Por CAROLINA MACHADO
A trajetória de sucesso dos humoristas amapaenses Relson Cardoso e Joana Almeida, filho e mãe, iniciou ainda em 2018, quando o então eletricista e tecnólogo em Construção de Edifícios começou a produzir vídeos para impulsionar seus shows de stand-up. Tudo ainda era apenas um sonho. Mas foi em 2020, após a morte de seu pai, o senhor Raimundo Cardoso, que tudo mudou.
Dona Joana desenvolveu um quadro depressivo por conta do luto. Ao ver a situação da mãe e atendendo ao pedido do pai para que não a abandonasse, Relson Cardoso a incentivou a produzir vídeos de humor em casa todos os dias. Dona Joana, que dificilmente sentia alegria, voltou a sorrir.
Hoje, com mais de 300 mil seguidores, Relson Cardoso e dona Joana, que moram no município de Santana, a 17 quilômetros de Macapá, ganharam o reconhecimento do público de todos os cantos do Brasil com o carisma e humor irradiados nos vídeos.
O Portal SelesNafes.com conversou com essa bem-humorada dupla que brilha nas redes sociais com conteúdos autênticos e piadas de situações peculiares do Amapá e da Amazônia. Na cozinha da casa de dona Joana – um dos cenários prediletos para as gravações – eles receberam a reportagem para um café e um bate-papo muito divertido e revelador. Acompanhe a entrevista:
Quando vocês começaram a produzir esses vídeos?
Eu já produzia há algum tempo com alguns amigos, já gravava conteúdo para a internet e já fazia stand up há 5 anos atrás e comecei a gravar vez ou outra para a internet. Eu tinha o meu trabalho e tinha que conciliar tudo e aí eu comecei a gravar com meus amigos.
E quando foi em 2020 meu pai faleceu e perdemos uma grande referência que tínhamos e ele era companheiro há mais de 40 anos da minha mãe e estávamos muito mal devido ao luto e um dia cheguei aqui na casa dela convidei para gravar um vídeo e aí a gente gravou.
E como foi a partir daí?
Naquela época, ela estava passando por psicólogo e a psicóloga falou que ela deveria procurar alguma atividade para fazer que fugisse da rotina dela e que fosse totalmente diferente do que ela estava habituada a fazer. Só que eu não sabia disso. Então eu a convidei para gravar um vídeo e gostei muito do resultado.
Nessa época, como era a dona Joana?
A mamãe não sorria. Se fôssemos tirar uma foto com ela, ela tava o tempo todo séria. Eu pedia para ela sorrir nos vídeos. Quando ela sorriu, eu achei muito bonito o sorriso dela e eu vi que isso era uma maneira dela sorrir. Aí fomos fazendo vídeos, até que uma tarde ela disse assim pra mim: “Meu filho, a melhor parte do dia é a tarde, que é quando você vem pra cá pra casa e eu me divirto. Eu tô sorrindo… Por mais que depois eu volte a ficar triste, mas nesse momento eu tô me divertindo. Ela não sabia, mas não tava fazendo só bem pra ela. Pra mim também, porque eu também me divertia e me distraía com aquele momento. E eu pensei: ‘então é aqui que vai aliviar o nosso sofrimento e o nosso luto’. Então, começamos a gravar. De início, a resposta de visualizações não era tão grande, mas a gente estava mais preocupado em se divertir. Começamos a gravar mais e foi ficando cada vez melhor. Já aconteceu da gente não conseguir gravar tudo num único dia e eu voltava no dia seguinte para terminarmos. E foi assim.
Como são gravados os vídeos? São vocês mesmos que filmam e produzem tudo?
Em termos de apoio, a gente tem o meu cunhado, tem o Ronison, que faz o papel do delegado, a minha esposa ajuda quando a gente precisa e quando eu não estou em cena, eu gravo também. Mas agora quem tá gravando mais é o meu cunhado. Todo mundo ajuda de alguma maneira aqui. Eu faço a criação de roteiro, edição e dirijo as cenas.
Vocês gravam todos os dias?
Como começou os stand-ups e temos que escrever os textos, eu dei uma diminuída na quantidade de vídeos. Passamos uns 8 meses postando dois vídeos por dia e já chegamos a postar quatro. E hoje é um a cada dois dias. Mas eu tô sempre alimentando lá porque o pessoal cobra.
Em que momento que vocês perceberam o sucesso que estavam fazendo?
Foi esse ano quando fomos ao município de Cutias fazer uma presença vip. A gente subiu ao palco e quando a gente desceu, uma pessoa perguntou se a gente podia fazer umas fotos com algumas pessoas. Só que se formou uma fila enorme. Tinha uma banda de Belém se apresentando e pensamos que a fila era pra tirar fotos com eles, mas não. A fila era pra tirar foto comigo e com a minha mãe.
No que mudou a vida de vocês depois desse sucesso?
Ter o reconhecimento que foi muito grande e também hoje em dia a mamãe pode escolher o que ela pode comer. A primeira coisa que o pobre pensa quando começa a ganhar dinheiro é “posso comer o que eu quiser”. Pra nós, de família humilde, a primeira mudança que vemos é na nossa alimentação. E agora mudou. Já podemos ir a um restaurante quando queremos comer algo diferente. Pra mim, a principal mudança foi essa.
