Por GUTEMBERG DE VILHENA SILVA, doutor em geografia e professor do curso de Relações Internacionais da UNIFAP
Em um encontro de alto nível, Brasil e França se reuniram para discutir vários desafios que permeiam a fronteira de 730 km que compartilham em plena Amazônia. Com a iminência da COP 30 nesta região em 2025, a mais importante reunião mundial sobre mudanças climáticas, os países aproveitaram os dois dias intensos de discussões, entre 3 e 4 de julho, para abordar questões cruciais nessa região estratégica.
A XII Comissão Mista Transfronteiriça (XII CMT) se tornou um marco histórico, reforçando pontos vitais para as relações bilaterais.
Questões como migração e pesca ilegais, segurança internacional, contaminação ambiental causada pelo uso de mercúrio nos garimpos e a flexibilização do visto para brasileiros e franceses que desejam empreender mais, pesquisadores que buscam fortalecer a cooperação científica e turistas desmotivados pelas restrições de visto para entrada na Guiana Francesa foram pontos de fricção durante a reunião.
Temas convergentes, como o fortalecimento da cooperação policial, iniciativas ambientais e controle sanitário e epidemiológico, e a cooperação cultural aproximaram ainda mais Brasil e França durante o encontro.
Após quase um século de isolamento-afastamento (1900-1995), a relação transfronteiriça passou por mudanças significativas entre 1996 e 2010, com a possibilidade de acordos subnacionais e o estabelecimento de ações concretas de cooperação a partir do acordo quadro de cooperação entre Brasil e França.
Agora, no contexto pós pandemia, a gestão do presidente Lula III, com sua política multilateral e abordagem proativa nas relações com a França, aliada ao mandato do governador Clécio Luís no Amapá, que compreende os desafios enfrentados pela região, e a gestão do presidente da Coletividade Territorial da Guiana, Gabriel Serville, criaram uma base sólida e robusta para ampliar e fortalecer os laços de cooperação.
Durante o evento, o autor deste texto teve a oportunidade de destacar a importância da pesquisa para a cooperação transfronteiriça, enfatizando a necessidade de fortalecer uma cultura de inovação por meio do estabelecimento de um ecossistema de pesquisa e desenvolvimento que incentive a experimentação e a transdisciplinaridade (https://youtu.be/iizmuoz3qE4).
Por fim, para facilitar a pesquisa colaborativa, é necessário apoio de alto nível das instituições participantes.
Gutemberg de Vilhena Silva,
Universidade Federal do Amapá