Por ANDRÉ SILVA
Familiares do sindicalista Leandro de Sousa Abreu, morto durante abordagem policial no dia 26 de maio, no Bairro do Muca, zona sul de Macapá, protestaram no final da tarde de segunda-feira (26), celeridade nas investigações. Ele era presidente do Sindicato dos Taxistas de Macapá (Sintaxi).
A manifestação aconteceu ao lado do estádio Zerão, na zona sul. O local é próximo da residência onde o trabalhador morava com a família. Além dos familiares do taxista, amigos e sindicalistas, estavam presentes os parentes do adolescente que foi baleado na mesma ação policial – e sobreviveu – e do taxista que dirigia o veículo no momento a abordagem, que também escapou.
Com balões brancos nas mãos e cartazes escritos “não vai cair no esquecimento” e “não existe confronto quando só um lado atira”, eles gritavam por justiça.
“Estamos aguardando o poder público dar uma resposta pra nós pela morte de um pai de família, de um trabalhador. De uma pessoa que nunca fez mal para ninguém. Eu sou mãe e choro dia e noite pela morte do meu filho. Eu peço justiça”, afirmou Nalda Marques, a mãe de Leandro.
ccccccccccccc. O momento era de muita emoção.
O inquérito
O delegado que conduz as investigações, Wellington Ferraz, da Delegacia de Homicídios da Policia Civil do Amapá, não deu muitos detalhes sobre o que já foi apurado nas investigações. Mas revelou que, durante o depoimento dos policiais, apenas o comandante da guarnição falou, os demais permaneceram calados.
Ele manteve a versão informada no relatório da ocorrência no dia do fato, mas também respondeu novas perguntas feitas pelo delegado. Segundo Ferraz, apenas o adolescente que sobreviveu a abordagem ainda não foi ouvido.
“Eles foram reinquiridos por mim, na presença da advogada deles, e aqui fiz novas perguntas. Ele respondeu, mas os demais ficaram em silêncio. A gente ainda tem um prazo para receber algum documento da Politec [Polícia Científica] e para concluir o inquérito. Por hora, ainda estamos investigando”, pontuou o delegado.
Versão da defesa
O advogado Marlon Melo, da assessoria jurídica do Sintaxi, anunciou que vai pedir às autoridades que providenciem a prisão preventiva dos policias. Ele sustenta a versão de que os militares alteraram a cena do crime e que uma das duas armas encontradas no carro não pertencia aos ocupantes do veículo.
Segundo ele, o taxista era colecionador, atirador e caçador (CAC), e resolveu levar a arma para se defender, caso o suposto ladrão estivesse armado.
A reportagem questionou sobre os fatos que levaram Leandro até aquele local e sobre estar mantendo alguém como refém.
O advogado respondeu que o taxista havia sido acionado por um familiar, um adolescente, seu sobrinho, para recuperar uma bicicleta, que havia sido furtada no dia anterior pelo suspeito que estava dentro do carro de Leandro usando tornozeleira eletrônica no momento da abordagem.
O suspeito, segundo Marlon Melo, também era adolescente, assim como o sobrinho de Leandro.
“Ele [Leandro] foi lá para dar esse apoio aos familiares. Chegando no local, eles fizeram uma nova revista no menor [suspeito do furto], que confirmou que o menor não estava armado, então, a única arma que havia no carro era a do Leandro”, afirmou.
Segundo o advogado, o adolescente infrator indicou onde estava a bicicleta. Todos, então – Leandro, o taxista que dirigia o carro, o sobrinho e o infrator – ficaram no carro aguardando, enquanto a esposa do suspeito entrou em uma área de ponte para buscar a bicicleta furtada. Foi neste momento que a polícia chegou ao local.
“No decorrer do caminho, o Leandro mudou de ideia e disse para o menor que iria entregar ele a polícia pelo crime de furto. A mulher do rapaz confirma que não houve agressão nenhuma contra ele. Apenas o imobilizaram e pediram a bicicleta. Ela desceu e foi buscar a bicicleta. Ela conta que quando estava voltando ouviu os tiros”, disse o advogado.
Melo pontuou que ao descer do carro, Leandro informou que era CAC e que estava armado. P defensor também afirmou que está de posse de um vídeo que mostra toda a dinâmica dos fatos e que só irá divulgar após o fim do inquérito.
Os policiais envolvidos no caso foram afastados do serviço ostensivo e cumprem expediente em funções administrativas.
Defesa
Charles e Dirce Bordalo são os advogados de defesa dos policiais envolvidos na ocorrência. Eles adiantaram que vão pedir a absolvição dos clientes alegando que agiram em legítima defesa. Ele defende que os policiais agiram mediante ameaça esboçada pelo taxista.
“Iremos provar que eles agiram dentro do estrito cumprimento do dever legal e depois em legítima defesa”, reforçou Charles Bordalo.