Por CAROLINA MACHADO
A Polícia Civil do Pará começou a desvendar o desaparecimento de três pescadores paraenses que fizeram contato pela última vez seis dias atrás, quando estavam na costa do Amapá.
A investigação trata o caso como latrocínio tentado, que teria sido premeditado e cometido por parte de quatro tripulantes contra os outros três, com a intenção de roubar a carga pescada e outros objetos de valor da embarcação, que partiu de Abaetetuba (PA) no dia 23 de junho, levando sete homens. Dois dos suspeitos já foram presos.
O último contato dos desaparecidos foi no dia 4 de julho, quando avisaram que estavam pescando entre o distrito do Cassiporé (AP) e o município de Calçoene (AP), região norte do estado amapaense. Nos dias seguintes, pescadores começaram a perguntar pelos colegas de profissão na cidade de Calçoene (AP), que devido à sua localização geográfica funciona como um entreposto de reabastecimento para pescadores que vêm à costa do Amapá.
O mistério do sumiço das vítimas começou a se desenrolar quando a embarcação denominada Comandante Miller foi achada abandonada no litoral da cidade de Salinópolis (PA), na última quinta-feira (6).
Assim que o dono do barco pesqueiro tomou conhecimento, procurou a polícia. Ele contou que além de toda a tripulação de sete pessoas, também não estavam na embarcação o material de pesca, o combustível e os alimentos suficientes para algumas semanas. Mas, havia sinais de que o porão tinha transportado pescado.
Não demorou para a polícia descobrir que a embarcação havia chegado a cidade com quatro ocupantes, que passaram a vender os peixes e o grude – como é conhecida a bexiga natatória de espécies como gurijuba e pescada amarela, nativos da costa amapaense. O item tem alto valor comercial como ingrediente culinário de grande apreciação gastronômica e composição química que o torna matéria prima para uma supercola de grande adesão e impermeabilidade, comumente usada na indústria espacial.
O proprietário do barco também contou à polícia que contratou apenas três pescadores: os irmãos Mateus Maués (encarregado) e Marcos Maués (pescador), e Romário Cavalheiro de Barros (pescador).
Entretanto, o encarregado avisou que precisaria de mais pessoas para conseguir pescar uma boa quantidade. Assim, após sair de Abaetetuba (PA), eles ancoraram no município de Vigia (PA), onde Mateus conversou com um conhecido, que lhe indicou seu enteado – um adolescente de 17 anos – e mais três homens para participar da empreitada em alto mar. Os sete envolvidos, então, embarcaram na viagem que terminaria em um crime de extrema violência.
Em conversa com pescadores de Salinópolis, investigadores ouviram o nome do adolescente, que estava entre os que venderam a mercadoria do Comandante Miller. A polícia logo juntou as peças do quebra-cabeça e saiu à caça dos quatro tripulantes que haviam embarcado em Vigia (PA).
O primeiro a ser preso foi Gilberto do Nascimento Silva, em Icoaraci, na Região Metropolitana de Belém (PA), no sábado (8). O acusado confessou que na noite do dia 4, ele e os outros três amigos atacaram Mateus, Marcos e Romário, enquanto dormiam em redes na embarcação, ancorada próximo de Calçoene (AP).
Segundo a polícia, Gilberto relatou que, num ato de desespero, os três feridos, mesmo esfaqueados, pularam do barco em alto mar e não foram mais vistos. Em seguida, os acusados navegaram até o porto da praia de Salinas e lá venderam os peixes e grudes, que lhes renderam R$ 19 mil. Eles, então, dividiram o dinheiro e se separaram.
Ainda no sábado, os policiais conseguiram prender João Victor Sousa da Silva, o Quadrado, na cidade de Bragança (PA). Ele também confessou participação e contou a mesma versão que Gilberto. A polícia agora procura pelo adolescente e por Kellyton Moreira dos Anjos. Quem investigou o caso foi a equipe da Delegacia de Vigia (PA).
Corpo encontrado
Também no sábado, um grupo de pescadores encontrou um corpo entre as comunidades de Vila Cunani e Pau Branco, nas proximidades do município de Calçoene (AP). Inicialmente, ele seria de Romário Cavalheiro Barros.
Contudo, em contato com a Polícia Científica do Amapá, o Portal SelesNafes.com apurou que o cadáver continua, oficialmente, como desconhecido, pois não foi possível fazer a identificação através das impressões digitais, danificadas pelo tempo na água.
Até a manhã desta segunda-feira (10), não houve registro sobre o paradeiro dos outros dois pescadores que se jogaram no mar para fugir dos assassinos.