uma das mais de 30 comunidades do arquipélago do Bailique, região ribeirinha de Macapá, requer uma enorme dose de persistência e amor à região. Sem energia há mais de um mês, e com a água do mar cada vez mais presente no rio, a situação dos moradores chegou ao limite. Nos últimos dias, o governo do Estado enviou uma missão humanitária que amenizou o drama, pelo menos por enquanto.
Desde a última sexta-feira (23), técnicos do governo de quase todas as secretarias estão no Bailique entregando alimentos, caixas d’água, serviços médicos e até emitindo documentos. O socorro chegou de barco. Foram entregues mais de 1,8 mil cestas de alimentos para famílias que já tinham sido cadastradas.
Adriana Pereira, mãe de 5 filhos, aguardava ansiosa pela cesta dela.
“Sem energia, água salgada. Tá difícil. Sem energia a gente precisa salgar o peixe. Só temos energia das 18h às 22h30. É a pior crise de todos os anos”, explicou.
“Erosão já jogou muita casa. Os 15 anos que eu moro aqui nunca fizeram nada. Minha esperança é que agora vão fazer”, acrescentou Gracinei Almeida dos Santos, mãe de 3 filhos.
Só o Super Fácil, em apenas um dia, fez mais de 300 atendimentos para retirada de RG, CPF e Cartão do SUS.
“CPF e carteira do SUS são os mais buscados. Estamos programando voltar aqui ainda neste ano com o projeto Super Fácil das Águas, que será um barco todo equipado”, revelou Ivana Barros, representante do Super Fácil na ação.
Sem um cartório na região há muito tempo, foram emitidos com ajuda da Defensoria Pública do Estado (DPE) mais de 60 documentos tardios de nascimento, em um dia. Um dos moradores pediu a primeira certidão aos 64 anos e assinou o requerimento com o polegar.
“Temos crianças com várias idades, e até com oito dias. Estamos fazendo os levantamentos para ver as necessidades. Temos uma população muito grande, principalmente em comunidades afastados daqui”, comentou a defensora pública Adeguimar Loyola.
Também existe um esforço da Secretaria de Inclusão Social (Sims) para cadastrar as famílias em programas sociais.
Pediatras, clínicos e odontólogos foram levados. Equipes da Vigilância em Saúde aproveitaram para vacinar contra a covid-19 e gripe. Mas nem todos os moradores quiserem a imunização. Também houve cadastramento de produtores em programas de assistência rural.
Cerca de 20% da população atua na pesca, neste fim de semana puderam finalmente receber a carteirinha.
“Foram quase oito anos sem emissão de registros novos de pescadores artesanais. Em parceria com o governo estadual conseguimos fazer uma força tarefa e conseguimos emitir 300 novos registros”, informou Jorquean Nascimento, superintendente do Ministério da Pesca.
Fenômeno
Foram mapeadas áreas de risco. Livramento, Carneiro, Vila Macedônia, Progresso e Arraiol são as mais ameaças pelo fenômeno das terras caídas, erosão que derrubam não apenas árvores e barrancos inteiros dentro do rio, mas os postes de energia e obrigam os moradores a desmontar e recuar as casas.
Com o posteamento danificado, as linhas de distribuição foram afetadas.
“O estado atende 21 comunidades no Luz para Viver Melhor, que garante o óleo diesel dos geradores. Porém, as comunidades atendidas pelo linhão da Equatorial estão sem energia porque os postes caíram por causa do fenômeno das terras caídas”, explicou a secretária de Inclusão Social, Aline Gurgel.
“Sem energia é muito difícil acondicionar alimentos”, acrescentou.
Ontem (25), o governador Clécio Luís (SD) ia visitar a região com representantes do grupo Equatorial, mas o mal tempo fez eles voltarem de helicóptero duas vezes para o hangar do governo.
Outro fenômeno que atinge o Bailique em cheio é a invasão da água salgada do Oceano Atlântico. Para ajudar os moradores a estocar água da chuva e de poços (que ainda não foram afetados), a Caesa distribuiu 1,3 mil caixas d’água de 2 mil litros, cada.
O secretário de Mobilização, Dejalma do Espírito Santos, informou que Clécio Luís planeja sua primeira ida ao Bailique na condição de governador.
“Como prefeito ele estava aqui pelo menos duas vezes a cada seis meses”, recordou.