Da REDAÇÃO
A Polícia Militar fez uma apreensão que pode ser a ponta do iceberg de um pesado esquema de extração ilegal – e possível contrabando – de minério no interior do Amapá.
Aproximadamente 2 toneladas do metal tantalita foram apreendidas na tarde de quarta-feira (22) por policiais do Batalhão Ambiental que participavam da operação Guardiões do Bioma, que ocorre em todo o estado.
Os militares abordaram a picape que transportava os 81 sacos com o minério próximo à entrada do Ramal do Paredão, no município de Ferreira Gomes, a cerca de 140 km de Macapá.
Segundo a sargento Simone, a equipe estava em deslocamento, de Ferreira Gomes para a cidade vizinha, Porto Grande, quando se deparou com a caminhonete parada no acostamento da BR-156, com problemas em uma das rodas.
Aos policiais, os dois ocupantes do veículo informaram que vinham do garimpo do Lourenço, no município de Calçoene, a 360 km de Macapá, transportando “materiais” para a sede de uma empresa na capital.
Debaixo da lona que cobria a carga, os militares descobriram a tantalita. Como documentação, os dois homens tinham apenas 3 notas fiscais de compra do produto, emitidas pela Cooperativa de Mineração do Lourenço (Coogal). Mas, isto não foi suficiente. Sem as devidas licenças para a extração e transporte, os dois homens receberam voz de prisão.
Suspeitas
Entre os presos está o chinês Chen Zhuobin, de 43 anos. Segundo a polícia, ele é funcionário de um negócio atacadista de produtos de extração mineral, joias e bijuterias, localizado no Bairro Marabaixo 1, na zona oeste de Macapá.
O Portal SN.com apurou que o empreendimento foi registrado com capital social de R$ 3,8 milhões, e tem como sócios um empresário chinês e uma outra empresa estrangeira, a Haipu Resources Limited, sediada na cidade de Kowloon, em Hong Kong.
Segundo a Receita Federal brasileira, a atividade da empresa honconguesa é sociedade de participação, geralmente com apoio financeiro às funções do empreendimento ao qual se associa.
O outro preso é o brasileiro Josivan Reis Araújo, de 32 anos, morador de Calçoene. Ele é o dono da picape modelo S-10 que transportava o minério ilegal.
Além do metal, a discreta caminhonete também carregava um quarteador de amostras de minério. A máquina é um dispositivo utilizado na mineração para – como o próprio nome sugere – dividir uma amostra em partes menores, conhecida como quartos. Essas subamostras vão para análises laboratoriais, testes de qualidade e outros fins. Elas podem indicar se o local de extração abriga uma grande jazida.
Uma balança eletrônica com capacidade para aferir até 300 kg também estava na carroceria da picape. Os policiais observaram, ainda, que o veículo estava adesivado com a marca de uma empresa que fornece maquinário para a atividade garimpeira no Amapá.
É comum ver, sobretudo na cidade de Macapá, carros de aplicativo com adesivos de propaganda desta empresa, que paga um valor mensal aos motoristas para os veículos circularem com a sua marca.
Chen e Josivan foram apresentados na Delegacia de Ferreira Gomes pelos crimes de natureza ambiental definidos no Art. 55 da Lei 9.605/98, que proíbe a extração de recursos minerais sem autorização, e Art. 2º, Parag. 1º da Lei 8.176/91, que considera crime contra a ordem econômica adquirir e transportar matéria prima pertencente à União sem autorização legal.
A polícia apreendeu os celulares dos dois envolvidos. Os aparelhos deverão ser enviados à perícia, caso a autoridade policial requeira à Justiça.
Tantalita
Composta por tântalo e nióbio, a tantalita é um mineral valorizado por suas propriedades elétricas, que permitem aplicações na indústria de componentes eletrônicos, como capacitores, resistores, circuitos integrados e dispositivos semicondutores.
Esses componentes são usados na fabricação de celulares, computadores, tablets e outros equipamentos eletrônicos.
Na medicina, os dispositivos produzidos com a tantalita permitem a fabricação de marca-passos cardíacos, por exemplo. Também há utilização desses componentes em aplicações aeroespaciais, em satélites e peças de aeronaves.