Família supera preconceito e sobrevive da venda de mangas há 8 anos

Dina, seu marido e irmão retornam às esquinas do Centro de Macapá de setembro a março para vender a fruta.
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Por IAGO FONSECA

Há oito anos, quem passa pela Rua General Rondon, próximo da Universidade Estadual e da Catedral de São José, com certeza já viu Dina Rodrigues e Mauro Gomes, os microempreendedores da manga na capital amapaense.

Faça chuva ou faça sol, o casal inicia mais um dia de trabalho no Centro de Macapá. Diferente dos restaurantes, escritórios e grandes lojas, eles não têm que ‘bater o ponto’. Na verdade, os bancos de uma pequena praça são a vitrine do produto que mantém seu sustento: a manga.

Enquanto Dina prepara o alimento, temperos e embalagens, Mauro colhe as frutas nas mangueiras do entorno.

“Não dá para a gente guardar dinheiro, mas todo dia a tarde temos o ‘franguinho’ da gente, a comida, o transporte e material. Moramos no Congós, então, todo dia temos que ter dinheiro para isso. Ainda tem gente que zomba, sabe? Vem aqui e diz que não temos trabalho, que não temos gasto nenhum”, revela Dina.

Mauro enche o carrinho para levar…

… ao ponto de venda na esquina. Fotos: Iago Fonseca

As críticas foram observadas pela reportagem quando Mauro apanhava frutas ao lado da catedral. Um homem, que também arrancava manga da árvore, teceu comentários negativos para o trabalhador, que ignorou e continuou a colheita.

O casal afirma que o trabalho garantiu os estudos da filha até o momento em que ela entrou na faculdade, com materiais escolares, transporte e alimentação.

“Foi com isso que paguei a educação da minha filha, que está se formando agora, graças a Deus. Será professora, mas ela já está trabalhando também agora de caixa em um supermercado. Aí a gente vai vivendo, né? O que tinha para pagar por mês, tudo que a escola pedia a gente tirava daqui. Desse trabalho aqui”, conta Dina.

Aos 48 anos, Dina conta que por muitas vezes pensou em desistir quando veio ao Amapá há uma década junto com o marido Mauro, de 50 anos. Foi em um momento sem trabalho e com fome, durante um inverno forte, que uma ideia clareou a cabeça de Mauro. Ele olhou para o asfalto, viu muitas mangas caídas e disse ao cunhado: “Bora vender manga?”.

“’Tu é doido, velho?’, meu irmão falou pro meu marido. A ideia veio mesmo de Deus, né? Aí, eles foram no comércio e compraram o pacotinho, a rede, a faca, sal e [pimenta] cominho. Sentaram no chão mesmo e começaram a descascar”, conta a esposa.

Trabalhadores dizem que algumas vezes são discriminados, mas …

… não ligam se seguem sobrevivendo há 8 anos

O trabalho permanece o mesmo desde então. Em um banco de madeira ficam as redinhas com 14 mangas colhidas, que não tocam o chão, a R$ 10. Enquanto em uma corda são expostas sacolas com cortes de manga em tiras e um pacote de tempero a R$ 7. O cliente escolhe entre o sal puro ou misturado com cominho.

De setembro a março, enquanto Dina e Mauro trabalham na esquina da Avenida Mendonça Furtado, o irmão assume o outro ponto, próximo da Ueap. Quando chove, se abrigam em uma tenda improvisada com lona, armada com apoio do muro de proteção da caixa d’água do Centro.

Hoje, a família centraliza as forças na venda da fruta e quando a safra acaba, vendem jambo ou fazem outros serviços por ‘bico’, de acordo com Mauro.

Quando chove, se abrigam em uma tenda improvisada com lona

Questionada sobre o futuro, Dina diz que não se vê fazendo outra coisa. Com problemas de saúde por causa de uma hérnia de disco, ela reforça que o apoio de pessoas boas os motiva a continuem o trabalho.

“Hoje em dia as pessoas vêm aqui e às vezes no ajudam, doam cestas e até oferecem outro trabalho, mas a gente continua aqui também. Eu sou mulher e estou trabalhando. Não estou roubando e isso é suficiente, tem muita gente fazendo coisa errada e a gente só está querendo trabalhar”, conclui Dina.

Seles Nafes
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