Por SELES NAFES
Nesta quinta-feira (13), o atropelamento que matou a missionária Josimara Oliveira Costa durante a Marcha para Jesus de 2022, completará 1 ano. Para a família da jovem, ficaram as lembranças da dedicação dela à evangelização e o desejo por justiça. O Portal SN teve acesso à investigação que correu em segredo de justiça, e revela agora o que alegaram os principais envolvidos na tragédia que abalou a maior manifestação evangélica do Amapá.
O acidente ocorreu no fim da tarde do dia 2 de julho, um domingo. Era o auge também da campanha eleitoral, o que acabou politizando o evento graças à presença maciça de candidatos.
Um vídeo mostrou o momento do acidente. Desgovernado, o trio elétrico do evento atropelou a jovem de 36 anos que carregava alegremente a Bandeira do Brasil. Momentos antes ela chegou a ser fotografada. Josimara foi levada em estado grave para o Hospital de Emergência de Macapá, onde resistiu por 10 dias.
Ela teve múltiplas fraturas na bacia, mutilação do órgão genital e infecção nos ferimentos. Passou por quatro cirurgias em duas semanas, e estava respirando com auxílio de aparelhos.
O inquérito, conduzido pela delegada de acidentes Josymaria Coelho, foi concluído em abril deste ano e indiciou duas pessoas: o motorista do trio, Sandro Carvalho dos Santos (por homicídio, omissão de socorro e falta de habilitação), e o dono do veículo, Adail Barriga Dias (pelas condições do veículo).
O que disseram os investigados
O coordenador da Marcha para Jesus, o pastor Mauro Fernando Parente de Oliveira, alegou que o evento tinha toda a estrutura de segurança, e classificou o acidente como uma “fatalidade” causada pela perda dos freios do trio elétrico. O coordenador informou ainda que o veículo pertence a um prestador de serviços contratado pela Secretaria de Cultura do Estado.
O motorista do trio foi o técnico de som Sandro Carvalho dos Santos, que não era habilitado para dirigir caminhões e fugiu do local alegando medo de ser linchado. Ele contou que se voluntariou para conduzir o carro quando o motorista escalado para o serviço se ausentou. Sandro ainda percorreu a avenida FAB, rua Leopoldo Machado, até chegar à rua Jovino Dinoá.
No perímetro de declive, ele informou que engatou a primeira marcha e passou a apertar os freios para controlar a velocidade. No entanto, os freios apresentaram defeito. Em desespero, passou a bater na porta para indicar que o carro estava sem freio.
O gesto teria sido percebido por seguranças que passaram a gritar e a pedir que pessoas saíssem da frente. Sandro alegou que decidiu direcionar o trio elétrico para a esquerda, onde havia menos pedestres.
Um dos seguranças teria chegado a empurrar Josimara, mas a Bandeira Brasileira que ela vestia teria engatado num dos pneus, segundo a versão que contou à polícia.
O empresário Adail Júnior (Status Produções) disse que seu irmão tinha sido escalado para o serviço, mas ele desapareceu do local de concentração, a Praça da Bandeira. E que só depois teria tomado conhecimento que o técnico de som havia se voluntariado a conduzir o caminhão diante da pressão das pessoas para que a Marcha fosse iniciada.
O irmão de Adail (motorista escalado) Edson Barriga Dias, declarou à polícia que não dirigiu naquele dia porque estava dando assistência ao filho, e que o trio elétrico estava em condições de uso. Ele afirmou que não observou qualquer problema mecânico no veículo na Praça da Bandeira, local de concentração do evento.
Adail Barriga Dias, dono do trio elétrico, alegou que o caminhão estava apenas enferrujado, mas que tinha todos os itens de segurança. No entanto, admitiu que o mangote do freio estourou, avaliando que isso só ocorreu porque o veículo ficou muito tempo parado no declive (ladeira).
Diretor de eventos da Secult, Adalberto Castelo confirmou que a empresa Status Produções era prestadora de serviços. No início do depoimento, ele chegou a afirmar que tinha emitido uma ordem de serviço, mas depois voltou atrás e assegurou que não tinha contratado o trio elétrico.
Perícia
A Polícia Técnica do Amapá emitiu um laudo apontando várias irregularidades no veículo. O último licenciamento ocorreu em 2008, e ele estava com as características alteradas.
Além disso, a fiação elétrica estava em condições precárias, não havia pedal de aceleração (gambiarra) e que havia indícios de que os fluídos dos freios precisavam ser repostos durante o funcionamento do caminhão. O laudo concluiu que o veículo não tinha condições de trafegabilidade.
O Portal SN procurou a família de Josimara. Ainda muito abalada, Maria Raimunda Oliveira Costa, a mãe da missionária, revelou qual a principal recordação ela guarda da filha.
“São várias, mas a mais presente era a disposição, a coragem e a dedicação que ela tinha pela obra do Senhor, o Deus que ela servia. Eu acredito na justiça”, resumiu.
O inquérito foi encaminhado ao Ministério Público em maio, mas o processo foi suspenso a pedido da promotoria até o próximo dia 20 de julho. A data é o prazo final para que a promotoria ofereça ou não denúncia contra os envolvidos.
Apesar de o inquérito ter indiciado apenas o técnico de som que dirigia o trio, o MP pode denunciar outros envolvidos.