Por SELES NAFES
Se perguntarem a algum “concurseiro” quem é o professor João Everton Baia de Araújo, de 34 anos, com certeza a resposta será uma negativa. Mas, se ele for identificado como Professor Jhon, aí o reconhecimento será instantâneo.
Depois de um período no serviço público, o Professor Jhon voltou às salas dos cursinhos do Amapá com força total, o mesmo dinamismo e a facilidade para revelar os caminhos mais curtos da Língua Portuguesa e da temida Redação, que para muitos é o “bicho-papão” dos concursos e do Enem.
Em entrevista ao Portal SN, o Professor Jhon falou de suas origens como professor, da diferença entre ensinar numa escola convencional e num cursinho, e sobre a polêmica “linguagem não-binária”. Jhon é formado em Direito e Letras.
Como começou a sua relação com a sala de aula?
Fui criado pela minha avó. Ela sempre teve o sonho de ter um professor na família, assim acabei sendo o primeiro a ter nível superior. Vim de uma família muito pobre, mas pobre de dinheiro. As pessoas confundem ser pobre com ser humilde. Humildade é o contrário de arrogância, e pobreza é o contrário de riqueza. Existe pobre orgulhoso, e rico humilde (risos).
Qual o nome da sua avó?
Miriam Dias Baía
Como foi o início como professor?
Depois de me formar comecei nas séries iniciais em Santana. Fiz uma faculdade particular porque não tinha como me deslocar para Macapá todos os dias.
E como você chegou aos cursinhos?
Depois da educação infantil, fui para ensino médio e cheguei a dar aula em faculdade em curso de pós-graduação. Eu decidi abandonar esse emprego quando vi um anúncio do professor Ofirney (Sadala) que estava contratando professores. Eu nunca tinha dado aula para preparação de concurso público. Fiz uma entrevista e pedi uma oportunidade. Tive uma boa aceitação e fui ficando. Acredito que o Ofirney seja o maior concurseiro do Amapá. Acho que ele passou em todos os concursos.
Por que o professor de cursinho tem uma pegada diferente do professor convencional?
Eu, por exemplo, não ensino Língua Portuguesa, eu ensino a resolver questão de Língua Portuguesa. Não precisa saber a teoria de tudo. Há exceções, mas eu não preciso mostrar todos os fundamentos. Eu preciso preparar o aluno para chegar lá e resolver as questões.
Qual o primeiro passo nesse caminho para o professor?
Primeiro eu preciso estudar as bancas (realizadoras dos concursos), o perfil delas. Com isso, é possível saber o que vai cair, por exemplo, se aquela banca cobra mais regência, colocação pronominal, conjugação verbal, acentuação. Cada instituto tem um perfil (de elaborar prova), como a Fundação Carlos Chagas, a Getúlio Vagas, Inclusive realizará o concurso do TJAP, previsto para a segunda quinzena de outubro desse ano.
Identificar o perfil da banca ajuda a definir a aula?
Sim. Ajuda a repassar o conteúdo mais exato, mais assertivo, mastigado. A gente ensina a responder à questão treinando as respostas. Não adianta o professor encher o quadro. O candidato terá a base teórica mínima, suficiente para responder à questão. Estudar para concurso é lutar contra o relógio. O candidato tem um tempo curto, então tem que chegar preparado pra responder, e Língua Portuguesa tem a maior quantidade de questões, geralmente 10. Mas existe concurso que tem 12, 15, 25 questões de Português.
Em Redação, o que atrapalha mais: não ter técnica para escrever ou estar desinformado?
A maioria das pessoas sabe escrever, mas escrever não significa produzir conteúdo. Uma coisa é você escrever sobre a poluição, mas não saber como ela cresceu nas últimas décadas, de forma contextualizada e com dados atuais.
Então pra fazer uma redação é preciso ter uma visão amplificada desses assuntos
Exatamente. Quais os países que mais poluem? Quais são as ONGs mais atuantes? Existe um tipo de economia sustentável? Ou seja, não é só a poluição. Tem que incluir no texto as formas de produção que não poluem, não desmatam, ou seja, a pessoa precisa ter conhecimento. Fazer uma redação é fácil. Basta saber que tem 4 parágrafos, uma introdução, desenvolvimento e acabou. Mas a gente procura ensinar que o aluno precisa ter a chamada “bagagem de mundo”.
Como se adquire bagagem de mundo?
Lendo, assistindo conteúdo informativo, e principalmente ouvindo podcasts. Existe podcast sobre tudo. Até sobre linguagem não-binária. Você será capaz de discutir de igual para igual qualquer assunto.
Qual sua opinião sobre essa linguagem?
Tenho quase certeza que nenhum professor de Português é a favor. A palavra “todos” é um pronome indefinido, que não tem gênero. Dizer “bom dia a todos e a todas!” é uma redundância implantada por uma ideologia política. E o “todes” é outra ideologia criada para quem não é nenhum, nem outro. Tá errado. O todos já se refere a pessoas de modo geral.