Além disso, os vídeos mudaram um quadro de depressão da dona Joana?
Sim. Ela estava bem ruim. Estava entregue. Depois que meu pai faleceu, a mamãe se entregou de uma maneira que se a gente não tivesse começado com esses vídeos, talvez eu tivesse perdido a mamãe também pelo quadro que ela estava de estar entregue, de não querer se alimentar. Então os vídeos e essa rotina de viajar ajudou muito não só a mamãe, mas como a mim também.
Quanto tempo dura a gravação de um vídeo?
Depende. As vezes chego com o roteiro pronto e as vezes dura uns 20 minutos. Mas as vezes leva à tarde toda porque o cachorro começa a latir… Eu tenho microfone de lapela, mas gosto de gravar sem ele para pegar um pouco o som do ambiente, o que fica mais natural.
Vocês se divertem na hora de produzir?
Sim. Os bastidores são mais divertidos que os vídeos. Já gravamos publi de um laboratório e a mamãe do nada fala no nome do laboratório concorrente. A gente caiu na gargalhada e quase não conseguimos voltar a nos concentrar. Mas é muito divertido. A interpretação da mamãe, a entrega dela no vídeo, as pessoas elogiam muito porque elas falam que fica muito natural. Nunca fizemos teatro, mas a gente tenta se virar do jeito que pode.
A trilha sonora do Bartô Galeno. Como foi para vocês escolherem?
Relson Cardoso: Eu queria criar uma identidade de uma trilha que quando tocasse o pessoal pensasse: “olha, essa música é dos vídeos do Relson Cardoso e da dona Joana”. E aí eu queria alguma coisa que me trouxesse algo bom. Como eu falei do meu pai, a música me lembra ele porque ele gostava muito de ouvir essas músicas do passado. Tinha muita referência do The Fevers, Bartô Galeno, Jomassan, Fernando Mendes, Reginaldo Rossi. E essa música do Bartô Galeno, eu me lembro que se eu escutasse, eu lembrava da época quando eu via o papai mexendo no som e ouvindo.
Aí eu falei “vou colocar isso daqui porque, em um vídeo”. Tinha uma situação que era o agiota que me perseguia, eu falei: “tem tudo a ver”. E aí eu fui colocando e, graças a Deus, deu certo.
E hoje as pessoas associam a vocês, né?
É, associam a gente. As pessoas já ouvem por aí e pensam até, inclusive, que é de nós dois a música. “Olha a música da Dona Joana”…
E agora, vocês já se mantêm com esses conteúdos aqui na internet?
Já. Eu tive que sair do meu trabalho porque já estava num momento difícil lá, porque já estava com muito atraso de salário, passava três meses sem receber, e o meu filho todo dia tinha que tomar remédio. Então, não posso me dar ao luxo de ficar sem o remédio dele… E aí começou a atrasar lá e começou a ser complicado. Eu tinha que me virar muito. Graças a Deus, a gente nunca passou fome, nunca faltou o remédio dele, nunca faltou a fralda pra ele. Mas, tava cada vez mais difícil. E aí eu vi na internet, quando começou a surgir o dinheiro da internet, eu comecei a ver que tava me bancando, bancando a mamãe mais do que o com o meu salário, que tava atrasando tanto. E aí eu saí de lá e resolvi apostar pra cá pra ver se dava certo. Graças a Deus tá dando mundo certo. Hoje em dia, a gente se mantém. Eu, no caso, mantenho a minha família e a mamãe mantém a família dela com o dinheiro da internet.
E quais são agora os planos de vocês para o futuro?
Como eu falei, o meu pai, ele fez um pedido pra mim três dias antes de falecer. Ele falou assim: “meu filho, não abandona a tua mãe”. E hoje eu entendo que a ferramenta pra que eu não abandonasse a minha mãe, eu entendi pelo qual ele falou, não só financeiramente, mas de estar perto, de estar junto, e eu entendo que a internet foi a ferramenta que eu pude, que eu estou usando para cumprir o que ele me pediu. Então, o meu plano é a gente se manter na internet, mas o meu plano é continuar trabalhando para que um dia eu possa dar uma casa boa do jeito que a dona Joana merece, uma casa boa para ela.
Dona Joana, por onde a senhora anda, as pessoas já lhe reconhecem. Como a senhora lida com isso?
Ah, eu acho muito bom quando as pessoas me reconhecem. Logo no começo foi muito difícil para mim, porque eu não sabia lidar, hoje eu sei um pouco lidar com o público. Eu já sei um pouco porque o meu filho fica ali e ele me inspira. Mas eu tenho que estar do lado dele, porque só eu não consigo. Logo no começo foi muito difícil, mas hoje eu já encaro. Eu falo pra ele quando a gente viaja que eu não viajo só por causa do dinheiro. Eu sei que o dinheiro ajuda, mas eu viajo assim porque, andando, conhecendo as coisas com ele, e a gente conhece muita coisa.