Por IAGO FONSECA
A pacata família do seu ‘Chumbada’ – operador de máquinas pesadas, muito conhecido no Bairro do Trem, na zona sul de Macapá –, viveu momentos de aflição ao ver a casa construída com o suor de muito trabalho ser consumida pelo fogo.
O trágico sinistro ocorreu na noite de sexta-feira de Carnaval (9). Agora, duas semanas depois, eles tentam reconstruir parte dos 53 anos de história no endereço.
O ‘Chumbada’, apelido do aposentado Raimundo da Silva, de 83 anos, e a esposa, dona Maria Esmeralda, de 76, compartilham uma vida tranquila e rotineira na região, junto com o filho mais velho, José Raimundo, de 58 anos.
Naquela sexta-feira, se preparavam para mais uma noite de repouso, quando um curto circuito em um ventilador virou suas vidas do avesso. Somente um guarda-roupa no quarto do casal não foi consumido totalmente pelas chamas.
“Nossa vida aqui era normal, tinha tudo que um pobre podia ter, só que agora estamos sem nada. Tenho uma vida de trabalho aqui, quando eu vim pra cá, isso era mata. Tinha uma casa aqui outra ali, eu cavava a vala e ela juntava a terra. Aí, o fogo vem e tira num minuto”, lamentou Chumbada, visivelmente emocionado.
O apelido surgiu anos atrás, quando Raimundo teve catapora e foi trabalhar em uma obra no aeroporto. Um chefe comparou os furos no rosto e corpo com ferimentos de tiro de chumbinho e, desde então, o aposentado passou a ser conhecido nas obras da cidade pela designação.
Chumbada trabalhou em diversas obras por municípios do Amapá. Foram muitos anos percorrendo as cidades e as mais longínquas localidades para ajudar a levar progresso à população interiorana. Ele jamais imaginaria que agora, com problemas de saúde relacionados à idade avançada, teria que iniciar mais uma construção, talvez a mais importante de sua vida.
Para a difícil empreitada, ele tem se apoiado em familiares e doações. Enquanto dormem na casa da filha, ele e Maria voltam todos os dias para o lar em pedaços.
A família iniciou a construção de um quarto nos fundos da casa, com apoio de doações financeiras e de materiais de construção. O que restou da casa queimada deverá ser demolido diante dos estragos. É perigoso aproveitar o pouco que ficou de pé.
“Eles (pai e filho) ficaram só com a roupa do corpo. Meu guarda-roupa ficou queimado por fora, mas por dentro ainda deu para salvar a minha roupa. Creio que nós vamos vencer de novo, apesar de a gente já ter essa idade. Vamos fechar essa parte que não pegou fogo para morar, é mais rápido”, explicou Maria.
Riane Vasconcelos, neta do casal, reforçou que apesar da perda do imóvel ter abalado os sentimentos dos avós, eles tentam manter as esperanças para reconstruir com a aposentadoria de Chumbada.
“Todos estavam na casa no momento do incêndio. Minha avó já sofre de depressão há anos e tem sido muito difícil pra todos nós, meu avô chora todos os dias, pois não sabe o que fazer pra reconstruir”, declarou Riane, cabisbaixa.
A família recebe doações de materiais de construção no endereço do ocorrido, na Avenida Ataíde Teive, entre as Ruas Jovino Dinoá e Odilardo Silva. Eles estimam R$ 50 mil para finalizar a construção. Doações financeiras podem ser feitas para a chave Pix 969119-4474 (Riane da Silva Vasconcelos).