Por IAGO FONSECA
O local onde, por muitos anos, foi ponto de esperança e motivação para muitos trabalhadores amapaenses, se tornou uma espécie elefante branco no coração de Macapá.
O prédio do Sine, localizado na rua General Rondon, em frente à Praça Floriano Peixoto, criava filas quilométricas todas as manhãs, logo quando o sol nascia. Abandonado desde 2021, o imóvel se tornou um centro de criminalidade e consumo de drogas.
Segundo moradores próximos, o abandono do local, tão bem localizado na área central da cidade, se tornou uma porta de entrada para assaltos e até mesmo atos obscenos. O esvaziamento da praça durante a noite também é consequência da falta de vigilância e policiamento.
“O local está infestado de ratos e insetos, principalmente mosquitos, que se proliferam devido ao transbordamento de água na cisterna do prédio e nos pneus velhos que foram jogados no local”, diz o arquiteto Raimundo Lopes Filho, de 47 anos.
Raimundo vive uma situação inusitada: ele mora no centro do quarteirão, entre uma esquina abandonado, onde antes havia uma casa, e o antigo Sine, além de um terreno sem uso de uma empreiteira. Para o arquiteto, ter imóveis abandonados ao seu redor é negativo, faz com que as pessoas evitem passear na praça, prejudicando até o comércio de alimentos e o turismo.
A praça também é motivo de preocupação para quem vive na região. Para uma reportagem, uma moradora anônima revelou que a vigilância na praça, tanto na guarita quanto no prédio do Sine, é inexistente.
“A praça só tem vigilância quando vai acontecer algum evento nela ou, às vezes, nas próximas. Quando reclamamos, eles aparecem por uma ou duas semanas, mas depois não temos a quem continuam”, conta a fonte.
A questão dos assaltos na vizinhança é endêmica. Um ex-morador, que teve sua casa roubada duas vezes, declarou ao portal que já confrontou se apoiou sozinho dentro de sua casa. Uma casa, atualmente à venda na avenida Henrique Galúcio, teve sua família rendida e seus bens furtados, segundo os vizinhos. Há menos de um mês, no dia 29 de junho, a apenas 400 metros da praça, o paulista Filipe Braz foi morto ao reagir a um assalto na avenida.
“Entramos em contato com a polícia e eles não fazem nada, porque os criminosos se escondem no Sine e os aguardam não entre”, expôs.
A responsabilidade das autoridades em relação ao patrimônio público é um pedido unânime entre os moradores das ruas adjacentes, que, prejudicados pelas esquinas atendidas, mantiveram um grupo virtual para comunicação e vigilância pessoal. O cheiro das drogas e do lixo incomodam quem passa, segundo Gilvando de Brito, professor de 63 anos.
“Eles (os bandidos) invadem as casas dos moradores da redondeza para roubar, abordam as pessoas que passam pela frente ou as que fazem caminhada pela Praça Floriano Peixoto, ateiam fogo no lixo, o cheiro das drogas que usam é incômodo, praticam sexo na sacada do prédio, (…) já depredaram o prédio, levaram a fiação, janelas e portas”, conta Gilvando.
O portal SN.com apurou há 2 anos casos semelhantes, onde o abandono de residências e prédios comerciais causaram transtornos e perigo para a população. Os problemas causados por essas negligências urbanas vão desde prejuízos à saúde e à segurança até danos ao patrimônio público e privado.
Em Macapá, muitas casas e lotes permanecem vazios por muito tempo até serem comprados por empreiteiras para a construção de grandes edifícios. O processo de desenvolvimento da capital incentiva a verticalização, o que não permite que todos acompanhem.
O Sine, abreviação de Sistema Nacional de Emprego, começou a funcionar no local na década de 1980, há cerca de 40 anos. Em janeiro de 2021, durante a pandemia de Covid-19, a construção teve a fiação de cobre furtada, impossibilitando o uso da rede elétrica interna. Atualmente, os serviços funcionam na Casa do Trabalhador, no bairro Santa Rita, a 3 km da antiga sede.
Propriedade do governo estadual, a edificação é de responsabilidade da Secretaria do Trabalho e Empreendedorismo. A Secretaria Municipal de Habitação e Ordenamento Urbano notificou a Sete para proceder à limpeza e manutenção do lote. O processo contra o lote foi finalizado após a conclusão dos serviços, de acordo com a Semhou.
Gabriel Silva, gerente do Sine, informou que foi realizada a vistoria do prédio e a elaboração de um relatório técnico pela Secretaria de Infraestrutura para dar início ao projeto de revitalização. O gerente afirma que “há esforços para reunir recursos financeiros com parlamentares para tomar o espaço”.